07|02|2012
É constrangedor que, dentre as 178 nações abrangidas pelo ranking anual da ONG Transparência Internacional, recentemente divulgado, 68 apresentem menos corrupção do que o Brasil. O índice de 2011 foi elaborado com base em depoimentos e entrevistas de empresários e especialistas de organizações independentes, entre janeiro de2009 e setembro de 2010. Nosso país ficou com pontuação final abaixo da média de 3,7, a mesma do ano passado.
Na série histórica dessa pesquisa, iniciada em 1995, a nota brasileira sempre foi muito baixa, evidenciando que estamos patinando há muito tempo no lodo da corrupção, o maior problema nacional. Solucioná-lo, portanto, é mais importante do que as reformas tributária, previdenciária e trabalhista, modernização e melhoria da infraestrutura, queda dos juros, ajuste do câmbio e outras medidas prioritárias sempre reclamadaspela sociedade e os setores produtivos.
Afinal, enquanto a improbidade continuar livre, leve e solta, nunca haverá receita tributária suficiente para saúde, educação e segurança, dinheiro disponívelpara pagar aposentadorias dignas sem gerar déficit e investimentos otimizados para infraestrutura. À medida que relações espúrias entre corruptores e corrompidos continuem pautando parcela significativa da interação entre o Estado e seus fornecedores, perde-se expressivo volume de recursos, reduzindo-se a produtividade, a competitividade e a capacidade real de investimento do setor público.
São numerosas as pessoas físicas e jurídicas indignadas com a corrupção e resistentes ao assédio. A estas colocam-se sempre as barreiras da burocracia, cujo exagero no Brasil é caldo de cultura para propinas e acordos sub-reptícios. Depara-se com a velha cultura de criar dificuldades para vender facilidades. É muito difícil fazer o certo nas entranhas de um sistema distorcido, viciado e que parece estruturado para achacar.
É urgente conter essa praga, evitando que paulatinamente contamine de modo amplo o setor privado, o sindicalismo e as relações intersociais e empresariais. Por isso, seria importante que, no Governo Federal, Estados e Municípios, houvesse umórgão de gestão, diretamente subordinado à presidente da República, aos governadores e aos prefeitos, encarregado de conter a corrupção, atenuar a burocracia e contribuir para uma administração efetivamente focada em resultados.
Para não se perpetuar na segunda divisão do ranking da Transparência Internacional, o Brasil precisa formar novas lideranças comprometidas com a ética, a probidade e as boas práticas de governança. Não podemos nos dar luxo de perder a geração nascente nos maus exemplos da troca de favores, da propina e do toma lá dá cá.
Juan Quirós é presidente do Grupo Advento e vice da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e da ABDIB (Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base).