O Brasil precisa definir foco e melhorar a gestão da propriedade intelectual para integrar os Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs) e as empresas, dizem especialistas. Eles estiveram reunidos na oitava edição do congresso da Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica (Abipti), que ocorreu semana passada em Brasília.
Segundo o presidente do Fórum Nacional de Gestores de Inovação e Transferências de Tecnologia (Fortec) e professor do Departamento de Química da Universidade Federal de Minas Gerais, Rubén Dario Sinisterra, é preciso mostrar à sociedade brasileira que ciência, tecnologia e inovação (CT&I) são a base para a soberania nacional. “O Brasil conseguiu montar a Petrobras, a Embraer e a Embrapa. Então sabemos fazer quando há vontade política para isso”, diz.
Ele esclarece que as entidades de pesquisa precisam proteger a propriedade intelectual e transferir tecnologia de forma mais rápida para as empresas, porque o setor privado é mais capacitado a desenvolver produtos. Esse trabalho em que companhias e instituições de ensino compartilham conhecimentos e desenvolvem soluções tecnológicas em conjunto é chamado de inovação aberta, open innovation em inglês.
Para Bruno Moreira, sócio-diretor da Inventta, do Grupo Instituto Inovação, antes de discutir como fazer inovação aberta, é preciso discutir para que e o que fazer com as inovações. “Temos que olhar para a frente. No meu papel de buscar as tecnologias desenvolvidas dentro das universidades, posso dizer que, com 5% ou 10% [das novas tecnologias], dá para fazer negócios imediatamente. Isso porque elas nascem com um outro propósito, de fazer ciência”, diz Bruno, explicando que as instituições de pesquisa têm de buscar “coempreender”.
Um núcleo de inovações tecnológicas (NIT) também precisa ser um núcleo de negócios, explica o professor Sinisterra. Segundo ele, é preciso conhecimentos de administração de empresas para gerir a propriedade intelectual e fazê-la chegar até a ponta. Sinisterra ressalta que o Brasil tem competências, mas precisa de foco nas áreas de tecnologia em fármacos, tecnologias verdes, nanotecnologia, energia e engenharia.
“O Brasil sabe fazer inovação aberta, mas falta foco. Temos 184 novas tecnologias catalogadas em diferentes áreas. O país está mapeado. Sabemos onde estão os atores do conhecimento, mas falta articulação. Não inventemos a roda, mas demos continuidade ao que temos de melhor. Precisamos rever o que a gente já fez, colocar um foco e tomar uma decisão de aprofundar nas áreas que queremos”, acrescenta.
A coordenadora de Inovação da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Maria Sueli Soares Felipe, diz que a definição de foco é mesmo a questão mais importante para os pesquisadores. “A academia faz muitos projetos, mas eles ficam meio perdidos, então precisa haver demanda da indústria para a academia. As instituições precisam decidir se querem ser apenas geradoras de conhecimento ou se querem fazer negócio com a indústria e desenhar projetos estratégicos nas diversas áreas”, constata.