6 pontos para chamar atenção de investidores de dívida

Por Paulo David e Áureo Jarzinski, da AmFi*

Segundo um estudo divulgado  recentemente pela Anbima, os brasileiros estão cada vez mais focados em investir em títulos de dívida de empresas. De acordo com os dados, esses investimentos aumentaram de 68% para 72%, comparando fevereiro do ano passado com o mesmo mês deste ano. Esses números representam uma tendência significativa para o setor. 

E pensando em chamar a atenção dos principais investidores brasileiros nesse boom do mercado, listamos 6 pontos que precisam estar em dia antes de receber investimento. Assim, é possível se preparar da melhor maneira possível para entregar oportunidades imperdíveis ao mercado.

1. Tipo de ativo

Cada tipo de ativo de dívida tem suas próprias características, incluindo nível de risco, taxa de juros, maturidade e liquidez. Os investidores levam tudo isso em consideração para tomar decisões informadas e alinhadas aos seus objetivos e perfis de risco. Além disso, eles buscam diversificar a carteira de investimentos entre esses ativos para ajudar a mitigar riscos e aumentar a rentabilidade.

2. Início da operação/carteira

Quanto mais antiga a carteira, melhor, pois trará mais clareza do comportamento dos ativos dados os ciclos econômicos pelos quais ela passou e a política de crédito que sua empresa aplica. Importante também lembrar que os investidores podem olhar “partes” específicas da carteira, “safras”, e, mesmo que no passado a sua carteira tenha tido um período não tão bom, é possível acessar o mercado explicando bem os motivos por que determinada safra não performou como o restante da carteira.

Da mesma forma, não adianta muito ter um histórico sensacional e apresentar últimas safras inconsistentes ou com histórico ruim.

3. Volume  e prazo médio da carteira

Junto com outros fatores como quantidade e ticket médio, o volume auxilia o investidor a entender melhor quão pulverizada ou concentrada é a estratégia da companhia e qual a sua capacidade de originação (e consequentemente, de alocação) de dinheiro. Isso ajuda a determinar o tamanho do impacto sobre a empresa em eventuais mudanças no cenário econômico, no mercado de dívidas ou nos ativos individuais da carteira e como ela se comportará se tiver ainda mais capital para alocar. 

O prazo médio da carteira é o período de tempo médio em que os ativos de dívida vão estar disponíveis antes de serem resgatados ou vencerem. É uma medida importante da duração da exposição do investidor ao risco de crédito. Esse prazo pode ser calculado com base na maturidade de cada ativo de dívida na carteira e seu peso relativo na carteira. Quanto maior o prazo médio da carteira, maior será a exposição ao risco de crédito e ao risco de juros, portanto, operações longas (acima de 12 meses) são consideradas bem mais arriscadas que operações bem curtas (abaixo de 90 dias).

4. Inadimplência

A inadimplência é um risco significativo, pois pode levar a perdas financeiras. Por isso, os investidores costumam avaliar com cuidado a situação financeira e a saúde dos emissores antes de investir em títulos de dívida. Vários fatores influenciam a inadimplência, como condições econômicas adversas, mudanças na regulamentação, concorrência acirrada, política de crédito, tipo de cliente, concentração por determinado nicho/segmento da sociedade, entre outros.

Ela pode ser medida de diversas formas e normalmente existem “faixas” que os investidores olham. Os números podem ser calculados com base no valor (porcentagem de valor devido sobre o valor da carteira) ou quantidade (número de operações em atraso dividido pelo número de operações devidas). Normalmente, os mais experientes olham o D+1 (ou seja, qual porcentagem da carteira está em atraso acima do primeiro dia), o D+30 (o que não foi pago após um mês) e o D+90 (após três meses em atraso, o mercado costuma convergir que apenas a execução judicial poderia reaver os valores devidos, portanto, tudo que está nesta faixa já é considerado “perda”).

5. Taxa média

A taxa média é o rendimento médio dos títulos de dívida em uma determinada carteira ou mercado. É calculada como a soma dos juros pagos sobre os títulos de dívida dividida pela quantidade total dos títulos na carteira. É importante para os investidores porque fornece uma medida do rendimento esperado da carteira.

Vários fatores podem afetar essa taxa, incluindo a demanda e oferta por títulos de dívida, as condições econômicas e as taxas de juros do mercado.

6. Concentração de sacados/cedentes

A concentração de sacados/cedentes mostra quão dependente uma empresa é de poucos clientes para sua receita. Quando essa concentração é alta, significa que uma grande porcentagem da receita vem de apenas alguns poucos clientes. Isso pode ser preocupante porque, se um ou mais desses poucos clientes deixarem de fazer negócio com a empresa, o impacto na sua capacidade de pagar dívidas pode ser significativo. Portanto, investidores costumam preferir empresas com uma menor concentração de sacados/cedentes.

Em resumo, ao entender o que os investidores buscam em uma carteira de dívida, você vai poder ajustar sua estratégia e garantir que está oferecendo oportunidades atraentes para o mercado. Aproveite essas dicas e otimize sua carteira para atrair mais investidores.

*Paulo David é CEO e fundador da AmFi. Formado em Direito pela PUC-SP e pós-graduado em Administração de Empresas pelo Insper, foi fundador e CEO da Grafeno Digital, empresa líder em tecnologia no mercado financeiro, com mais de 6 mil  clientes PJ e R$ 180 bilhões transacionados na plataforma, além de ser uma das maiores infraestruturas do mercado financeiro. Também foi fundador da Biva, uma das primeiras e mais inovadoras fintechs do Brasil. A empresa foi comprada pela PagSeguro, parte do Grupo UOL. O executivo ainda acumula passagem pela indústria de venture capital, além de ter sido associado do Pinheiro Neto Advogados e investir em diversos projetos inovadores no Brasil e fora do país.

*Áureo Jarzinski é COO da AmFi. Economista, pós-graduado em produtos financeiros e gestão de riscos pela FIA, com especialização pela Stanford University Graduate School of Business. Teve passagem por empresas como Oracle Brasil, BTG Pactual e outras fintechs. Na AmFi,é responsável por realizar a estruturação das operações de crédito, de toda a área operacional e da jornada de originadores e clientes da companhia.

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