As farmácias populares mantidas pelo governo do Rio de Janeiro estão praticamente sem estoque. Na unidade do Méier, na zona norte, a reportagem encontrou as prateleiras vazias, assim como as cadeiras de espera. Os funcionários, que preferem não se identificar, confirmam que faltam muitos medicamentos e produtos entre os 52 oferecidos pelo programa.
A dona de casa Vilma Cabral esteve no local para comprar fraldas geriátricas para o pai, Antônio Gomes Pereira, de 76 anos, e foi informada de que não encontraria o produto. “Eu venho toda semana, duas, três, quatro vezes, e não tem fralda desde o dia 25. A gente paga aqui R$ 8 por quatro pacotes, sai bem em conta. Na drogaria sai a R$ 21, cada pacote. Ninguém explica nada, a gente chega aqui e eles já falam ‘não tem fralda’, nem deixam a gente entrar”, se queixa.
A aposentada Zilda Amaral de Oliveira, de 70 anos, mora na Ilha do Governador e, há três meses, não encontra a ranitidina, remédio para úlcera no estômago, na farmácia popular do bairro. “No posto da Ilha, eles falam que não estão entregando mais a ranitidina, que é para tomar o omeprazol, que também é para o estômago, que é melhor. O omeprazol também estava em falta, mas agora eu consegui comprar para três meses. A ranitidina tem na farmácia normal, mas é cara, na faixa de R$ 20, fica caro, e lá eu pagava R$ 1, então estou sem tomar”.
De acordo com o Instituto Vital Brasil, responsável pelo Programa Farmácia Popular do Estado do Rio de Janeiro, a distribuição das fraldas sofreu “retração por parte de seu fornecedor, devido a uma quebra de contrato do fabricante”. O diretor administrativo do instituto, Paulo Bravo, explica que a fabricação das fraldas foi prejudicada pela alta do dólar, já que os dois principais insumos usados – o flocgel [um polímero sintético superabsorvente] e a celulose – são importados.
“O flocgel é feito do petróleo, mas a gente ainda não consegue fabricar, e a celulose de fibra mais longa, usada na fralda, também não é fabricada no Brasil. Quando o dólar dispara, o importador fica segurando a importação, para não repassar para o mercado. Ele fica esperando a moeda estabilizar para fazer a cotação dele. E, com isso, a gente sofre, porque a gente compra uma quantidade muito grande de fralda”.
Sobre os medicamentos em falta, o instituto informa que a compra está em processo de licitação, mas que tem encontrado dificuldades em conseguir os três orçamentos exigidos pela lei, e por isso o pregão ainda não foi feito. “É muito difícil trabalhar assim, quando [a empresa] vê que a quantidade é muito grande, o volume é muito grande, ninguém quer expor seu preço. É falta de interesse dos fornecedores”, diz Bravo.
Para ele, pode haver manipulação das empresas para que haja dispensa de licitação. “A prática de mercado é essa. Quando é um outro bem, que é fácil colocar no mercado, a gente consegue cotar, mas quando começa a pedir preço para fazer cotação dos medicamentos, ele [o fornecedor] sabe que não vai vender fácil, ele recebe e diz que não tem disponibilidade. Mas se você disser que é para compra direta, ele te fornece o preço todo”.
O diretor informa que está sendo feita uma compra emergencial para uma quantidade reduzida de 22 medicamentos, entre eles a ranitidina, amoxicilina (antibiótico), o ácido fólico (vitamina B9, suplemento recomendado para grávidas, por ser necessário à formação de proteínas estruturais e hemoglobina) e o aciclovir (antiviral para o tratamento de herpes). O processo deve ser fechado hoje e os produtos estarão disponíveis a partir da semana que vem, segundo o diretor.
Quanto às fraldas, Bravo diz que o fornecedor se comprometeu a entregar o produto também na semana que vem. O Programa Farmácia Popular do Estado do Rio de Janeiro atende a idosos e pessoas com deficiência e tem 60 mil usuários cadastrados. São oferecidos nas 19 unidades da rede, a preços subsidiados, 52 medicamentos e dois tamanhos de fralda geriátrica.
Informações Agência Brasil