Não é raro ouvirmos no mundo corporativo que empresários são “maníacos”. E esta constatação, em muitos casos, é verdade. Quase sempre atolados de trabalho, os donos de negócios apresentam com muita constância oscilação de humor, variando entre momentos de euforia e estados deprimidos, o que, consequentemente, provoca comportamentos imprevistos e até agressivos.
A forte batida empreendedora, comum àqueles que constroem “impérios”, costuma coexistir em homens e mulheres com comportamentos obsessivos e com traços de hipomania. O X da questão é que, apesar da gravidade dos sintomas, em países como o Brasil, apenas a minoria das pessoas diagnosticadas é tratada por um especialista. Em parte, este cenário se configura devido à falta de acesso ou busca por esses tratamentos com profissionais qualificados, mas, por outro lado, grande parte da sociedade acredita que o sintoma não existe, é apenas o “jeito de ser” ou, até mesmo, é fruto do uso de drogas – a última opção é a mais comum quando o assunto é direcionado a empresários. E pior: hipomaníacos, muitas vezes, são diagnosticados como se tivessem em momentos de tristeza porque as euforias são mais leves e o uso de antidepressivos pode desencadear episódios de mania e irritabilidade.
Por conta disso, é possível imaginar o estrago que esse comportamento conturbado pode provocar nos campos pessoal e profissional de um dono de negócios. Dependendo da situação, este mal pode ser tão ou mais avassalador que um câncer ou Alzheimer, já que os hipomaníacos sofrem por mais anos com os prejuízos de disfunções, em comparação aos outros doentes, de acordo com relatórios de estudo da doença pertencentes à Organização Mundial de Saúde.
A doença crônica faz a pessoa ter prejuízos no trabalho e suas relações familiares se deterioram. À frente de uma empresa, em momento de euforia, o empresário apresenta comportamentos como a autoestima inflada – ele se sente capaz de conquistar o mundo -, a pressão por falar o que pensa e a redução de necessidade de sonos, e acha possível gastar o que não tem, acreditando ser um grande investimento que, certamente, lhe trará grandes retornos financeiros. Com a mesma impulsividade que compra, o dono de negócio é capaz de fazer sexo com pessoas impensadas em um estado normal, bem como em lugares inusitados.
E este quadro pode se agravar ainda mais quando o empresário, doente, recorre a drogas ou álcool para tentar amenizar seus anseios. No final das contas, a equação mostra um resultado vermelho e o afundamento da receita da empresa, que afeta não apenas o desempenho dos negócios, mas também os relacionamentos no trabalho e na vida pessoal.
Luiz Fernando Garcia é especialista em psicodinâmica aplicada aos negócios e responsável pelo desenvolvimento de mais de 50 metodologias de treinamento destinadas à capacitação de empresários e profissionais de liderança. Foi coordenador do projeto de Educação Empreendedora no ensino médio, do MEC, e um dos quatro consultores certificados pela ONU para coordenar os seminários do Empretec/Sebrae. Autor de livros como o Inconsciente na Sua Vida Profissional e Empresários no Divã, lançado neste mês pela Editora Gente. Para mais informações, acesse www.rendercapacitacao.com.br.