O Brasil poderá superar a atual crise instalada com a pandemia do Coronavírus, caso deixe de lado as disputas políticas menores e aposte em uma estratégia de desenvolvimento industrial. A opinião é do presidente da Fiesc – Federação das Indústrias de Santa Catarina, Mario Cezar de Aguiar. Segundo ele, o país reúne todas as condições para voltar a crescer e retomar o nível de desenvolvimento e de empregos perdidos. Mas para isso será necessário destravar uma legislação que ainda sobrecarrega o setor produtivo, além de uma união nacional em torno do desenvolvimento. Confira, a seguir, a entrevista exclusiva com Mario Cezar de Aguiar.
Como retomar o desenvolvimento em meio à crise econômica e a insegurança derivada da instabilidade política?
Mario Cezar de Aguiar – A crise política nunca traz benefícios para a sociedade, mas acho que temos que agir preventivamente, buscando soluções para um problema que já é real, que é tudo que envolve a Covid-19 e que está dando um prejuízo enorme para a economia do país. Aqui em Santa Catarina, iremos fazer um encontro no início de maio, com várias lideranças empresariais, para que tenhamos essa visão de qual caminho cada setor deve tomar nos pós-pandemia. Faremos um grande seminário para entender esses caminhos, junto a lideranças reconhecidas, nosso conselho estratégico e convidados. Será uma ação preventiva para entender os rumos da economia tanto do Brasil como de Santa Catarina e identificar como o sistema Fiesc poderá participar na melhoria da situação econômica brasileira. Desde ações institucionais até a adequação de suas casas como Sesi e Senai para enfrentar as novas situações que certamente surgirão em função dessa pandemia.
Já é possível se ter uma ideia do impacto que a crise econômica pode ter sobre o PIB?
Devemos ter um PIB negativo neste ano, mas no ano que vem deve voltar crescimento, já que historicamente sempre crescemos acima da média nacional. Nós fizemos uma pesquisa aqui em Santa Catarina, que é um estado industrializado e que tinha a menor taxa de desemprego do Brasil. Estávamos com 5,7%, que é quase pleno emprego, mas após o período de isolamento, no primeiro mês tivemos 165 mil desempregados. Se nós considerarmos que tudo isso é uma cadeia que envolve serviços e comércio, o impacto é muito maior. A partir dessa pesquisa que fizemos com 740 indústrias estaduais em 129 municípios, chegamos a esse número bastante preocupante, já que a indústria antes da crise apresentava 756 mil empregos formais, sendo o setor que mais emprega formalmente no estado, representando 34% de todos os empregos. Mas sempre confiamos no empreendedorismo e na coragem do catarinense, que já aprendeu muito com adversidades como enchentes e planos econômicos anteriores. Por isso acreditamos que após o fim da pandemia sejamos os primeiros a sair da crise. Temos condições para isso, pois temos uma indústria diversificada e com uma participação importante no mercado internacional, além de vantagens que não se encontram em outros estados. Temos empresas genuinamente catarinenses, que na sua maioria não são multinacionais com filiais no estado, e uma quantidade de micro e pequenas empresas bem estabelecidas e fortes.
O que deve ser priorizado a partir de agora, especialmente pelo governo federal, para que essa situação seja revertida?
Nossa avaliação quanto a atuação do governo federal é positiva, a flexibilização da legislação trabalhista permitiu uma negociação entre empregadores e empregados e deu uma tranquilidade ao setor produtivo, também ações de crédito, com a Caixa Econômica Federal utilizando taxas atrativas. Evidentemente que só a Caixa não consegue atender a toda a demanda, precisaria aí de uma ação forte dos bancos privados, que também tem que participar desse momento difícil, com mais oferta de crédito a taxas atrativas, só que os bancos privados não estão agindo dessa maneira, o que é lamentável. O BNDES tem disponibilizado linhas de crédito para bancos estaduais de desenvolvimento. Em uma economia como a nossa, que tem a presença forte de micro e pequenas empresas, falta suporte econômico para colocar como garantia, então há de se trabalhar com fundos garantidores para dar crédito para os micro e pequenos empreendedores.
O senhor acredita que será possível reverter a queda nos empregos até o final do ano?
Eu sou otimista. E acho que essa crise pode gerar algumas vantagens para nosso estado, poderemos tirar proveito dessa situação ruim. Somos um estado organizado e um povo empreendedor, que poderá sair mais rapidamente dessa crise. Seria prematuro dizer que iremos recuperar a economia até o final do ano, não acredito nisso. Acho sim que a curva vai se reverter, e o Brasil poderá vir a crescer novamente. É um país produtor de alimentos, mas que precisa se industrializar mais.
Como chegar lá agora que os insumos internacionais também estão mais caros e disputados?
Temos que avaliar essa dependência que temos da manufatura chinesa, e aí foi um equívoco do mundo todo. Aqui nós temos que criar uma política industrial para nos fortalecer e então contratar mais, fazer a economia girar e criar um circulo virtuoso bastante importante. A sociedade, junto com o governo, tem que buscar essas condições. Mesmo com uma base depreciada por conta da queda do PIB, acredito que o ano que vem será um bom ano, com um sentido de crescimento para a curva.
Quais os gargalos que devem ser superados a partir de agora?
É preciso criar mecanismos para o desenvolvimento, e uma estabilidade política é fundamental para isso. O executivo, o judiciário e o legislativo junto à sociedade como um todo têm de trabalhar para construir um país que dê condições para nos desenvolvermos. Nossa legislação ainda é muito complexa e acaba agregando custos aos produtos ao invés de valor, da mesma forma tínhamos até pouco tempo atrás uma legislação trabalhista que era inibidora e penalizadora do sistema produtivo. Felizmente isso já deu uma boa revertida, mas ainda é preciso a melhoria da infraestrutura e outras reformas que nos deem condições de competitividade com países como os da Ásia, que têm vantagens que nós não temos. Existem ainda condições desiguais para a competitividade, mas somos um povo trabalhador e ordeiro e as situações difíceis pelas quais passamos nos dão condições de enfrentar a retomada. O importante agora é uma união nacional na busca do desenvolvimento, deixar para trás crises e brigas políticas, buscando a estabilidade e o que é de interesse da sociedade brasileira. Atender às necessidades do cidadão é fundamental. O estado tem de garantir a saúde, a segurança, o emprego, a renda, educação e moradia, isso são prerrogativas da cidadania. Precisamos de um estado dinâmico e em desenvolvimento, temos todas as condições para isso.