O Sebrae se reinventa para atender aos pequenos empreendedores

Assim como diversos segmento da sociedade e da economia nacional, o Sebrae investiu todos os esforços para a aceleração de processos ligados a digitalização de conteúdos e atendimento online em tempos de pandemia. De acordo com Carlos Henrique Ramos Fonseca, diretor superintendente do Sebrae/SC, o trabalho de digitalização que estava previsto para ser realizado em um ano praticamente foi todo adiantado no período de quarentena e a partir de agora irá nortear boa parte dos procedimentos da entidade, já que os atendimentos presenciais ainda estão muito distantes de voltar à normalidade. Segundo Carlos Henrique Ramos, o Sebrae soube reinventar-se e atua fortemente em estratégias que contemplam a superação da crise e o fortalecimento das micro e pequenas empresas.

 Como o senhor avalia o impacto da crise sobre os pequenos negócios e como o Sebrae/SC vem atuando nesse momento?

A crise pegou a todos de surpresa e realmente os pequenos negócios foram os mais impactados, com perda de faturamento e fechamento de empresas. Mas nós desde o primeiro momento começamos a estruturar algumas estratégias de atuação do Sebrae. Criamos um comitê de crise, com a diretoria e áreas comercial, jurídica e de RH e definimos cinco pontos prioritários. Passamos do atendimento presencial ao 100% online, com atuação forte de nossos colaboradores e sem deixar nossos clientes desamparados. A grande vantagem nesse processo é que a transformação digital já estava definida como uma bandeira de nossa gestão, então já estávamos há mais de um ano trabalhando nisso. Mas é óbvio de que assim com outras instituições o fator surpresa fez com que agilizássemos em semanas o que vinha sendo estruturado ao longo de um ano. Também no atendimento, nosso time consultores online foram acessados e priorizamos todo um conteúdo digital, realizamos lives diárias e webinars, levando informação e conteúdo relevante para os micro e pequenos empreendedores.

São conteúdos que abordam processos para a superação da crise?

Exato, além do que produzimos aqui em Santa Catarina, conectamos conteúdos também com o Sebrae nacional e mantemos atendimentos por whatsapp e 0800 com especialistas, para não deixar de atender a demanda mais urgente de nossos clientes. Também priorizamos a parte de tradução, ou seja, traduzir as medidas provisórias, decretos e portarias que impactavam o pequeno negócio, em nível nacional, estadual e municipal. Interpretar tudo isso, inclusive no referente a linhas de crédito. Também adotamos uma estratégia de articular, com todas os segmentos do setor produtivo, como o Conselho das Federações Empresariais, e trabalhamos a nível nacional a estruturação do Fampe, que é o Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas, onde cada real investido alavanca em até 12 vezes as oportunidades de empréstimos às pequenas empresas. Nós sabemos que as pequenas empresas são as que tem maior dificuldade na obtenção de empréstimos, devido a falta de garantias ao sistema financeiro convencional. Também trabalhamos com o fundo que a Fiesc criou para arrecadar recursos visando aquisição de respiradores e equipamentos para o pessoal que trabalha na linha de frente da saúde, trabalhamos com o Movimento Reage SC, e com o Governador nesse sentido da retomada.

 

Como identificar os gargalos para poder adotar estratégias de superação da crise e junto as empresas?

A cada 15 dias realizamos pesquisas para entender como se comporta a atividade econômica de Santa Catarina, não só para medir perda de faturamento e índices de desemprego, mas também entender as necessidades mais urgentes. E tudo isso desagua em última estratégia que adotamos, que é a preparação para o pós-pandemia, com o surgimento de um novo mercado e esse “novo normal” que está vindo aí pela frente. Com novas atuações do nosso Sebraetec, por exemplo, ligado a consultorias online e serviços digitais. Percebemos que as empresas que já tinham essa transformação digital implantada ao negócio são as que estão sofrendo menos durante esse período.

Empreendedor – O que precisa ser fortalecido nesse primeiro momento?

Entendemos que mesmo durante a pandemia e depois, o crédito será fundamental. O capital de giro é fundamental para a sobrevivência das empresas, principalmente devido a perda de faturamento. Além do Fampe, que o Sebrae reestruturou em R$ 500 milhões, estamos trabalhando com a Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil e BRDE. O recém aprovado projeto de acesso a crédito para pequena empresa, do senador Jorginho Melo, também é fundamental e vai ajudar muito. Permite o aval da União, que garante 80% dos empréstimos sendo 20% para risco dos bancos. Isso vai gerar muito recurso para os pequenos. Esperamos só a sanção do presidente da república. Na área comercial o Sebrae negociou uma parceria com a Magazine Luiza, que disponibilizará sua plataforma de e-commerce para que as micro e pequenas empresas possam vender por ali.

O mercado vai mudar muito após essa crise?

Eu acredito que após a pandemia o sentimento nacional vai ser grande, não só aqui, mas no mundo inteiro. Nós já estamos vendo campanhas visando a compra de produtos nacionais, no bairro, do pequeno negócio. Não tenho dúvida também que a médio e longo prazo vai haver uma grande redistribuição da produção nacional. A concentração na China, em uma única região do mundo, da produção de máscaras, fármacos e respiradores é só um exemplo do muito que vai mudar. Também estamos lançando nas próximas semanas um grande programa de internacionalização para as micro e pequenas empresas catarinenses, em parceria com a Fiesc, voltado a preparação das nossas empresas para uma inserção na cadeia global de valor com esse novo cenário. Vamos fazer um trabalho forte nesse sentido.

É possível uma reversão da crise no médio e longo prazo?

Eu continuo sendo um grande otimista. Eu sei que o governo nessas últimas semanas deixou de lado um pouco a agenda de reformas estruturantes e visou mais as medidas emergenciais, com foco na população mais vulnerável. Mas eu acredito que no pós-crise, com o agravamento do desemprego, e independente de partido, a nossa classe política irá aprovar as reformas. Projetos importantes como a desregulamentação do setor de saneamento, e com isso iremos atrair muitos outros investimentos em infraestrutura, petróleo e gás, entre outros. Isso vai contribuir para a retomada da atividade econômica no Brasil. E aí o pequeno negócio continuará sendo o que mais gera emprego. Se está afetado agora, na retomada poderá mostrar sua agilidade e adaptação a novos cenários e realidades. Mas também é importante citar que temos a consciência de que a retomada será muito diferente dependendo do setor de atuação. Vimos que alguns setores foram menos impactados, como supermercados e toda a cadeia de fornecimento de alimentos e fármacos; e outros como turismo, eventos, economia criativa, cinema e teatro foram bem mais. Então, serão setores que vão demorar mais, porque o consumidor estará mais reticente.

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