O mercado brasileiro da indústria gráfica deve atingir um crescimento maior do que a média mundial nos próximos dois anos. Entre os segmentos de impressos, embalagens, etiquetas e encartes, o faturamento deve ser superior aos 4% ao ano, conforme dados da Abigraf (Associação Brasileira da Indústria Gráfica).
O desafio para a consolidação do mercado e dos produtores nacionais, no entanto, passa pela renovação do parque gráfico e a adoção de estratégias de otimização do processo de produção. De acordo com Marcelo Silva, diretor da Gráfica Natal, de Florianópolis, mesmo que a globalização possa achatar preços e oferecer alguma sombra ao produto nacional, ainda há muito mercado a ser conquistado.
Como grande parte do mercado gráfico nacional é composta de micro e pequenas empresas, que se constituem em empresas de demanda, ou seja, produz por encomenda, a tendência é que essas produções sejam cada vez mais rápidas e localizadas.
Talvez esse fator demonstre o porquê da concorrência global ainda não ter chegado com mais força, mas é sempre bom estar atento. “Algumas gráficas de maior destaque concorrem em sua região, mas não passam disso. Até em função da logística, as gráficas vivem da sua praça e suas regiões. Mesmo a internet ainda não chegou à pessoa jurídica, na compra de grandes montantes, e o que vale ainda é a visita”, assegura Silva.
O mercado gráfico nacional pode ser dividido em três grandes áreas: o editorial, que compreende a produção de livros, revistas e publicações periódicas; o promocional, ligado a marketing e vendas, como os produtos gráficos que auxiliam as empresas a chegar ao consumidor final, com materiais de pontos de venda e tudo o que envolve mercado de divulgação; e a área de embalagem, que vai desde a impressão em produtos como caixas de perfumes, de pizza ou de grandes clientes da indústria, entre outros produtos.
As pequenas e médias gráficas, como a Natal, produzem um pouco de tudo, desde livros e informativos, material de publicidade e propaganda, até embalagens finas. Mas se o mercado nacional ainda representa um grande alento para os anos que vêm pela frente, quando o Brasil deve alcançar a oitava posição no parque gráfico mundial, a lição de casa não pode ser esquecida pelo setor. “A alta do dólar ainda nos afeta muito, pois tudo é dolarizado nesse mercado, desde as máquinas, que são todas importadas e atreladas ao câmbio, até os insumos, como chapas, tintas e papéis”, destaca Marcelo Silva.
De acordo com ele, mais do que uma crise econômica, o que há é uma desestabilidade política, que acaba interferindo na produtividade como um todo. “Há uma crise de confiança, muito mais do que crise econômica, e isso acabou por retrair o mercado neste ano”, define.
Nessa difícil equação que deve ser solucionada para o mercado avançar, ainda existem gargalos como a superação de entraves na legislação trabalhista e abertura de canais de financiamento que possam ser realmente encampados pelos empreendedores. “Há uma sobrecarga tributária que não nos incentiva a contratar mais pessoas, o que existe hoje são contratos temporários de trabalho, que podem ser renovados, ou os contratos de experiência, que é o que acontece mais frequentemente”.
Se os entraves forem contabilizados como uma conta a mais do chamado “Custo Brasil”, ainda há de se acrescentar a falta de incentivos para a necessária modernização do setor. Os setores dessa indústria que se modernizaram nos últimos anos o fizeram por conta de uma necessidade urgente, mas ainda não o suficiente para se equivaler ao que ocorre em outros países, que possuem facilidades para renovar o parque gráfico.
No Brasil, quando se adquire um equipamento importado, geralmente é com linhas de financiamento internacionais. O mercado interno pouco auxilia, em financiamentos ou no desentrave burocrático. Sem falar na questão tributária, aonde se paga imposto de importação sobre um equipamento que nada mais é do que um ativo imobilizado, destinado a gerar emprego e receita. “O equipamento é taxado e sobretaxado, então há um desestímulo a investir. Por isso, muitas vezes, temos de lutar contra tudo e contra todos para viabilizar a empresa, os empregos, e atuar como um agente transformador na sociedade” admite Marcelo Silva.
Com 40 funcionários, a Gráfica Natal adquiriu recentemente uma impressora HP Indigo, de R$ 1,5 milhão, que supre uma necessidade do mercado atual, que tende a falar com o cliente de forma pessoal. “Na impressão Offset sempre houve o problema da impressão seriada de conteúdo. Com a nova máquina será possível imprimir conteúdos exclusivos para pequenos grupos de clientes, com qualidade e materiais que não se limitam ao papel, mas em uma gama enorme de materiais, como poliéster, PVC e tecidos”, avalia Silva.
Aumentar a produtividade será o grande desafio da indústria gráfica brasileira para os próximos anos. Mas sem as desonerações necessárias ao setor, como a isenção de tributação para livros, embalagens de alimentos da cesta básica e de material escolar, as cerca de 21 mil empresas do setor ainda continuarão a lutar de forma desleal com o produto importado, e terão de avançar em um ritmo que ainda está muito longe de ser o ideal.