Pesquisa da Ipsos revela que dois em cada três entrevistados não sabem o valor das taxas cobradas em parcelamentos ou empréstimos
De cada três brasileiros, dois não fazem ideia da taxa de juros que pagam na hora de comprar um bem, de contratar um serviço ou de pegar dinheiro emprestado no banco. É o que revela pesquisa feita pela Ipsos, multinacional francesa de pesquisa, em parceria com a revista Exame: 67% dos entrevistados não sabem qual o valor das taxas cobradas. A situação representa um risco para o comprador, que pode ver sua dívida crescer mais rápido que sua capacidade de pagamento.
Na divisão por faixa etária, os jovens com idade entre 25 e 34 anos lideram a falta de informação relacionada aos juros: 68% desconhecem as taxas cobradas. Na avaliação do diretor executivo da Ipsos Public Affairs, Paulo Cidade, a pesquisa mostra dois pontos importantes.
O primeiro é a dificuldade do brasileiro em lidar com um tema mais técnico. "Grande parte da população tem dificuldade em entender a dinâmica e o cálculo das taxas de juros sobre a compra."
A segunda observação é que a cultura do crédito é relativamente recente no País. "Demora um certo tempo para a população absorver e incorporar cálculos de juros nas decisões de compra ou empréstimo", destaca Cidade.
Diante desse cenário, o valor da prestação mensal tem o maior peso na hora da compra: 42% dos entrevistados fazem compras a prazo ou empréstimo quando sabem que a prestação caberá no bolso.
O problema é que, com o desconhecimento das taxas de juros, o consumidor pode pagar duas, três vezes o valor do produto, segundo o professor de professor de finanças da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), Mário Amigo.
Aproveitando da situação, algumas lojas destacam apenas o valor da prestação mensal e deixam a taxa de juros em números menores, o que contribui ainda mais para o consumidor "deixar de lado" essa informação na hora de comprar ou contratar financiamentos.
Pesquisa necessária
O professor observa que muitas vezes, por comodidade, o brasileiro faz o empréstimo mais fácil e não consulta outras instituições e modalidades de crédito em busca de taxas mais baixas. Ao tomar empréstimos e fazer compras com juros altos, o consumidor corre o risco de não conseguir pagar e ter o nome incluído na lista de inadimplentes. "O brasileiro precisa aprender a lidar com o crédito e ser mais disciplinado."
A auxiliar de administração Cristina Fernandes Venancio, de 35 anos, confessa que não tem o costume de analisar os juros antes das compras. "Comprei um carro zero financiado e só fui ver as taxas depois que já estava pagando. Os juros eram tão altos que acabei pagando o valor equivalente a dois carros iguais. A partir de agora, vou comparar os juros antes de fechar o negócio, para não acabar levando prejuízo. "
Comparar sempre
Já o vendedor Renato Albuquerque, de 27 anos, diz sempre analisar os juros dos produtos que costuma comprar financiados ou a prazo. "Temos financiamento da casa própria e sempre ficamos atentos às taxas de juros. Comparamos o preço à vista com o total à prazo (incluso os juros). Quando os juros são muito altos, preferimos comprar à vista."
A vendedora Edvania Feitosa, de 29 anos, também confere os juros, mesmo nas compras baratas. "Eu sempre comparo as taxas de juros e, como o preço sempre fica bem mais caro, guardo dinheiro e compro o produto à vista.