Apesar da crise, empresas do Brasil vão às compras

Mesmo diante de um período de estresse global, as empresas brasileiras projetam novas aquisições para os próximos 12 meses. Ao invés de diminuir, o período de volatilidade contribuiu para que as organizações aumentassem seu apetite. Levantamento do "Capital Confidence Barometer", produzido pela Ernst & Young Terco, mostra que 37% das companhias no Brasil esperam concluir uma aquisição no próximo ano, índice superior aos 29% registrados em abril, data da pesquisa anterior.

Além disso, o país figura na lista das regiões mais atraentes para investimentos ao lado de China, Índia, EUA e Austrália. De acordo com Rogerio Villa, sócio-líder de Transações da Ernst & Young Terco, apesar de grande parte do mundo estar preocupada com a volatilidade dos mercados, as organizações brasileiras estão focadas no crescimento, com um total de 71% delas projetando expansão nos próximos 12 meses. "Enquanto a maior parte do crescimento deve ser orgânico, nós esperamos um aumento em transações, na medida em que mais de um terço das companhias planeja realizar aquisições", afirma.

No mundo, 41% das empresas líderes globais esperam concluir alguma aquisição nos próximos 12 meses. Saindo do escopo dos BRICS, Malásia, México e Argentina se destacam como os três mercados emergentes mais populares como destino para os investimentos. "Um portfólio de negócios equilibrado precisa ter a presença de um mercado emergente assim como operações em mercados maduros. Os emergentes asiáticos estão entre os mais atrativos, com seu alto potencial de crescimento oferecendo alguma proteção contra a volatilidade atual nos mercados maduros", justifica Pip McCrostie, vice-líder global de Transações da Ernst & Young, por meio de comunicado à imprensa.

Conforme o levantamento, o apetite das empresas por fusões e aquisições é sustentado por demonstrações financeiras mais sólidas e um foco maior na adequação operacional. Somado a esses fatores está o fato de os preços dos ativos terem sofrido uma forte apreciação, estimulando os vendedores a irem a mercado. Na avaliação de quase dois terços (57%) dos executivos entrevistados, as avaliações de ativos devem manter-se nos níveis atuais por 12 meses, gerando uma expansão de 30% em potenciais vendedores na comparação com seis meses atrás – 26% das empresas consultadas avaliavam a possibilidade de serem adquiridas no próximo ano.

"Atualmente, companhias líderes de mercado descartam fazer parte das crises do mercado e focam em crescimento e M&A (fusões e aquisições, na sigla em inglês). Para elas, não se trata de um novo 2008. Essas companhias têm passado os três últimos anos reduzindo os riscos financeiros de suas demonstrações e adotando duras medidas de eficiência necessárias para o fortalecimento de suas posições, o que as habilita à gestão em tempos de volatilidade", explica McCrostie.

Outra mola que sustenta o ritmo de negócios, segundo mais de um terço dos entrevistados, é a possibilidade de abocanhar uma fatia de um novo mercado. Companhias brasileiras que investem no exterior estão buscando espaço na China, EUA e Índia, de acordo com o levantamento da Ernst & Young Terco.

Obstáculos não reduzem confiança

Os riscos regulatórios ainda causam uma grande dor de cabeça para as empresas. Na opinião da maioria dos executivos consultados (87%), o aumento por pressões regulatórias poderia impedir o crescimento das organizações, com destaque para os setores bancários e de reforma financeira que, consequentemente, impactariam "amplamente" em outros segmentos e regiões. "A regulação é um obstáculo em potencial. Além disso, há a questão do ambiente econômico. Embora os nossos entrevistados tenham demonstrado uma posição otimista em relação a M&A, uma recessão global profunda afetaria todas as apostas das empresas", afirma McCrostie.

No entanto, o clima ainda é "surpreendentemente" otimista, de acordo com levantamento da Ernst & Young Terco, que ouviu 1.000 executivos no mundo todo. Dois terços dos entrevistados (63%) consideram a economia global, ao menos, estável, embora seja ressaltado no relatório que "a diminuição do crescimento nos EUA, acompanhada do rebaixamento da classificação de crédito do país e da escalada da crise da dívida soberana na zona do euro, afetou a atividade do mercado de capitais à época das entrevistas". A confiança está "particularmente alta" em setores como energia, petróleo e gás, metais e mineração.

 

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