O empresário Flávio Rocha, dono da Riachuelo e dirigente do Grupo Guararapes, o maior complexo empresarial do ramo têxtil da América Latina, admite que tomou a decisão mais difícil de sua vida ao tornar-se pré-candidato a presidência da República pelo PRB (Partido Republicano Brasileiro).
Com uma trajetória de sucesso, o comandante da gigante do varejo de moda no país tinha tudo para permanecer em uma posição cômoda no cenário nacional, comemorando o desempenho recorde de sua rede de lojas no ano que passou. Mas o chamado cívico, segundo ele, falou mais forte e Rocha afastou-se temporariamente do comando da Riachuelo para cruzar o país defendendo uma cartilha liberal, que prega a participação do Estado apenas em áreas consideradas cruciais, como saúde, segurança e educação, propondo uma abertura econômica que promova a atração de investimentos e geração de novos empregos. “Me sentia na suíte presidencial do Titanic, pouco antes do choque com o iceberg”, diz o milionário brasileiro que pretende comandar o país como se fosse uma empresa, onde tudo deve girar em torno das necessidades do consumidor final. Pouco antes de subir ao palco do seminário Marketing Mix, da ADVB/SC, em Florianópolis, Flávio Rocha falou com exclusividade para o Portal Empreendedor. Confira a entrevista.
Empreendedor – O senhor costuma falar que espera ver um novo país em 2022, o que podemos esperar das idéias políticas de Flávio Rocha?
Flávio Rocha – Quando falo do Brasil de 2022 faço uma referencia ao ano em que o Brasil completa 200 anos de independência, mas não de país livre. Porque hoje nós somos reféns de uma aristocracia burocrática, mais pesada, mais tirânica e opressora do que foi a coroa portuguesa de 200 anos atrás. Então é a hora do gigante despertar, pois 98% da população está adormecida, hibernando, enquanto a nova corte, essa aristocracia de 2% da população se apropriou do estado, deformando o seu propósito.
Temos hoje um estado brasileiro que atende a privilégios, e não ao papel de garantir saúde, educação, segurança pública. Então é um segundo grito de liberdade, despertar o gigante, os que pagam a conta da farra estatal e devolver o estado brasileiro aos seus reais donos, que é o povo. O Brasil está entre os países mais travados, e isso leva a uma hiper-regulação, uma asfixiante burocracia que nos coloca entre os países menos competitivos, quando deveríamos estar entre os mais competitivos. Por isso, nossa proposta para o primeiro ano de governo é fazer quatro reformas que vão nos colocar fora do pelotão dos países mais hostis ao investimento. Isso significa geração de milhões de empregos a curto prazo.
Empreendedor – O que o levou a optar pela candidatura a presidência da república?
Flávio Rocha – Sou pré-candidato pelo PRB e há 15 dias tomei a decisão mais difícil da minha vida, que foi a de abandonar a minha carreira empresarial no seu melhor momento, porque acredito nesse chamamento, que é a de criar uma alternativa política de centro, que nos liberte da ameaça dos extremos. Comemoramos 70 anos de Riachuelo e tivemos o melhor ano da nossa história, mas mesmo assim eu não podia conviver com a perspectiva de nos aproximarmos da decisão mais importante da história do Brasil e estarmos submetidos a optar entre dois extremos. A extrema esquerda, que devolve o Brasil à mesma quadrilha que devastou nossa economia e nos colocou na pior crise da história, e a extrema direita, com o desapreço a democracia, que nos remete a um período tão sórdido como foi a ditadura.
Empreendedor – Diminuir o tamanho do Estado pode significar mais eficiência?
Flávio Rocha – Acredito que sim, pois as pessoas que produzem, os empreendedores, os trabalhadores, nós que puxamos a carruagem, que somos 98% da população brasileira, temos a obrigação cívica de trazer novamente o Estado ao seu propósito de servir. Nós temos um Estado, mas não temos um Governo. Temos uma côrte, distante, lá em Brasília, que gasta 50% do esforço de produção brasileira nos seus privilégios. O Estado existe para servir, para garantir as funções onde ele é insubstituível, como educação, segurança pública e saúde, que hoje estão à mingua.
Empreendedor – O senhor acredita que pode ser considerado o fator novo nessa eleição?
Flávio Rocha – Sim, porque a velha política fracassou, a velha política é mantenedora dos privilégios . Governa voltada para as corporações que se apropriaram do Estado. O ensinamento que a livre empresa traz para a política é que a empresa bem sucedida é aquela focada no seu consumidor final. E o governo deve ser assim. Nós vemos situações onde não existe dinheiro para abastecer uma viatura policial, ou pessoas morrendo nos hospitais por falta de medicamentos mais essenciais, mas não atrasa o contracheque de funcionários públicos privilegiados, às vezes de até R$ 1 milhão.
Então a lógica que a iniciativa privada deve ensinar é a de devolver o Estado a seus verdadeiros patrões, que é o povo brasileiro, usuário dos serviços públicos. O conflito hoje, ao contrário do querem nos fazer crer, não é rico contra pobre, patrão contra empregado, negro contra branco, machistas contra feministas. O real conflito é a imensa maioria que produz, que sua a camisa, paga impostos, que puxa a carruagem versus essa minoria que se apropriou do Estado em benefício próprio e de seus privilégios.