A palavra retrofit está cada vez mais presente no dicionário dos profissionais de arquitetura e construção de todo o País. Ela tem sua origem no latim: retro (movimentar-se para trás) e do inglês fit (adaptação, ajuste) e tecnicamente significa adicionar nova tecnologia ou características a sistemas antigos. No que diz respeito às construções em geral, significa revitalizar edifícios antigos, melhorando seu uso.
Em busca da segurança dos usuários e proprietários e da valorização do patrimônio, o retrofit no momento está sendo ampliado para edifícios comerciais. Em especial nas grandes cidades, os síndicos e condôminos de lojas e escritórios optam por essa prática que pode transformar um prédio antigo e já deteriorado em um edifício revitalizado, com cara de novo, de corpo e alma novos.
O retrofit hoje é mais abrangente e inclui desde a fachada até a parte interna do prédio. No entanto, é preciso tomar cuidado na hora de diferenciar uma reforma superficial que inclui a troca de carpetes, piso, forro e materiais de revestimento, e de um retrofit propriamente dito, que prima pela troca de instalações internas antigas por outras mais modernas, como elevadores, sistema de ar condicionado, tubulações e fiação, sistema de automoção, segurança, entre outros itens.
No retrofit amplo, a questão da sustentabilidade é muito importante, pois se deve primar pelo emprego de materiais adequados para não ter desperdício na obra, aproveitamento da luz natural, consumo racional da água e da energia elétrica.
Sustentabilidade é a palavra-chave para a arquiteta Glaci Refosco, do Studio Refosco Soluções em Arquitetura e Identidade Corporativa, empresa que pratica o retrofit há anos, execução de lojas, escritórios e demais projetos corporativos. “Do início ao fim de cada obra, temos que gerar o mínimo possível de desperdício e resíduos. Também em cada nova construção temos que proporcionar o uso racional e mesmo gerar uma economia nos custos de água, luz e do uso de sistemas de energia e climatização”, atesta a arquiteta.
Um bom exemplo é o condomínio comercial Edifício Adolfo Zigelli, localizado no centro de Florianópolis. Ali a situação era precária, quase de abandono. Com problemas de infiltração, pintura descascada, sistemas deteriorados e visual desgastado, a galeria do prédio estava em situação de abandono e servia até mesmo de abrigo para moradores de rua, onde os problemas com a falta de segurança para os condôminos eram frequentes.
A síndica, Maria Aparecida dos Santos, que foi a principal idealizadora da verdadeira transformação do prédio, conta que os condôminos estavam fazendo qualquer negócio para vender as unidades do edifício. “Muitos proprietários estavam indo embora. Eu também estava quase saindo daqui”, revelou. Depois de seguidas reuniões, no próprio prédio, os condôminos decidiram começar a recuperação.
Foi contratada a empresa que iniciou o trabalho pela galeria de entrada do prédio. Ali, todo o piso que estava “mal conservado”, na avaliação da síndica, foi lixado e recuperou o brilho da pedra original. Todas as paredes ganharam uma cor clara e nova iluminação. As sinalizações das lojas foram todas padronizadas, o gerador elétrico antigo foi substituído e a galeria foi climatizada. “O Adolfo Zigelli já é outro condomínio. É como se tivéssemos saído de um século e entrado em outro”, festeja Maria Aparecida.
A arquiteta Glaci Refosco explica que o retrofit do condomínio Adolfo Zigelli foi avaliado tanto em termos estéticos quanto logísticos. “O retrofit vai além da questão puramente estética, porque é necessário haver uma adequação aos sistemas modernos”, diz. Segundo a arquiteta, a repaginação do edifício Adolfo Zigelli teve que ser executada por etapas. “Começamos pela galeria, porque lá não havia segurança, entrava qualquer pessoa, prostíbulos funcionavam no local. Com a repaginação, o perfil das pessoas que passagem pela área mudou”, avalia.
Para Glaci, a maioria dos condomínios buscam, com o retrofit, melhorar o nível de segurança, com instalação de câmeras, catraca eletrônica, entre outros equipamentos. “Quando é feito esse tipo de adequação, geralmente é necessário mexer em toda a instalação elétrica, que é quase sempre muito antiga e inadequada às normas técnicas”, complementa.
A síndica Maria Aparecida adianta que o próximo passo é modernizar a fachada do condomínio. “Queremos tudo novo. Ficamos contagiados pela mudança na galeria. Agora queremos melhorar a fachada e as instalações elétricas”, diz. A arquiteta Glaci Refosco avalia que o retrofit, em determinados prédios antigos e históricos, gera um impacto positivo, não só aos condôminos, mas a toda cidade, que também é revitalizada.
“O Adolfo Zigelli passou a contagiar os prédios vizinhos para a revitalização e isso é muito positivo para o centro urbano de qualquer cidade”, destaca. Além disso, a arquiteta ressalta que a segurança da região também é favorecida. “A modernização nos prédios leva vida ao local e propõe outro público para ocupar o local antes degradado”, sustenta.
Entretanto, alguns prédios antigos da região central da maioria das cidades são tombados e exigem determinada burocracia para passar pelo retrofit, conforme alerta a arquiteta. “Antes de qualquer intervenção em um edifício tombado, é preciso dar entrada em um processo no IPUF e IPHAN e, mesmo assim, não é permitido alterar significativamente uma fachada tombada.” De acordo com ela, o trabalho do retrofit em prédios residenciais e comerciais muito antigos tem que ser por etapas. “É feita uma limpeza na comunicação visual. Criamos elementos que escondam aparelhos condicionadores de ar, renovamos a pintura, ou seja, nenhuma alteração ou ampliação da estrutura é feita”, informa.
Pela atual legislação, para realizar o retrofit é necessária a aprovação prévia dos condôminos. O retrofit na fachada é considerado alteração da fachada, que, para ocorrer, exige a aprovação de 2/3 dos condôminos. No retrofit também não é previsto ampliações. Se a reforma de uma fachada prever, por exemplo, a construção de sacadas, a obra deverá ter aprovação da unanimidade dos condôminos.
A arquiteta Glaci sugere que, na assembleia de aprovação do retrofit, os condôminos formem uma comissão de obras, elegendo três representantes para estabelecer contato com o profissional que está realizando o trabalho. “A formação dessa comissão de obras diminui bastante as controvérsias entre os condôminos, cria um canal de comunicação, mantém os moradores participativos e inteirados da execução da obra, facilita o trabalho e garante aceitação”, conclui.
O nome dado ao edifício Adolfo Zigelli, erguido na década de 1970 no centro de Florianópolis, é uma homenagem a um dos principais jornalistas da história da imprensa catarinense. Por este mesmo motivo, durante o retrofit do prédio, a fonte escolhida para a comunicação visual da fachada foi inspirada na capa do livro que conta a história do jornalista, em letras das antigas máquinas de escrever. “Esse tipo de intervenção resgata não somente estruturas e sistemas de um prédio, mas também a memória da cidade e do local onde as pessoas vivem, ou seja, o local a que elas pertencem”, completa a arquiteta Glaci Refosco.
Retrofit e suas vantagens
• Retrofit é a modernização de sistemas e revestimentos de um espaço construtivo considerado ultrapassado ou fora da norma.
• Ao revitalizar e atualizar uma construção aumenta a vida útil de todo o imóvel.
• Ao incorporar modernas tecnologias e materiais de qualidade, o imóvel ganha novo valor e beneficia o proprietário no caso de venda.
• Mais segurança com as novas instalações elétricas e no sistema de iluminação, o que minimiza os riscos de incêndios.
• As novas instalações elétricas e hidráulicas reduzem perdas e geram economia a todo o condomínio.
• A restauração do acesso principal (hall e galerias) cria um outro perfil de público que frequenta o local.
• A valorização da fachada de um edifício valoriza o próprio prédio, os outros edifícios que estão no entorno, toda a rua e mesmo a cidade inteira.