Em qualquer época da história da humanidade, a inovação sempre foi e sempre será o fator maior na geração de riquezas. A avaliação é de Raimundo Martins, um dos palestrantes que percorre todo o país mais sintonizado com a inovação e o empreendedorismo. Autor do livro Percepção e Mudança, Martins atuou nas áreas de publicidade, varejo e planejamento tributário. Ele também produz e apresenta o programa Estado de Excelência que é um observatório de boas práticas empresariais exibido pela Record News Santa Catarina e também disponível no site estadodeexcelência.com.br.
Raimundo Martins prioriza os fatores de crescimento, evolução e sustentabilidade das empresas e tem contribuído para consolidar a cultura da inovação no ambiente empresarial brasileiro.
Nesta entrevista, ele aponta os desafios de conscientizar e incentivar o empresário brasileiro quanto à importância de inovar.
O que despertou seu interesse pelo tema Inovação?
Raimundo Martins: Quando comecei a atuar no mercado de palestras, há mais de 20 anos, os temas mais abordados pelos palestrantes na época eram, qualidade & produtividade; downsize; globalização e benchmarking. Todo mundo recomendava benchmarking, inclusive eu, que enfatizava nas palestras: “Segue o líder. Veja o que uma empresa líder está fazendo e faz igual. Não tem erro”.
Fiz isso até o dia em que conheci o professor de estratégia do Insead, Dominique Heau, quando estive na França fazendo uma reportagem para o programa Estado de Excelência. O Insead é uma das melhores escolas de negócios da Europa e fica localizado em Fontainebleau, a 40 minutos de Paris.
Na entrevista, pedi ao Prof. Dominique Heau pra falar sobre a importância do benchmarking. E ele disse: “Sim, o benchmarking é importante. É importante saber o que fazem as melhores empresas no seu campo de atuação. Mas você não deve se limitar a imitar essas empresas. Porque o mais importante é a inovação.” Aí caiu a ficha.
Por que as empresas devem inovar?
O conjunto de novas tecnologias que deu origem a 4.ª Revolução Industrial, que estamos embarcando agora, vai ter um impacto na sociedade muito maior do que tiveram o fogo e a eletricidade. Essa revolução, também chamada de Indústria 4.0, é caracterizada pela ultra conectividade, por conta da Internet das Coisas, da inteligência artificial, pelo uso do Big Data, pela nanotecnologia e impressão 3D. Temos agora máquinas falando com máquinas, sensores falando com sensores e a gente não sabe onde isso vai parar. Porque além de revolucionar os processos industriais, a Indústria 4.0 também vai revolucionar o mundo do trabalho. Portanto, nesse processo, é preciso inovar. Porque, mudando o antigo chavão, se você continuar fazendo as mesmas coisas do mesmo jeito que você vem fazendo até agora, você pode ficar fora do mercado. Há vários exemplos, basta olhar ao redor.
Quais são as características da Inovação?
A inovação pode ser incremental ou radical. Inovação Incremental é aquela que não modifica de forma expressiva o produto, mas agrega benefícios percebidos pelo consumidor. Um exemplo de inovação incremental é o aparelho de barbear. No começo, lembro bem, o aparelho de barbear tinha apenas uma lâmina. Bastava uma lâmina para cortar o pelo. Depois lançaram o aparelho de barbear com duas lâminas. A propaganda dizia assim: a primeira lâmina levanta o pelo, mas a segunda é a que corta o pelo. Depois lançaram o aparelho de barbear com 3, com 4 e até com 6 lâminas. Isso é uma inovação incremental. A Inovação Radical é o surgimento do novo. Muitos palestrantes gostam de citar como exemplos de inovação radical produtos e serviços do mundo digital. Prefiro citar exemplos históricos de inovação radical e vou começar com um exemplo que faz parte da minha história profissional, a comunicação.
“Diamonds Are Forever”. Eleito o melhor slogan do século XX, “Diamonds Are Forever” (“Diamantes São Para Sempre”) foi criado em 1944, por uma agência de publicidade, a N.W. Ayer, para a De Beers, a maior produtora de diamantes do mundo. Associar o diamante como algo que dura para sempre foi a grande sacada. Para os enamorados, o anel com diamante passou a ser símbolo de amor eterno. Em todos os cantos do mundo. A partir de então houve uma explosão de vendas de diamantes. Outro exemplo histórico de inovação radical, e que se tornou símbolo da ideia inovadora, é a lâmpada. A lâmpada não é uma vela melhorada. É uma inovação disruptiva. Quem criou a lâmpada? Thomas Edison, um cientista empreendedor. Ele soube transformar cada uma de suas inovações em negócios lucrativos. A lista é grande: além da lâmpada criou aparelho de raio-X, escova elétrica, ventilador, geladeira, máquina de escrever e até turbinas a jato. Estima-se que Thomas Edison tenha registrado 2.332 patentes em nome dele. E para comercializar suas inovações fundou dezenas de empresas, entre elas uma que se tornaria um dos maiores conglomerados do mundo: a General Eletric. Outra inovação, considerada perfeita, é a bicicleta. É a forma mais eficiente de propulsão não motorizada, depois de um pássaro voando. Quem criou o meio de transporte mais utilizado no mundo? Há controvérsias, mas alguns autores atribuem a Leonardo da Vinci a concepção do projeto de um veículo de duas rodas. Outros atribuem a criação da bicicleta ao chinês Lu Ban, há mais de 2.500 anos. O certo é que o Barão alemão Karl Friedrich Christian Ludwig Drais von Sauerbronn pode ser considerado o criador da bicicleta. Ele adaptou o guidão a um veículo de duas rodas ligadas por uma ponte de madeira em forma de cavalo, que se chamava celerífero, que foi desenvolvido pelo Conde Sivrac da França, em 1780.
Quem pode inovar e qual o primeiro passo?
A inovação está ao alcance de todos e o primeiro passo é definir qual o papel da inovação na estratégia de negócios da empresa. Quando mencionei exemplos históricos de inovação foi para mostrar que inovação vem de muito longe. E desde sempre tem gerado riquezas. Segundo, mostrar que inovação não é privilégio de empresa grande. Você pode inovar numa empresa de micro, pequeno e médio porte, e de qualquer ramo de atividade, seja ele comercial, industrial ou de serviço. Inovação está ao alcance de todos. E, terceiro, mostrar que inovação não é apenas a criação de um produto de grande complexidade tecnológica. Você pode inovar criando um produto que tenha complexidade tecnológica ou não, o importante é que dê resultados.
Além da criação de um novo produto, onde mais se pode inovar?
Se pode inovar nas práticas de negócios e no local de trabalho. Se pode inovar nos métodos de produção, distribuição e logísticas. Também se pode inovar no marketing, tanto nas promoções como no design do produto ou da embalagem. São diversas as possibilidades de inovação dentro da empresa.
Mas, não há riscos na inovação?
Fazer coisas novas ou fazer coisas que já estão sendo feitas de forma diferente pode abrigar algum tipo de risco, sim. Mas, o risco maior é não inovar. No mercado, você percebe claramente dois tipos de empresas: as inovadoras e as que estão desaparecendo. A velocidade com que as empresas que não inovam saem de cena é enorme. Inovar é o único caminho para a sobrevivência, para a competitividade e para o crescimento sustentável.
Como está o Brasil em relação à inovação?
É animador você acompanhar a cultura da inovação se consolidando no pensamento empresarial brasileiro. Até porque o Brasil ainda não se notabilizou no campo da inovação. No Índice Global de Inovação, o Brasil aparece na 69ª posição, numa lista de 143 países. Temos no Brasil um política de apoio a inovação, mas a falta de conhecimento dos mecanismos de incentivo fiscal e dos mecanismos de captação, aliados ao excesso de burocracia explicam, em grande parte, esse desempenho medíocre. Se alguém tem uma ideia inovadora e precisa de financiamento para pesquisa e desenvolvimento, há órgãos como o Ministério da Ciência e Tecnologia, a FINEP, o CNPQ, o BNDES, o SEBRAE e as Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa que podem disponibilizar recursos para financiar o seu projeto e ainda oferecer suporte tecnológico e gerencial.