Felicidade no trabalho é possível

Especialista aponta o caminho para alcançar a satisfação plena no ambiente corporativo

André Girotto é empresário, palestrante, escritor e reconhecido como um dos melhores formadores de líderes do país. Compartilha o conhecimento que acumula desde 2002 num recente livro lançado com o título “Framework da Liderança 10x: A nova era da liderança”.
Aos 18 anos fundou a Sport Moving, que se transformou numa rede de seis academias. Aos 24, se formou em Treinador de Líderes pela empresa global Dale Carregie Training. Aos 27, fundou a Netprofit Training que hoje conta com 27 unidades, com mais de mil empresas atendidas, 50 mil líderes treinados e 300 mil pessoas impactados pelos programas Netprofit.

EMPREENDEDOR – Qual a importância de criar um ambiente favorável no trabalho e ali se tornar mesmo um local de felicidade?
ANDRÉ –
Todos os grandes líderes se tornaram bem-sucedidos após entenderem, consciente ou inconscientemente, que a vantagem competitiva está no coletivo. A sabedoria e o aprendizado coletivo fornecem um modelo de negócios que é benéfico tanto no sentido material quanto no emocional. O equilíbrio entre desafio e competências, alinhado a um propósito e um ambiente que proporcione segurança, autonomia e colaboração, cria aspectos vitais de conexão do ser humano com o meio. Essa conexão faz com que nosso potencial seja de certa forma liberado com mais intensidade. Com isso, passamos a ter um ambiente muito mais criativo, inovador e propício a mudanças e resultados acima do normal.

Você aponta dois pilares da felicidade no trabalho. Quais são?

O primeiro pilar é alguém poder cumprir totalmente seu potencial na função que desempenha. Isso passa por dois processos. O processo de diferenciação envolve percebermos que somos indivíduos únicos, responsáveis por nossa própria sobrevivência e bem-estar, dispostos a desenvolver essa singularidade onde quer que ela nos leve, enquanto desfrutamos da expressão de nosso ser em ação. Já o processo de integração envolve a percepção de que, por mais únicos que sejamos, também estamos completamente envolvidos em redes de relacionamentos com outros seres humanos, com símbolos culturais e artefatos, bem como com o ambiente à nossa volta. Pode-se dizer que uma pessoa que está totalmente diferenciada e integrada torna-se um indivíduo completo. Por consequência, será a pessoa que tem a melhor chance de levar uma vida feliz, vital e significativa.

A felicidade então simplesmente acontece?
Pelo contrário, é algo que nós mesmo fazemos acontecer, resultado de nosso esforço máximo nesse sentido. Sentir-se realizado quando alcançamos nosso potencial é o que motiva a diferenciação e leva à evolução. A experiência da felicidade em ação é o resultado de nossos esforços e realizações. Às vezes, é necessária muita dedicação, e o mais importante é que quanto maior o desejo e maior o empenho, maior se torna a recompensa. A felicidade chega quando estamos por completo com um propósito claro, que realmente nos desafia a sermos melhores do que já somos e exige que estejamos presentes de corpo e alma, plenos, focados, sem medo de fazer o próximo movimento, convictos do que deve ser feito. Pouco a pouco percebemos o quão bem estamos realizando nosso trabalho. É então que sentimos a sensação de conexão, de plenitude.

Qual seria o segundo pilar?
O segundo pilar da felicidade é um estado que os estudiosos apelidaram de flow (fluxo, em português). Ele descreve a maestria máxima que alguém pode atingir. O ápice do ápice. Quando estamos conectados, concentrados, focados, confiantes. Isso faz toda a diferença. Não há distinção entre pensamento e ação, entre o eu e o ambiente. O importante é executar cada movimento da melhor forma possível.

O que é preciso para alguém se conectar com o “estado de fluxo”?
Vou relacionar quatro pontos – chaves:
• Objetivos claros: para que uma pessoa se envolva profundamente em qualquer atividade, é essencial que ela saiba precisamente quais tarefas deve realizar, momento a momento.
• Feedback imediato: é difícil para as pessoas se manterem engajadas em qualquer atividade a menos que recebam informações oportunas e “em tempo real” sobre o quão bem estão se saindo. A sensação de envolvimento total da experiência de fluxo deriva em grande parte do fato de que o que se faz importa, que têm consequências. O feedback pode vir do comentário de colegas ou supervisores sobre o desempenho, mas, preferivelmente, é a própria atividade que deve fornecer essa informação.
• Equilíbrio entre oportunidade e capacidade: é mais fácil se envolver completamente em uma tarefa se acreditarmos que ela é importante e está ao nosso alcance. Se parecer estar além de nossa capacidade, tendemos a ficar ansiosos; se a tarefa for muito fácil, ficamos entediados. Em ambos os casos, a atenção se desvia do que precisa ser realizado, a pessoa ansiosa fica distraída, e a entediada, também. Portanto, o equilíbrio entre a dificuldade da tarefa e nossa capacidade de realizá-la desempenha um papel crucial na experiência de fluxo.
• Concentração profunda: quando começamos a responder a uma atividade que possui objetivos claros e fornece feedback imediato, é provável que nos envolvamos nela, mesmo que a atividade em si não seja muito “importante”.

É longo então o caminho para chegar à felicidade no trabalho?

Sim. Ao somar todas as ações que relacionei, temos uma sensação de plenitude, de conexão presente, o que alguns estudiosos chamam de fluxo. Proporcionar isso para as pessoas também é papel de um líder.

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