Autoridade é uma palavra controversa. Alguns a apreciam, outros a abominam. Os que a abominam enxergam nela o ranço do autoritarismo e dos muitos males causados à humanidade. Mas, cá entre nós, não é possível que uma empresa prospere e evolua sem autoridade.
Na acepção, autoridade é o direito ou o poder de ordenar, de se fazer obedecer. Obediência. Está aí outra palavra que nem sempre goza de bom conceito. Para alguns, remete à subserviência. Mas, se ajustarmos nossa compreensão, veremos que, como autoridade, obediência também é uma palavra importante, válida e necessária no ambiente organizacional.
Para começo de conversa, existe a autoridade de fora e a autoridade de dentro. A autoridade de fora é imposta. É exercida desconsiderando a inteligência das pessoas,
na tentativa de obter o que se deseja delas por meio do medo. Algo que, por sua vez, exige obediência das pessoas amedrontadas. Esse é o modelo autoritário de administração.
Você pode se perguntar: existe isso ainda? Resposta: mais do que você imagina. Muitas empresas funcionam como ditaduras, regidas por um ou mais déspotas.
A desconfiança é que dá o tom do modelo de administração, com revistas na saída, câmeras instaladas nos corredores, gravações telefônicas, controles e mais controles. São como prisões, onde os líderes se travestem de carcereiros, paradoxalmente também presos, porque não param de vigiar os prisioneiros, certos de que qualquer desatenção pode descambar em desfalques.
Nessas empresas, quem possui a autoridade não a esconde. Faz questão de ostentá-la na forma de se vestir, de falar, de localizar e arrumar sua sala de trabalho, de concentrar e segurar informações, na reserva da vaga onde estaciona o carro, no lugar à mesa ou mesmo no cardápio diferenciado, no refeitório. Tudo é feito para
dar lastro (e lustro) à sua autoridade.
Muitas vezes a autoridade vai além dos aspectos personalísticos e avança para as questões mais burocráticas. Normas, procedimentos e outros artifícios administrativos existem, na maior parte das vezes, como forma de exercer a autoridade, ainda que o discurso venha revestido de método e organização que“evitem” os entraves organizacionais.
O problema da autoridade que vem de fora é que ela sufoca a autoridade que vem de dentro. A autoridade que vem de fora se sustenta na lei e no decreto. Ela não depende do caráter das pessoas, nem de suas vontades, nem faz uso das suas inteligências. Ou seja, não são as virtudes das pessoas que lhes dão autoridade. A autoridade não está na pessoa, mas no cargo, na função, no sobrenome, nos aparatos de que ela se cerca.
O maior dos desperdícios
A autoridade que vem de fora causa o maior desperdício que existe nas empresas: o de talento humano. Empresas investem pesado na mensuração dos desperdícios de matérias-primas, energia, horas máquina e horas homem, mas tudo isso não chega nem perto do desperdício de talento humano. A autoridade que vem de dentro é
aquela que faz aflorar o melhor de cada um. E é importante que o melhor de cada um seja investido no trabalho e não fique retido na guarita da empresa, esperando o retorno do seu dono ao final do expediente.
A autoridade interior é a maior conquista que um líder pode obter de seus colaboradores. Mas isso só vai acontecer se o líder subtrair ao máximo a autoridade
que vem de fora. Distender os controles é o primeiro passo para que a autoridade que vem de dentro aflore. E, por trás desse gesto, não deve haver uma providência administrativa, mas sim uma decisão moral e psicológica, ou seja, uma prova de confiança nas pessoas.
Muitos líderes costumam dizer que a confiança deve ser conquistada. Justificam a manutenção dos controles rígidos, com o discurso de que esses devem ser relaxados quando houver gestos heroicos, dignos de confiança. Não é assim que funciona. Na verdade, o movimento é justamente oposto. O líder é que tem de conquistar a confiança dos seus colaboradores.Essa é a primeira condição para dar espaço a que aflore a autoridade que vem de dentro.
O passo seguinte é criar condições para que os colaboradores participem das decisões. Somente dessa maneira eles conseguirão praticar a autoridade que vem de dentro. É um exercício feito de altos e baixos, mas que, no transcorrer da prática, faz com que as pessoas se apropriem da sua autoridade e saibam expressar seu poder no trabalho.
Evoluindo no processo de trocar a autoridade de fora pela autoridade de dentro, vem o sublime momento de sonhar juntos. É quando o líder é capaz de despertar em cada um o sonho essencial, para viver o melhor presente e criar o melhor futuro. Esse fenômeno onírico de um conjunto de seres humanos sonhar juntos a autoridade de fora jamais será capaz de conquistar.
Finalmente a obediência
Se exigida por lei ou decreto, ou seja, pela autoridade de fora, a obediência é subserviência, submissão e tantos outros subs que só fazem subtrair o tamanho das pessoas. Mas, voltada para a autoridade que vem de dentro, a obediência é um valor sublime, superior, espiritual. Nesse sentido, a obediência tem relação direta com outra palavra que pode sofrer interpretações diversas dependendo do sentido da autoridade: disciplina. Existe a disciplina obrigatória, seguida a contragosto para evitar punição
ou retaliação, e a disciplina verdadeira, a de ser “discípulo de si mesmo”, da autoridade que vem de dentro, portanto.
Assim como autoridade, obediência é uma palavra imprescindível no ambiente de trabalho. Ser obediente a si mesmo, aos seus valores, a suas virtudes e também (por que não?) ao líder. Desde que ele seja, de fato, digno de confiança e merecedor de todo o crédito, por seu papel de educador, pelo incentivo que oferece ao trabalho que recupera o humano e pelo espaço que oferece para que cada um viva o que verdadeiramente é. Esta é a sua missão. Sagrada. Vivenciá-la é um privilégio. Então, comece agora mesmo a fazer uso da boa autoridade!
Roberto Adami Tranjan é Educador da Cempre Conhecimento & Educação Empresarial. Contatos: (11) 3873-1953/www.cempre.net roberto.tranjan@cempre.net