É tempo de acelerar a digitalização porque o presencial nunca mais será o mesmo

As empresas de tecnologias, em relação as demais, certamente estão entre as que melhor vão conviver e muitas até vão lucrar com a pandemia do Coronavírus que obrigou o isolamento social e o fechamento do comércio em diferentes regiões brasileiras.

Santa Catarina, em proporção a área territorial e a população, abriga o maior polo de empresas inovadoras e de base tecnológica do país. São mais de 3 mil empresas, 6 mil sócios empreendedores e 50 mil funcionários. Essas empresas faturaram no último ano R$ 15 bilhões e representaram 5% do PIB, tudo que é produzido no estado catarinense.

De acordo com Daniel Leipnitz, presidente da Acate – Associação Catarinense de Tecnologia, ainda não é possível estimar o tamanho do impacto da pandemia. Ele aponta que o período de isolamento social acelerou os processos que envolvem trabalho de forma digital e remota, até com aumentos de produtividade. Por outro lado, as empresas que ainda relutavam em adotar estratégias digitais não poderão mais sobreviver sem esse recurso. Quando a crise amainar, acredita Leipnitz, as empresas que se reinventarem poderão sair fortalecidas, assim como o país como um todo, frente às mudanças na produção global.

Como o setor tecnológico está enfrentando esse momento crítico?

Daniel Leipnitz – Nós elaboramos um plano de ação no qual estamos trabalhando junto as empresas do setor, que contempla sete vértices, entre os quais as questões financeiras, trabalhistas, tributárias, de saúde emocional, de soluções para o combate a covid-19 e de negociação com fornecedores. Fomos impactados como toda a sociedade, alguns segmentos mais e outros menos. Por exemplo, empresas que trabalham com o varejo. O varejo está fechado. Empresas que trabalham em soluções para hotelaria, também foram muito afetadas. Mas existem muitos outros segmentos que também foram prejudicados de alguma forma. O de saúde, que trabalha com cirurgias eletivas, também foi afetado.

A crise comprometeu diretamente os empregos no setor ?

Muito, implicou em demissões sim. Não temos o número exato, mas foi muita gente sim, infelizmente. Muitas empresas estavam fazendo investimentos agressivos, de expansão. Ou seja, estavam com equipes trabalhando para mais vendas e mais crescimento. Com a situação do mercado de agora, muitos planos tiveram de ser revistos. Então tem aquelas demissões em empresas que tiveram que encolher devido a crise e ao faturamento, e muitas que tiveram que rever seus planos de expansão e demitir uma série de pessoas contratadas para isso.

Já se pensa em retomada?

Nós ainda não descobrimos o fundo do poço, então a expectativa ainda é pelo período de pico. Quando a gente puder visualizar o fundo do poço e ter uma visão do que aconteceu, aí conseguiremos começar a pensar o futuro novamente. Hoje está todo mundo na defensiva, vendo como sobreviver a esse período e se preparando para o depois.

Esse depois será muito diferente? Dá para se ter uma ideia de como vai reagir o mercado?

Isso vai depender do tempo em que ficaremos confinados. Mas algumas questões já podemos avaliar que vieram para ficar. Esse tempo está sendo um grande acelerador de questões de digitalização. Muita coisa que estava no papel, ou acontecendo de forma mais lenta, agora ganhou uma velocidade absurda. Desde as compras online até as plataformas digitais das empresas, onde quem tem coisa ruim não vai conseguir sobreviver. Tudo o que é relativo ao remoto, ao trabalho digital, em todos os segmentos, é algo que não tem escapatória e veio para ficar. Nunca mais a questão presencial vai ser o mesmo, no que tange aos negócios, isso terá uma redução de forma drástica.

Existe então uma boa perspectiva?

Daniel Leipnitz – Da mesma forma que há um risco, existe uma tremenda oportunidade. É Darwin puro, ou seja, adaptação e sobrevivência. Quem está comprando em uma loja online, e está sendo bem atendido, ou por delivery em um açougue, em uma peixaria, um supermercado, e por aí vai…dificilmente vai voltar 100% pro off-line. Se por um lado existem setores diminuindo e que não vão voltar ao normal depois da crise, a gente vê outro lado e uma outra cadeia, com tudo que se refere ao online, que irá crescer e contratar.

Já é possível estimar em quanto pode ser o impacto dessa desaceleração na participação do setor no PIB?

Ainda não dá para saber, vai depender da força da retomada, mas vai cair como nunca caiu. Vai deixar a crise de 1929 para trás. Eu acho que o estado está fazendo a parte dele, o governo federal está colocando o time na rua, mas infelizmente tem brigas políticas e oportunismo que infelizmente jogam contra.

A dependência de insumos importados, especialmente da China, pode afetar essa retomada ou veremos uma readequação?

Os países terão de repensar essa cadeia de suprimentos e a concentração num único lugar, até por questões de segurança. Será estratégico dominar todos os processos em cada um dos países, pelo menos nos mais robustos. Muitos desses insumos que eram terceirizados na China serão retomados de volta, até por segurança estratégica. Vai mudar a economia de forma forte e isso pode nos favorecer. Da mesma forma, questões relacionadas a segurança nas empresas também devem mudar, não só no just intime. Vai ser diferente, e haverá um estoque maior até pela questão da independência. Eu enxergo isso como uma mudança boa, os ovos não serão colocados numa mesma cesta. Isso vem a calhar com um movimento que já vinha acontecendo, olhando pela questão estratégica, de ter a produção mais próxima. Vai implicar em um redesenho e se nós como país soubermos aproveitar, seremos beneficiados.

 

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