O aumento da participação das mulheres em muitos setores da economia não é novidade, principalmente para a geração que já está trabalhando, uma vez que este assunto é algo absolutamente natural há muitos anos, seja pelo interesse e disposição das mulheres em terem e crescerem em suas carreiras, seja pela necessidade de contribuir financeiramente, encorpando a renda familiar, o que há algumas décadas era parte de uma batalha a ser vencida por aquelas que lutaram para mudar a imagem estabelecida por muito tempo, mostrando o quanto são talentosas e com alta capacidade de performance, nos mais diversos tipos de trabalho.
No período em que trabalhei como consultor do mercado financeiro, atuando em programas de treinamento e desenvolvimento de executivos, foi interessante perceber o quanto aumentava a participação das mulheres em cargos de gestão e na linha de frente dos negócios bancários, até que no início dos anos 2000 o número de homens fosse totalmente ultrapassado, com o placar chegando a 60% para elas, e eles se contentando e lutando para manter seus 40% de participação, naquele ambiente específico.
Ainda hoje é notória que as principais posições das empresas são, na sua maioria, ocupadas por homens, principalmente os cargos de direção. Mas expandindo para outros setores da economia, o que presenciei no mercado financeiro é uma questão de tempo para que se estabeleça o equilíbrio numérico entre homens e mulheres na administração das grandes organizações.
Para comprovar esta tendência, reconhecendo que os cargos de liderança exigem, cada vez mais um melhor nível de formação, vale atentar para alguns dados de uma pesquisa do IBGE, realizada em 2009, nas regiões metropolitanas de Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre, onde 61,2% das trabalhadoras tinham 11 anos ou mais de estudo, ou seja, pelo menos o ensino médio completo, enquanto que para os homens este percentual era de 53,2%. A parcela de mulheres empregadas com carteira assinada, com nível superior completo era de 19,6% e os homens 14,2%. Outra pesquisa do mesmo instituto mostra que em uma década o número de mulheres responsáveis pelos domicílios brasileiros aumentou de 18,1% para 24,9%.
Um ambiente onde o número de mulheres ocupando posições ainda é pequeno, mas que também já apresenta importantes mudanças, é nos Conselhos de Administração, uma vez que, na maioria das vezes os conselheiros são executivos, ou ex-executivos, do alto escalão de empresas, onde a presença de representantes do sexo feminino, ainda hoje pequeno, era muito menor. Para um profissional se candidatar a uma vaga de conselheiro é absolutamente necessário que tenha, além de boa formação acadêmica, grande experiência em cargos diretivos de empresas e visão estratégica. Neste ponto, estatisticamente, as mulheres ainda estão em desvantagem.
Aqui no Brasil, segundo pesquisa elaborada pela Professora Regina Madalozzo do Insper,as mulheres têm mais dificuldade de serem alçadas ao cargo de Presidente de Empresas, quando estas têm um Conselho de Administração constituído, diminuindo em 12,5% a chance de uma mulher ocupar este cargo. O estudo mostra que como os Conselhos de Administração são formados majoritariamente por homens, a escolha não reflete que são levadas em conta apenas a experiência e a capacidade profissional, mas também sua similaridade, influenciando negativamente sua escolha.
Mesmo nos países da Europa este número ainda é pequeno, comparativamente aos postos ocupados pelos homens. Dados publicados pela Comissão Européia indicam que, nos dias de hoje, as mulheres representam apenas 12 % dos membros dos conselhos de administração das maiores empresas que negociam ações em bolsa na União Européia e apenas 3% delas ocupam cargo de presidência destas empresas. Em Portugal, este número aponta que somente 5% dos cargos de direção das empresas são ocupados por mulheres, entre as que integram o grupo das principais companhias da bolsa de valores local, segundo artigo de Raquel Rodrigues Alves, no blog “Economia Portuguesa e Européia”.
Segundo a Escola Cranfield de Administração, sediada em Bradford – Inglaterra, que realiza estudos sobre este tema desde 1999, houve uma diminuição no número total de empresas do Reino Unido com mulheres nos conselhos, já que uma, entre quatro empresas locais, têm conselhos exclusivamente compostos por representantes do sexo masculino. Ainda segundo este estudo, estes indicadores somente são diferentes quando a diversidade dos ocupantes dos cargos de conselheiros é amparada por força de lei, como na Noruega, conforme lei aprovada em 2002 e que passou a vigorar em 2006, todas as empresas devem ter em seus conselhos 40% de mulheres. Da mesma forma na Espanha, onde a Lei da Igualdade de 2007 obriga que os cargos da alta administração das empresas, sejam ocupados por 30% de mulheres.
Os Estados Unidos há muitos anos vêm atuando de forma a dar oportunidades para as mulheres ocuparem posições de destaque, baseados no movimento de maior integração das mulheres na alta direção das empresas vigente desde os anos 70, quando foram instituídas leis de ação afirmativa para as minorias e para as mulheres. Além da lei, as próprias empresas tomaram a iniciativa de desenvolver políticas destinadas a desenvolver e reter talentos femininos, prática copiada por muitas empresas internacionais com sede naquele país e disseminadas mundo afora.
Voltando para nosso país, o que temos visto na prática, nos projetos de implantação das boas práticas de governança corporativa em empresas médias e grandes, muitas de controle familiar, a presença das mulheres nas Diretorias e nos Conselhos de Administração vem crescendo significativamente, não apenas por serem herdeiras ou sócias das empresas, mas porque vêm se preparando para isso, começando a trabalhar desde cedo, estudando para obter a formação adequada e assumindo, para si, para com a sua família e seus sócios, um papel importante na sustentabilidade e na busca da longevidade dos seus negócios.
Algumas características femininas são determinantes para seu sucesso no mundo corporativo como, por exemplo, a sensibilidade e a capacidade de persuasão que facilita a criação de equipes e a integração de seus membros na busca de soluções criativas, além da grande capacidade de lidar simultaneamente com atividades multidisciplinares. Estes dois atributos são fatores de diferenciação de atuação e performance necessários a qualquer Conselho de Administração. Portanto, abrir espaço para as mulheres ocuparem cargos nestes órgãos de administração das empresas é fator decisivo de diferenciação e sucesso nos negócios.
Luiz Marcatti é sócio e diretor da Mesa Corporate Governance (www.corporategovernance.com.br)