A forte instabilidade da economia vem sendo um peso cada vez maior para os empreendedores. Sob este foco, Artur Lopes, especialista em gestão de crise e autor dos livros “Negócio Sem Crise” e “Quem Matar na Hora da Crise” (Ed. Évora), vem aconselhando os empreendedores a mudarem suas estratégias e investir em medidas que favoreçam a redução de custos. Para ele, a crise pegou mais forte nas pequenas e médias empresas.
Apesar de contarem com tributação diferenciada, têm pouco acesso a boas linhas de crédito para investimento e ainda padecem de deficiência gerencial. Muitas são negócios constituídos a partir da atuação profissional de seus fundadores que, mesmo experientes, nem sempre têm conhecimento do mercado e consciência das imprevisões da atividade econômica. Nesta entrevista, Artur Lopes dá dicas de como enfrentar o momento econômico difícil.
Considerando a gravidade da atual crise, cortar custos deve ser prioridade?
Artur Lopes – Já é um chavão, mas o custo fixo deve ser cortado sempre. Apesar da obviedade, os empresários muitas vezes entram numa zona de conforto e não refletem adequadamente sobre a necessidade de alguns gastos. Diante de uma despesa, você deve fazer a si mesmo a seguinte pergunta: Minha empresa sobrevive sem isso? Se a resposta for positiva, há uma grande chance de redução de despesa. É claro que estamos falando de maneira genérica. Determinadas despesas, apesar de não quebrarem a empresa, são estratégicas para o seu crescimento e garantem sua sustentabilidade no futuro. O empresário, diante de casos concretos, deverá ter a sensibilidade para avaliar cada situação.
Qual o peso de adequar estoques e melhorar o mix de produtos?
Muitas vezes o empresário mantém estoques desbalanceados ou simplesmente incompatíveis com a venda. Numa situação de crise, o nome do jogo é liquidez e estoque é sinônimo de capital de giro paralisado. Quanto ao mix de produtos, é bom começar pelo corte dos excessos. Muitas vezes a oferta é ampla demais e a manutenção em linha de itens que vendem de maneira muito rara e não se justificam no negócio.
Nas suas recomendações, o senhor tem aconselhado os empresários em dificuldades renegociar dívida…
Num ambiente de retração da economia, não é raro que o fluxo de caixa seja pressionado. Como muitas vezes o acréscimo de receitas se torna impossível, o alongamento (renegociação, maior número de parcelas) das dívidas é uma medida que deve ser implantada.
Muitos empresários reclamam que a falta de confiabilidade dos indicadores à disposição dificultam a ação da empresa. O senhor concorda?
No Brasil, a contabilidade muitas vezes ainda é tida como um encargo fiscal, não como ferramenta de gestão e, desse modo, não se criam indicadores confiáveis. É necessário criar indicadores para avaliar a performance da operação ao longo do exercício, pois de nada adianta chegar ao final do ano e ter de lidar com um prejuízo anual. Os resultados devem ser acompanhados periodicamente para que seja realizada a correção de rumo se algo não estiver bem.
O dinheiro ficou muito caro com o crescente endividamento do setor público. Como o empresário deve agir nessa área?
Como em situações de crise a oferta de crédito diminui e encarece é preciso, sempre que possível, procurar alternativas para o seu financiamento. São válidas, para isso, práticas como a desmobilização de ativos pessoais, obtenção de recursos com particulares, contratação de empréstimos junto a agências de fomento, como BNDES.
Neste momento, qual o controle mais importante: o da empresa ou do mercado?
É preciso ter atenção não somente com a gestão interna, mas também com as tendências de seu mercado, o posicionamento de seus concorrentes, fornecedores e clientes. Na crise vive-se mais a empresa, e isso é importante em qualquer tempo, não só nas fases difíceis como agora.