Pense em seu empreendimento como uma árvore. O tronco representa a estrutura produtiva, que inclui o quadro de pessoal, as máquinas e equipamentos, as instalações. Os frutos simbolizam os produtos e serviços. Tudo para conseguir uma boa colheita, a safra que será depois contabilizada.
Esse conjunto é a parte visível de seu empreendimento. E, justamente pela visibilidade, sempre que a colheita não condiz com as expectativas, amaldiçoa-se a árvore, o caule e os frutos. Mas ninguém lembra da semente. Como desapareceu, transformando-se na planta à flor da terra, nada se cogita a respeito da origem de tudo. Entretanto, a semente traz em si respostas que não se encontram na árvore. A semente é o gene do empreendimento.
A semente de tudo
Como empreendedores, estamos acostumados a lidar com planos de negócios (business plans) e de metas, orçamentos, tecnologia, recursos físicos e financeiros etc. Porém, esse aparato não é o mais importante em uma ação empreendedora e sim a ambição de transformar uma ideia em realidade. Essa ambição é a força que movimenta e impulsiona o empreendedor: a semente de tudo.
A colheita será maior ou menor, melhor ou pior, dependendo da qualidade da semente. As melhores sementes gerarão os melhores frutos. Desses frutos, as novas e boas sementes. É assim que se produzem riquezas plenas.
Considere essa metáfora em toda plenitude. Ou seja, se quiser compreender mais profundamente sua empresa – as oscilações em seu ciclo de vida, os altos e baixos nos resultados, os bloqueios e as dificuldades e, principalmente, os problemas clássicos não resolvidos há décadas – deixe de lado os fatores objetivos e busque respostas nos fatores subjacentes. Ali você poderá encontrar mais explicações do que nos relatórios e gráficos.
A força e o poder da semente
Ambição não é uma palavra muito apreciada. Alguns a rejeitam, confundindo-a com ganância. Mas não é nada disso. A ambição faz parte da história da humanidade. Por conta dela, monumentos foram construídos, mundos foram descobertos, povos foram conquistados. É claro que às vezes a ambição exala mau cheiro. Nem sempre fizeram bom uso dela. Mas pessoas brilhantes como Thomas Edison, Santos Dumont, Walt Disney, Soichiro Honda, Akio Morita e Steven Jobs foram ambiciosas. E, no mundo dos negócios, não haveria empresas como a Starbucks, o Bradesco, a Natura, a Embraer sem a prévia existência de uma ambição.
Por trás do desenvolvimento econômico existem ambições. As economias se movem a partir das ambições humanas. A semente reúne as verdadeiras intenções, razões e motivações que estão por trás da ambição que impulsiona o negócio e movimenta a empresa.
Essas intenções, razões e motivações traduzem a ambição do empreendedor ou líder e que nem sempre é explicitada. Ao contrário, em geral permanece subjacente, invisível a olho nu. Essa ambição concentrada na semente tem força. Determina ou exerce influência, tanto positiva como negativa, sobre toda a árvore, ou seja, o negócio, a empresa, os resultados.
Tipos de sementes
As ambições não são da mesma natureza. Veja como a qualidade da semente define a qualidade da ambição que, por sua vez, cria empreendimentos e negócios de naturezas diferentes.
A semente da sobrevivência
É aquela que remete ao sustento, à sobrevivência, à garantia do leitinho das crianças. Sementes de sobrevivência fazem com que as atenções sejam autocentradas e haverá pouco espaço para pensar o cliente e suas necessidades. Tudo estará voltado à autopreservação, a salvaguardar os proventos e a acumular, na esperança de que, assim, nada falte. Reina a máxima de que “é preferível um passarinho na mão a dois voando”. O controle será o principal recurso do modelo de gestão e a desconfiança, a tônica nas relações.
A semente da competição
O propósito é ocupar o lugar do outro, o concorrente. Todo o impulso está na rivalidade, concentrado em eliminar o adversário, buscar o primeiro lugar no pódio. Como em um jogo de war, o objetivo é tomar os territórios e conquistar fatias cada vez maiores de mercado. A luta é pelo market share, pelo primeiro lugar no ranking, pela vitória que gera uma legião de perdedores. Não há tempo nem espaço para pensar o cliente. O que conta é competir!
A semente da indignação
Não são mais os apelos de fora que explicam a qualidade da semente. O empreendedor é movido por uma indignação, uma inquietude por algo não (ou mal) resolvido pelo mercado, e é isso que o encoraja a seguir adiante, disposto a enfrentar o risco. O fato é que, ao examinar o mercado, algo dentro de si pulsou e direcionou a sua ambição. Está aí a força do seu empreendimento!
A semente da contribuição
Essa semente vai além da anterior, pois naquela o empreendedor deseja resolver algum tipo de problema, enquanto nessa ele tem a firme intenção de contribuir. Existe uma motivação implícita: o comprometimento com algo – seus valores – ou alguém, quem vai se beneficiar com o seu negócio. Crises ou ameaças não o impedem de evoluir na sua ambição.
O desafio de reempreender
Todas as sementes caracterizam ambições distintas. Para simplificar, podemos classificá-las em duas categorias: as sementes da carência e as sementes do desejo. As duas primeiras sementes, a da sobrevivência e a da competição, provêm da carência. Muitas vezes o que está por trás de um negócio é a vaidade, a necessidade de autoafirmação do empreendedor e o exercício do poder. Questões mais psicológicas, portanto. O que conta é o reconhecimento público, a capa de revista, a aparência. As sementes originadas pela carência buscam o dinheiro, o poder e o prestígio, apesar do trabalho. E os fins importam mais do que os meios.
As outras duas sementes – a da indignação e a da contribuição – provêm do desejo. Essas buscam propósitos com significado, que conectam o coração do empreendedor ao coração do mercado. Questões mais espirituais, portanto. São sementes capazes de criar novos mercados, novos produtos, novas demandas. Conseguem isso, pois estão voltadas a fazer do mundo um lugar melhor.
Nessas, os meios importam mais do que os fins. O desejo é a vontade de se dedicar a uma causa, de servir, e a verdadeira recompensa está no próprio trabalho. Sementes germinadas na carência gerarão árvores raquíticas, frutos adoecidos e colheitas comprometidas. Sementes germinadas no desejo da contribuição e do compromisso gerarão árvores viçosas, frutos saborosos e colheitas fartas.
Como em tantas culturas bem pródigas, há o momento de semear e o de colher. E o de ressemear, escolhendo melhor o gene de uma lavoura mais ampla e profícua. Anime-se. Reflita sobre sua ambição. Reoriente suas intenções. Sempre é tempo de reempreender!