*Por Breno Perrucho
Muito se fala sobre a situação profissional do jovem brasileiro, mas pouco se discute sobre os motivos que estão por trás dela, principalmente com as constantes mudanças, ocupações novas e vagas que ficaram obsoletas ou desatualizadas para o mercado de trabalho. Um levantamento da Subsecretaria de Estatísticas e Estudos do Trabalho, do Ministério do Trabalho e Emprego, revelou que 5,2 milhões de jovens entre 14 e 24 anos estão desempregados, correspondendo a 55% do total de pessoas nessa situação no país. Além disso, o mesmo estudo indicou que 86% daqueles que trabalham têm ocupações pouco desafiadoras e que a maioria dos 35 milhões de jovens não completaram o Ensino Médio.
O estudo “Sonho dos jovens para o futuro profissional”, organizado pela Empresa Júnior da Universidade de Vila Velha (UVV), constatou que 50,9% dos jovens entre 15 e 30 anos buscam profissões mais modernas e 41% deseja ter uma carreira sólida. Então, não estar preparado adequadamente para uma oportunidade, seja por falta de conhecimento técnico ou habilidades comportamentais solicitadas pelas empresas, pode ser uma das causas do alto índice de jovens sem trabalho.
Se por um lado a taxa de desemprego dessa faixa etária surpreende, a pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM), em parceria com o SEBRAE, comprova que a realidade está em transformação, já que 55% dos novos empreendedores do país possui entre 18 e 24 anos. Inclusive, ter o próprio negócio é o sonho da nova geração pelo que mostra os dados da Yubo, plataforma social da Geração Z, em que 50% dos jovens com idades entre 13 e 25 anos pretendem empreender no futuro.
Uma premissa que acredito é que de nada adianta querer empreender sem ter o conhecimento básico necessário para colocar em prática e, infelizmente, essa é uma defasagem do ensino brasileiro. De acordo com uma análise da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), com a Educa Insights, 76% dos universitários se encaixam em algum perfil de empreendedorismo, entretanto, apenas 32% deles acham que a faculdade oferece cursos que estimulem os alunos a desenvolverem soluções inovadoras ou ajudem a estabelecer negócios, ou seja, nenhum deles se sente preparado com o aprendizado que tiveram.
A importância da educação empreendedora nas escolas
É urgente a contemplação de conhecimentos mais práticos na grade curricular das escolas, isso porque o aprendizado de matérias específicas, nem sempre são utilizados quando o jovem sai da escola ou da universidade. É por conta dessa inexperiência e ineficiência de saber que muitos negócios não evoluem ou conquistam seu espaço e para desmistificar um pouco essa realidade, e dar oportunidades melhores de sucesso aos jovens, compartilhei no meu livro “O que o ensino não te ensina” algumas lições necessárias.
Quando falo sobre a importância de uma educação empreendedora, ressalto a relevância da existência dos empregadores. É a partir deles que há empregados, a manutenção de uma economia saudável e de programas assistenciais, pois eles estão dispostos a arriscar dinheiro com suas ideias, comprando franquias, estruturando modelos de negócios, vendendo produtos e serviços e pagando impostos, viabilizando também remunerações. É comum que a falta de conhecimento relacionado ao empreendedorismo reflita em um pensamento que ser dono do próprio negócio é ruim, o que é uma inverdade considerando que essa é a forma mais democrática e acessível de ganhar dinheiro.
Outra questão a se ponderar sobre a formação de base é o domínio da educação financeira, uma vez que todos os brasileiros têm contato com o dinheiro, seja através de salários, dívidas, investimentos e muitas vezes não sabem diferenciar o limite do cartão de crédito do orçamento mensal ou renda que recebem ou conseguem estabelecer metas financeiras de curto, médio e longo prazo. Conhecimento é o maior minimizador de riscos que existe e uma sociedade cheia de empreendedores é próspera, movimentando todas as esferas necessárias para o aumento da concorrência de preço, arrecadação do governo e possibilidade de sair do caminho profissional padrão, crescendo as chances de enriquecer.
Começando um negócio do zero e sem dinheiro
A maioria das pessoas acredita que para empreender é preciso ter algum dinheiro e pensam unilateralmente que só se ganha um montante quando se tem um. A boa notícia é que existem outras formas de começar um negócio mesmo sem uma verba destinada para isso, basta definir objetivos claros, fazer sacrifícios, se dedicar e acreditar que dará certo. De qualquer maneira, existem algumas formas de empreender do zero com sucesso:
Pedir ajuda
Não há nada de errado em pedir ajuda ou oferecer o serviço que presta de forma gratuita para mostrar o seu trabalho, mesmo que ninguém esteja olhando para ele porque você não tem histórico, experiência ou valor agregado, ainda. Quando se pede um favor a alguém, cria-se um saldo negativo com essa pessoa que deve ser compensado no futuro, formando uma corrente do bem. Essa ajuda pode ser, no início, de um local, de uma especialização, de um aporte ou de tempo e todos se beneficiam.
Ter um emprego
Na maioria das vezes é preciso dinheiro, mesmo que num valor mínimo, para começar o próprio negócio, independente da área que se deseja atuar e principalmente para custear itens ou contas básicas no início. O meu conselho é que o jovem trabalhe e foque em acumular dinheiro para comprar o seu “ticket do tudo ou nada”, ou seja, uma reserva de emergência que vai custear a qualidade de vida por um tempo para que seja possível centralizar todas as forças no sucesso do empreendimento, sem distrações. É imprescindível ter em mente que esse ticket pode levar tempo, pois você é o único que sabe quanto pode destinar do seu rendimento para construir sua reserva de emergência.
Buscar conhecimento
Mesmo sem qualificação, aprender algo hoje é simples, fácil e gratuito, estando acessível por diferentes canais, como em vídeos e plataformas online. Se dedicar para aprender algo que agregue é o primeiro passo para conquistar uma vaga em uma empresa e planejar o próprio negócio. Quando compreendemos o que precisamos, evitamos prejuízos.
Fazer mais do que a maioria
Nos negócios temos uma coisa que chama ‘oferta ultrajante’, que é basicamente chamar a atenção do cliente entregando algo de graça para que eles conheçam o seu produto ou serviço. Isso também pode ser aplicado no empreendedorismo, quando você oferece seu trabalho sem custo para que outras pessoas o conheçam e estejam dispostas a te contratar ou até mesmo investir na sua ideia.
Captar recursos com familiares e amigos
As pessoas próximas e que te conhecem podem querer investir no seu negócio no início em troca de ter uma parte do que construiu no futuro. O dinheiro pode vir por eles em troca de uma participação dos lucros quando ele vingar.
Usar o dinheiro do cliente
A melhor maneira de começar um negócio de sucesso do zero é usar o dinheiro do cliente, por exemplo, com pré-venda de produtos e serviços. Nem sempre será necessário ter um estoque, desde que você tenha um relacionamento de confiança com o fornecedor. Através de um site gratuito, por exemplo, é possível divulgar o seu negócio no seu círculo social ou em grupos nas redes sociais e, a partir do momento que tiver as suas vendas realizadas de maneira antecipada, efetuar a compra do que precisa com o dinheiro dos próprios clientes que confiaram na sua marca.
* Empreendedor e fundador da Jovens de Negócios, startup de educação financeira e negócios criada em 2018 e que já acumula mais de 49 mil alunos em seus cursos pagos e gratuitos e quase 117 mil de downloads em seu aplicativo. Desde 2020 é sócio do Grupo Primo Rico.