A falta de entendimento na sociedade deve-se, muitas vezes, à ausência de diálogo existente entre as pessoas. Outro empecilho comum para o bom relacionamento é a falta de habilidade com as palavras: muitos até reservam tempo para conversar, mas não conseguem se expressar da maneira correta.
Para entender porque isso acontece e para tentar mudar esse quadro, vamos entender o significado da palavra e sua origem. A palavra diálogo surgiu como gênero na Grécia antiga e significa “através de (dia) significado (logos)”. De acordo com o filósofo e linguista russo Mikhail Bakhtin, o diálogo se origina do método de Sócrates, um dos maiores filósofos da história grega. Quando se via em confronto com adversários, Sócrates conversava e multiplicava perguntas, até o opositor cair em contradição e perceber que o filósofo estava com a razão. Além disso, ele fazia uso do diálogo para instruir discípulos, explicando conceitos e definições de forma pedagógica. Mesmo quando as ideias não estavam bem formuladas, Sócrates auxiliava as pessoas a se expressarem e conseguia chegar à clareza através da conversa. Dessa maneira, o filósofo acreditava que a conversa era uma espécie de alicerce para a sociedade.
Desde então, o diálogo esteve presente em toda a sociedade, independente da cultura ou língua. Hoje em dia, as autoras americanas Linda Ellinor e Glenna Gerard desenvolvem diversos trabalhos relacionados ao diálogo dentro das organizações. O livro “Diálogo: Redescobrindo o Poder Transformador da Conversa”, publicado pelas autoras, defende a ideia que “o diálogo é um meio para que comecemos a conhecer todas as muitas maneiras pelas quais nos interligamos e integramos uma única realidade compartilhada”. A ideia é entender mudanças e extrair significado daquilo que pode parecer uma desordem.
Depois de tantos conceitos sobre a importância e função do diálogo, por que temos tanta dificuldade de se expressar e sermos compreendidos? Isso se deve especialmente ao conhecimento limitado do vocabulário e do significado das palavras. Há também os que preferem deixar a conversa de lado, seja por comodismo ou até desmotivação em dialogar. Caso essas situações persistam, as pessoas podem acabar se prejudicando em diversos momentos da vida.
No âmbito profissional, há quem ainda defenda a ideia de que a comunicação deve ser exercida de maneira impecável pelos profissionais da área de humanas, já que lidam diretamente com as palavras. No entanto, para se construir uma boa carreira, sabe-se que o diálogo é fundamental para todas as pessoas, em qualquer segmento em que atuam. Um exemplo prático de uma boa comunicação pode ser avaliado já na entrevista de emprego. As pessoas que se expressam da melhor maneira levam vantagens na hora da seleção. O conhecimento de um vocabulário vasto e o hábito de leitura podem fazer com que o indivíduo consiga se expressar melhor e tenha um bom diálogo com outra pessoa. Porém, é preciso saber utilizar esse conhecimento com sabedoria e ética. Conversas esclarecedoras podem tornar o ambiente de trabalho mais leve e os colaboradores da organização mais motivados e confiantes.
Para melhorar a convivência em ambientes de trabalho, cabe às empresas desenvolverem o hábito de dialogar para conhecer seus colaboradores, ouvir possíveis ideias e poder solucionar problemas. Os funcionários, por sua vez, também podem procurar o diálogo para criar uma relação de respeito e sinceridade dentro de uma corporação, para assim, tentar resolver problemas internos de relacionamento. Aos poucos, a equipe irá notar que “perder” uns minutinhos do dia com uma boa conversa pode ser um ganho imprescindível para o seu trabalho e bem-estar.
Marcelo Chianello é diretor presidente da ello Atelier do Comportamento (elloweb.com.br)