Pensar o trabalho, dignificar a vida

“Abençoado é aquele que encontrou seu trabalho; que ele não peça nenhuma outra bênção.” – Thomas Carlyle

Cada um de nós está diante de um desafio: ser humano.

Sim, porque somos todos seres incompletos, seres em processo de acabamento. E na mesma medida em que somos seres inacabados, somos também uma promessa de evolução. Aí está toda a grandeza da existência! E é nesse gap entre a incompletude e a promessa de evolução que entra o elemento vital: o trabalho.

O ser se faz humano, se completa e evolui através do trabalho. Podemos dizer que somos feitos para o trabalho. Mas atenção: nem todo trabalho é feito para nós.

Há trabalhos que causam enfado. Não me refiro ao efeito físico, mas ao fastio psicológico. São trabalhos sem significado, que nada aproveitam do que verdadeiramente somos, das nossas competências, da nossa vocação.

Fala-se muito do conjunto dos conhecimentos, habilidades e comportamentos adequados para determinadas épocas ou culturas. Então, recomenda-se aprender outra língua, lidar com a informática, desenvolver habilidades de relacionamento.

Sem dúvida, todas essas competências humanas são importantes. Mas o desafio que sempre atravessará os tempos é viver a sua vocação. É ser capaz de ouvir a “voz interior” que diz o que precisa ser feito. Quando encontramos a nossa vocação, aprendemos com facilidade, trabalhamos com gosto, nos tornamos automotiváveis.

Quando o trabalho está alinhado com a vocação, experimentamos a bem-sucedida tríade trabalho/prazer/sucesso. Não existe diferença entre trabalho e lazer, entre esforço e divertimento. Tudo se funde numa única experiência, que é a expressão da própria vida. E isso é viver a vida no contentamento.

O trabalho com consciência

Somos os nossos valores, estamos os nossos comportamentos. Comportamentos podem ser ensinados e aprendidos, mas valores são referências de caráter. Caráter é uma palavra de origem grega que significa “marcas resistentes”. Ou seja, valores humanos. Ter valores virtuosos é um grande passo. Tudo o mais pode ser aprimorado, aprendido, expandido. Os valores formam a base que sustenta as demais competências. São eles que nos tiram da anomia e conferem significado ao trabalho.

Existem alguns estágios de consciência. Esses estágios partem do ego-envolvimento (preocupação exclusivamente consigo), evoluem para o alter-envolvimento (preocupação com o outro) e emergem para o hólos-envolvimento (preocupação com o todo).

Desenvolver-se, em todos esses estágios de consciência, é o desafio mais importante que cada um de nós tem pela frente. Portanto, é mais do que um desafio profissional e empresarial. Trata-se de um desafio humano, cuja superação nos transforma em pessoas melhores. E isso pode ser feito através do aprendizado, da experiência e, principalmente, da metanoia, que implica mudança de olhar.

O trabalho e o dinheiro

Curiosamente, somos mais bem-sucedidos financeiramente quando expressamos a nossa vocação. Nós nos sentimos autorrealizados. E a autorrealização é o estágio máximo de satisfação que uma pessoa pode atingir. É também o que encerra o maior potencial de geração de riqueza que uma pessoa é capaz durante a sua existência.
Infelizmente, não são poucas as pessoas que enterram seus talentos em troca da mera sobrevivência. A sobrevivência é a pior escolha que alguém pode fazer na vida profissional. Quem escolhe sobreviver luta contra a pobreza, o que é muito diferente de conquistar riquezas.

Sobreviver é uma armadilha em que muitos caem. E não acontece por escolha consciente, mas por falta de informação, de conhecimento, de crença, de fé. Quem pensa em sobreviver não consegue refletir sobre outra coisa além disso. Por ironia, a riqueza está justamente nas outras coisas. Quem pensa em sobrevivência, trata de competir, ao invés de se superar. Pensa em evitar o risco, ao invés de acreditar e ousar. Pensa em autopreservação, ao invés de contribuição.

O foco na vocação

O que fazer, então, para romper com um trabalho que não realiza?
Primeiramente, olhe para dentro de si e, depois, para fora. Pergunte-se: que tipo de trabalho me traz grande satisfação? O que me encoraja? O que consigo fazer sem muito sacrifício?

Essas questões ajudam a sondar a sua vocação. O talento é algo muito parecido com um hobby. Mas ninguém nos pagaria pelo nosso hobby. No entanto, nosso talento é o nosso maior valor e o que gera valor.

Depois, é preciso olhar para fora. E as perguntas a serem feitas são: Qual é a minha melhor contribuição? Como posso oferecer o melhor de mim? Como posso ajudar? O que devo fazer para deixar as minhas melhores pegadas?

Todos somos merecedores de um trabalho que nos dignifique e que nos faça melhores. Só depende de nós saber que trabalho é esse. Ninguém poderá nos oferecer a correta resposta para esse sagrado enigma.

Que o nosso trabalho seja uma bênção! Sempre.

Roberto Adami Tranjan é educador da Cempre Conhecimento & Educação Empresarial. www.cempre.net

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