Empresas latino-americanas que fizeram uma investida precoce e ousada no mercado chinês oferecem orientações valiosas para muitas firmas menores ansiosas para seguir o exemplo, segundo um novo estudo publicado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento que examina as estratégias bem-sucedidas usadas para entrar em um dos maiores e mais dinâmicos mercados do mundo.
“Pathways To China: The Story of Latin American Firms in the Chinese Market” (Caminhos para a China: A história de empresas latino-americanas no mercado chinês) analisa os desafios envolvidos em investir na China e mostra como empresas da região estão expandindo as exportações e associando-se a cadeias de suprimento globais nesse país. O potencial de crescimento é grande: de acordo com o estudo, empresas da América Latina e do Caribe (LAC) investiram apenas US$ 858 milhões na China desde 2006, menos de 1% do total dos investimentos externos da LAC.
O relatório especial foi divulgado ontem, 17 de outubro, o primeiro dia da Sexta Cúpula Empresarial China-LAC em Hangzhou, na China, onde mais de 600 executivos, investidores e autoridades governamentais reuniram-se para explorar oportunidades de ampliar os vínculos econômicos entre duas das regiões de mais rápido crescimento do mundo. A Cúpula foi organizada pelo BID, o Conselho Chinês para a Promoção do Comércio Internacional, o Banco Popular da China e a prefeitura de Hangzhou.
“Este estudo pretende oferecer orientações para empresas da América Latina e do Caribe que estejam pensando em expandir suas atividades para a China, oferecendo-lhes exemplos de estratégias bem-sucedidas e mostrando alguns dos desafios a ser esperados”, disse Antoni Estevadeordal, gerente do Setor de Integração e Comércio do BID.
O comércio entre a China e a América Latina e o Caribe tem crescido cerca de 20% ao ano na última década, graças, em grande parte, à forte demanda chinesa por energia, minérios e alimentos e à demanda da região por bens manufaturados chineses.
No entanto, embora a China tenha ampliado significativamente seu investimento estrangeiro direto na América Latina, focando principalmente as áreas de energia, mineração e agricultura, o mesmo não pode ser dito dos investimentos latino-americanos na China. De acordo com o relatório, somente algumas poucas empresas multinacionais, basicamente do Brasil, Argentina, México e Chile, investiram naquele país.
A China tem representado alguns desafios específicos para as empresas latino-americanas devido a diferenças culturais e linguísticas, restrições a certos investimentos, distância física e o alto custo do transporte. No entanto, seu grande mercado consumidor e os custos relativamente baixos, bem como a oportunidade que a China oferece a empresas estrangeiras de entrarem em cadeias de suprimentos internacionais que têm sua base no país, fazem dela uma perspectiva atraente.
Hoje, empresas latino-americanas estão vendendo uma grande variedade de produtos e serviços na China, de aeronaves a serviços de TI e equipamentos de manufatura de última geração, o que contraria o padrão dominante de commodities-por-bens manufaturados que caracterizava o comércio entre as duas regiões.
O estudo do BID é apoiado nas experiências de85 empresas latino-americanas que estabeleceram uma presença direta na China. Embora alguns poucos pioneiros tenham se aventurado nesse país em meados da década de 1970, o interesse ganhou impulso por volta de 2000, quando o comércio e os investimentos entre as duas regiões começaram a se expandir de forma significativa. Mais da metade das empresas que fizeram parte da amostra do estudo entraram na China a partir de 2007.
Dependendo do tamanho e da natureza de suas operações, as empresas latino-americanas seguiram estratégias diversas para abordar o mercado chinês. Dois terços das empresas estabeleceram unidades de produção próprias ou de propriedade conjunta. Estas incluem produtoras de peças automotivas, mineradoras, siderúrgicas e metalúrgicas, produtoras de alimentos e bebidas e indústrias químicas, entre outras. Alguns prestadores de serviços também estabeleceram operações para prestar serviços que vão de TI e software a transporte, finanças e consultoria.
O relatório apresenta sete estudos de casos de empresas latino-americanas que fizeram investimentos de grande porte na China, ilustrando suas diferentes estratégias para entrar no complexo mercado chinês: do México, os fabricantes de alimentos Grupo Bimbo e Gruma; do Brasil, a prestadora de serviços de TI Stefanini, a fabricante de motores WEG e a gigante da mineração Vale; o fabricante de vinhos chileno Concha y Toro; e, da Argentina, a Tenaris, um fabricante de produtos tubulares para a indústria de gás e petróleo.
Preparado por especialistas do Setor de Integração e Comércio do Banco, o estudo inclui contribuições de Enrique Dussels Peters, economista e especialista em comércio e investimento China-América Latina da Universidade Nacional Autônoma (UNAM) do México, e Lourdes Casanova, professora na faculdade de administração INSEAD da Universidade de Zurique e na Faculdade de Administração Johnson da Universidade Cornell, autora do livro “Global Latinas: Emerging Multinationals from Latin America”.