06|09|2011
Você já sabe: ninguém é e nem pode ser insubstituível numa organização, por mais competente que seja. Nenhuma empresa pode ficar refém de um profissional que centraliza informações e não compartilha conhecimentos. No passado, quando havia pouca mobilidade e os profissionais permaneciam décadas no emprego, a preparação do sucessor nas várias instâncias da empresa não era uma preocupação dominante.
Hoje, faz parte dos planos estratégicos corporativos prever a substituição dos executivos, por inúmeros motivos. O profissional pode ser promovido, desviado para outras funções ou expatriado, como pode ir embora para outra empresa ou ser demitido. Ou seja, em qualquer circunstância, a empresa deve ter em seus quadros talentos que possam assumir as tarefas do antecessor no cargo, principalmente quando se trata de funções estratégicas.
As empresas não querem mais atrair executivos insulares, extremamente centralizadores e autossuficientes, que não privilegiam o trabalho em equipe e acreditam que a organização não consegue sobreviver sem eles. Executivos que resistem a passar sua experiência e seus conhecimentos para os liderados, treinar os mais novos e, sobretudo, aqueles que, em alguma eventualidade, poderão vir a substituí-los.
Mas o que ocorre, porém, quando a empresa perde um gênio, que é o símbolo da própria empresa e o grande responsável pelas inovações que fizeram seu sucesso, como ocorreu agora com o afastamento de Steve Jobs do comando da Apple?
Antes de responder vamos tomar como exemplo a General Electric, uma das maiores e mais admiradas empresas do Planeta, que atua em diferentes setores, como de energia, água, transporte, saúde, serviços financeiros e entretenimento, fabricando desde turbinas para aviões e equipamentos para indústrias até lâmpadas elétricas. Pois bem, esse conglomerado nasceu do gênio de Thomas Edison e teve como embrião um modesto laboratório que ele criou em Menlo Park, em Nova Jersey, em 1876. Mais tarde, a empresa de Edison fundiu-se com a concorrente Thomson-Houston Company, dando origem à poderosa GE.
Embora Thomas Edison tenha sido um dos maiores inventores de todos os tempos e a alma criativa da empresa que criou, a General Electric, após sua saída de cena, soube crescer mantendo a inovação como seu mais importante atributo. Os gênios e os grandes talentos, como Jack Welch, o lendário CEO da própria GE por 20 anos, são fundamentais para alavancar a inovação e levar o negócio ao sucesso. Além disso, muito da reputação da empresa se apoia no carisma de seu comandante, na sua capacidade de liderar e de espalhar o DNA da criatividade por toda a organização, como parece ser o caso de Steve Jobs.
A empresa, contudo, deve estar sempre preparada para viver sem a presença de seus fundadores, dos gênios e dos grandes talentos que fizeram sua história, criando uma cultura que incentive a inovação e estimule a formação e o desenvolvimento de profissionais que absorvam os conhecimentos e os ideais de seus antecessores. Os executivos, assim como todos os outros profissionais, não podem deixa que informações e o conhecimento fica represados em feudos, seja por vaidade ou burocracia.
O mercado e o ambiente interno sempre reagem a mudanças. Por isso, no momento da transição de lideranças, o fundador ou controlador precisa demonstrar que transferiu sua genialidade à companhia, que implementou processos e desenvolveu equipes que fazem jus a sua capacidade, inclusive na escolha de seu sucessor. Como disse Jobs em sua carta de despedida: “Acredito que os dias mais brilhantes e inovadores da Apple estão por vir.”
Marcelo Mariaca é presidente do Conselho de Sócios da Mariaca e professor da Brazilian Business School.