No geral, o brasileiro se importa muito pouco pelo macro, pelo que está acontecendo no Brasil como um todo, quando tratamos de economia. Tendo emprego, diversão e os produtos não subindo muito no supermercado, ele tende a não se importar tanto com o que está acontecendo no país como um todo.
Diga-se de passagem, no geral, se importa menos ainda com o exterior. Se está ocorrendo uma crise econômica em outros países ou não, não é um assunto que preocupa muita gente. O foco do brasileiro é o seu problema local.
Tantas crises econômicas vieram e se foram. Esta, que estamos vivendo agora, não será diferente. Em algum momento, lá na frente, a economia vai reagir e as coisas se ajeitarão para a maioria.
Mas, enquanto isso, não chega: estamos preparados? Uma crise econômica pode durar algumas semanas, meses ou até anos. Não podemos subestimar o tamanho do problema, sob pena de prejudicarmos a nós mesmos, como também nossas famílias.
Em 2010, li um artigo que um economista dizia que estávamos vivendo uma “década perdida”, após a crise econômica de 2008. Na época, eu achei que era terrível isso e que se tratava de outra previsão pessimista, que não deveria ser levada tão a sério. Agora, sete anos depois, penso que vacilei. Deveria ter tido mais humildade de reconhecer que, em economia, as coisas acontecem de uma hora para a outra e podem demorar muito mais tempo para se resolver do que imaginamos.
Para muita gente, a reação do governo para os problemas atuais é péssima. Mas, ao mesmo tempo, gente com credibilidade reconhece que estamos retomando o caminho certo. Tudo é muito demorado e só com o tempo saberemos. Há uma luz no fim do túnel, mas não sabemos por quanto tempo teremos que trilhar na insegurança até chegar à recuperação plena da economia.
Certo é que estamos numa fase muito difícil, pois as pessoas no Brasil estão também muito endividadas e o que vem à frente (aumento do desemprego, arrocho salarial, inflação alta, crédito escasso, etc) não é tranqulizador. Ou seja, a hora do brasileiro reagir é agora. E, logicamente, se preparar da melhor maneira para os próximos meses (ou anos).
Não é hora de pegar novos empréstimos, gastar acima do que se ganha ou agir de forma perdulária com o dinheiro. É muito importante ter uma reserva financeira e ser flexível quanto aos hábitos de consumo nesses momentos. Muita gente, que era rica por longos anos, não soube se preparar para isso e hoje não tem mais nada. Famílias dizimaram em pouco mais de uma década patrimônios acumulados por gerações. Muitas não deram atenção aos momentos econômicos de crise e, quando foram reagir, já era tarde.
Há um ditado popular que diz: construir prédio é fácil; mudar comportamento é muito mais difícil. Então, reunir desde já a família e explicar a situação que o país passa e pedir mais comedimento nas despesas, é mais do que salutar nesse momento: é uma questão de sobrevivência e garantia de um futuro melhor para a entidade familiar. Não adiantar o líder da família poupar e o resto gastar mais do que se arrecada. É importante que todos nós estejamos juntos, contribuindo para a vitória financeira da família.
Não sabemos como serão os próximos tempos econômicos, mas devemos nos preparar para eles; sem paranóia, mas com responsabilidade. Se a crise piorar, estamos preparados. Se a situação econômica melhorar, já estaremos prontos para colher melhor os frutos desse novo tempo que, espero sinceramente, não demore a surgir para nós, brasileiros. E, não se esqueça da advertência que nossos avós já nos ensinavam: dinheiro não aceita desaforo.
* Lélio Braga Calhau é Promotor de Justiça de defesa do consumidor do Ministério Público de Minas Gerais. Graduado em Psicologia pela UNIVALE, é Mestre em Direito do Estado e Cidadania pela UFG-RJ e Coordenador do site e do Podcast “Educação Financeira para Todos”.