São muitas as incertezas que preocupam empresários para o próximo ano. Seja com os resultado das próximas eleições, conflitos internacionais ou possíveis manifestações para todos os lados, o empresariado teme que tudo possa respingar em seus negócios e causar algum tipo de prejuízo. Sim, há sinais de uma possível crise econômica noticiada pela imprensa, mas isso pode afetar alguns setores empresariais?
Para o professor de finanças da Fundação Dom Cabral (FDC), Marcelo Valério, este cenário já está afetando alguns setores como o imobiliário, da construção civil e o industrial (incluindo montadoras, autopeças e outros mais), que apontam queda. “Alguns dos sintomas são a queda nas vendas, o encarecimento do crédito e a taxa de juros crescente tanto para as empresas como para as pessoas físicas Em resumo, créditos mais escassos e caros podem sentir o efeito mais rápido desta retração”.
Como 2015 será um ano decisivo para alguns segmentos, Marcelo Valério sabe como uma empresa pode se preparar para o que pode acontecer: “O primeiro passo será um reajuste na economia brasileira. O novo Presidente da República, ou a reeleição da atual, terá que fazê-lo. O crescimento do PIB tem sido baixo, as taxas de juros estão elevadas e temos inflação a olhos vistos. A situação fiscal é a pior desde 1998” avalia Marcelo.
O professor reforça que este trabalho terá que ser feito pelo Governo, mas divide a conta com o setor privado: “Acredito que o trabalho será gradual. No caso das empresas, teremos que avaliar os setores, mas acho que alguns empresários já estão se adaptando ao novo cenário. Já sabem que acumular estoques é prejuízo, que o capital de giro é caro e ouros detalhes. Eu insisto na gestão de custos, na revisão dos processos e eficiência operacional e do seu planejamento estratégico. Acho que este é o melhor caminho. É hora de arrumar a ‘casa’ e fazer um ‘colchão’ de liquidez”.
Marcelo Valério diz que as empresas terão que trabalhar custos, processos e eficiência operacional no curto prazo. Para o especialista, estas premissas fazem parte da rotina das empresas, independente de crise ou não. “As empresas que não trabalham os seus custos, processos e eficiência operacional com certeza irão sofrer mais com este cenário, ou até mesmo estarem fora do ‘jogo’. Mas, para alguns segmentos, que já citei anteriormente, não irá bastar somente trabalhar nestes três pilares. Terão que efetuar uma readequação de estrutura de capital e, com isso, reduzir o grau de crescimento e evitar que entrem em recuperação judicial” explica Marcelo Valério, lembrando que alguns estudos mostram algumas empresas deste setor em recuperação judicial – e com uma grande possibilidade deste número aumentar.
Pensando lá na frente
Uma grande questão que atormenta os empresários é se, no longo prazo, existe como blindar uma empresa contra cenários adversos ou todas estão ligadas diretamente com o que acontece em todo o mundo? Na opinião de Marcelo Valério, as empresas estão ligadas diretamente aos cenários adversos, mas podem sim tentar minimizar este impacto.
“Elas podem lançar linhas de produtos mais competitivos, por exemplo. Este é um modelo de blindagem. Acho que o Brasil dificilmente enfrentará uma inflação de demanda, mas sim de custos. Este tipo de situação não se ajusta com alta de juros, aumento de impostos, corte de crédito e outros, pois essas ações inviabilizam a atividade empresarial”.