Após alta nos últimos anos, número de fusões e aquisições apresenta queda

Dados recentes mostram que mercado começou a se estabilizar após o aumento de casos em função da pandemia; empresas de tecnologia lideram movimento

Nos últimos anos houve um aumento considerável no número de fusões e aquisições que ocorreu no mercado brasileiro. Somente em 2021, foram mais de 1650 casos, de acordo com uma pesquisa realizada pela PwC. Entretanto, após o melhor momento de uma série histórica, o setor de M&A apresentou uma queda de 17%, com aproximadamente 1200 negócios fechados em 2023.

Entre os casos recentes mais emblemáticos estão a compra da Kopenhagen pela Nestlé e a união da Arezzo com o Grupo soma, que juntos movimentaram mais de R$17 bilhões, e aqueceram a economia do país. Apesar da queda no número de transações, a situação não é preocupante – pelo menos é isto que afirma o especialista em varejo Erlon Labatut (foto em destaque) credenciado pelo Sebrae e associado a Asociação Brasileira de Franchising.

“A queda é normal, e significa que o mercado está se estabilizando. Este pico ocorreu durante a pandemia, que foi um período turbulento para os negócios. Então aquelas empresas que passavam por dificuldade acabaram sendo adquiridas por uma outra em uma situação melhor, e assim puderam somar forças. Em ambos os casos é o mesmo raciocínio: otimizar o uso dos recursos e aumentar o número de clientes”, explica o consultor.

Ele aponta ainda que o número vem caindo devido a uma demanda reprimida de aquisições e fusões. Nas situações economicamente confortáveis, estes processos costumam ser mais complexos, pois envolvem negociação de valores, apresentação de documentos, estratégias de branding, entre outros elementos. Por esse motivo, em períodos de crise, muitas empresas com maior capital tendem a aproveitar para realocar recursos por meio desses processos.

Quem lidera o movimento são as empresas de tecnologia, mídia e telecomunicações, que compreendem cerca de 45,3% do montante, seguidos pelos setores de consumo (16,9%), indústria de manufatura e automotiva (11,3%), serviços financeiros (8,9%) e energia (8,7%). Os demais setores compreendem cerca de 9% dos contratos fechados. Para Labatut, os dados representam o escalonamento que estes segmentos possuem.

“Quando observamos tecnologia e consumo nas duas primeiras posições, podemos perceber o tamanho do impacto de escalonamento destes setores. Empresas de softwares, por exemplos, possuem suas carteiras de clientes com desejos e interesses parecidos. Então se unir sob uma mesma bandeira pode gerar mais receita para o negócio, além de agregar valor. É o caso da TOTVS, que vem se tornando uma gigante do mercado através de fusões e aquisições”, aponta.

Por meio deste modelo aquisitivo, a empresa de tecnologia teve uma receita líquida de R$4,6 bilhões em 2023, uma alta de 18% em relação ao ano anterior. Mas ela não é a única que deve colher frutos este ano, o especialista em varejo coloca como apostas de sucesso a aquisição da Cresci e Perdi pela Enjoei, em uma transação superior a R$30 milhões, e a fusão da Arezzo com o Grupo Soma, que se torna a maior holding de moda da América Latina, avaliada em R$12 bilhões.

Enquanto isso, a compra do Grupo CRM (que incluí a Kopenhagen, Chocolates Brasil Cacau e Kop Koffe) pela Nestlé é um caso a ser observado com atenção. A transação, que não teve seu valor revelado, mas é estimada em R$4,5 bilhões, traz segmentos distintos de mercado.

“Ao contrário dos casos anteriores, como o da Arezzo com o Grupo Soma, aqui temos empresas que atuam em setores diferentes. A Nestlé é um dos grandes players do varejo nacional, enquanto a CRM atua mais no franchising, com pontos de venda próprios. Essa aquisição é um posicionamento de mercado: a Nestlé quer entrar de vez no varejo. E para isso acontecer é necessária uma adaptação, ou podemos ver uma sobreposição da questão da indústria sobre o varejo, influenciando a atuação da CRM”, completa.

Outro dado relevante sobre este tema é a origem do capital. Em 2017, apenas 59% dos investimentos em compras e fusões acontecia com capital nacional, ou seja, ainda existia uma forte presença externa. Desde a pandemia, este número cresceu consideravelmente, passando de 78,3% em 2020, para 80,1% no ano passado – que comprova o crescimento e a estabilização do mercado nacional.

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