Por Itali Collini, economista, Investidora Anjo e diretora da Potencia Ventures
O investimento de impacto vem ganhando força nos últimos anos, à medida que mais investidores buscam alinhar suas metas financeiras com resultados sociais e ambientais positivos. De acordo com a Pesquisa Anual de Investidores de Impacto de 2021 da Global Impact Investing Network (GIIN), o tamanho estimado do mercado global de investimento de impacto atingiu US$ 715 bilhões, 42% acima dos US$ 502 bilhões de 2019. Na América Latina, a Aspen Network of Development Entrepreneurs (ANDE) levantou que o mercado é de US$ 3,4 bilhões, sendo que o Brasil representa 29% deste valor.
Embora o investimento de impacto tenha tido um crescimento tremendo nos últimos anos, ele não está imune às forças do mercado. A falência do Silicon Valley Bank (SVB), uma instituição financeira que desempenhou um papel fundamental no apoio a startups e empresas de capital de risco nos Estados Unidos, pode ter um impacto significativo na indústria de investimentos de impacto.
O primeiro e mais direto é o impacto negativo nas empresas do portfólio: muitas startups de impacto que operam nos EUA, ou precisam abrir entidade lá para atrair capital internacional, dependiam dos serviços financeiros do SVB. A maior parte das gestoras de capital de risco também possuíam relação com o banco.
Trabalhando em uma organização que investe em fundos de VC e também em startups, eu pude ver de perto o potencial efeito dominó profundo que teríamos caso o governo americano não tivesse salvo o banco naquela segunda 13 de março. Ainda sim, muito estresse e insônia dominaram o final de semana dos empreendedores e investidores impactados, com uma preocupação real de como pagariam funcionários com as contas travadas em eterno status de “processing…”. Foi também uma dura lição sobre dependência excessiva de um banco e necessidade de diversificar provedores de serviços financeiros.
Além disso, a falência do SVB poderia ter um efeito cascata em todo o setor de capital de risco. Muitas outras instituições financeiras consideram o SVB um modelo para atender às necessidades de empresas early stage, e seu fracasso pode levar à perda de confiança no setor como um todo. E a consequência pode ser um declínio na atividade de investimento e a uma redução na quantidade de capital disponível para investimentos de impacto.
Explicar o que é investimento de impacto e demonstrar sua possibilidade de trazer retornos na média do mercado ou acima dela é trabalho constante dos investidores e empreendedores deste setor, porém quando o contexto balança dessa maneira, os agentes tendem a correr para classes de ativos que consideram mais familiares, com maior histórico de existência e validação. Ainda é cedo para mensurar todos os desdobramentos do caso do SVB para o investimento de impacto, mas a sensação de que o humor do mercado piorou já é sentida por quem acompanha o dia a dia de startups buscando captação de novos investidores.
* Itali Collini é formada em economia pela USP e possui 10 anos de mercado financeiro. Como investidora de Venture Capital na Potencia Ventures, seleciona startups com impacto em educação ou empregabilidade para receber investimento em rodadas Semente (Seed) e Série A (Series A). Como investidora anjo, Itali seleciona startups fundadas por mulheres, negros, LGBTQIA+ e pessoas com deficiência que construam soluções para mercados promissores e usuários sub atendidos. E, por fim, como mentora e educadora, Itali ajuda empreendedores a entender como e quando captar investimento nos estágios iniciais, além dos tipos de recursos compatíveis com cada negócio. A especialista possui forte bagagem profissional no setor de investimentos, empreendedorismo e liderança feminina, startups, inovação e também economia.