Contribuição por mais lideranças femininas no mercado de trabalho

*Por Livia Rigueiral, CEO do Homer e sócia-investidora da venture builder Ipanema Ventures

É inegável que, com o passar dos anos, mais mulheres se tornaram protagonistas no mundo corporativo ao assumir cargos de gestão. Inclusive, dados de uma pesquisa da Page Executive comprovam que a presença delas na liderança cresceu 7% de 2019 a 2020 – passando de 30% para 37%. No entanto, se considerarmos que no Brasil há mais mulheres que homens – de acordo com a PNAD 2019, 51,8% dos brasileiros são mulheres, e 48,2% são homens -, a representatividade delas ainda é baixa.

Você já parou para se perguntar, por quê?

É claro que fatores culturais, apesar de retrógrados, virão à mente de todos como resposta quando o assunto for desigualdade de gênero no mercado de trabalho. É um problema estrutural grave e enraizado, que dados do estudo “Informe e percepção de gênero”, do LinkedIn comprovam. Eles revelam, por exemplo, que na corrida por uma oportunidade de trabalho, as mulheres têm 13% menos chances de terem seus perfis vistos pelos recrutadores que os homens. Os responsáveis por selecionar os candidatos dão preferência a candidatos do sexo masculino, sem sequer terem aberto o perfil da candidata para avaliar suas competências. Parece algo distante da nossa realidade, até vermos dados como esses, que se encarregam de nos mostrar que o preconceito por conta do gênero está mais presente no nosso dia a dia do que imaginamos. Mas de que forma nós mesmos contribuímos para que ele continue existindo?

A falta de oportunidade, aliada à falta de confiança nelas, figura para mim no primeiro lugar do ranking de razões pelas quais há menos mulheres ocupando cargos de chefia. Se tomarmos como exemplo mentorias – que, segundo estudo da Concordia University, contribuem para o crescimento tanto dos mentorados quanto dos mentores, e tem papel fundamental na formação de grandes líderes -, não vemos números significativos na procura por mulheres para mentorarem homens. Uma pesquisa realizada pela Universidade do Michigan revelou que houve apenas 21 resultados nas buscas no Google por “mulheres mentoria para homens”, enquanto “mulheres mentoria para mulheres” teve 807 resultados.

Muitas vezes, os colaboradores – mesmo que do sexo feminino – demonstram menos respeito às líderes, ao compararmos com a atenção que desprendem aos chefes do sexo masculino. Será por falta de competência das que estão à frente das equipes, ou apenas o velho hábito de ver nos homens esse papel de mentor, associar homens a cargos de destaque no universo corporativo, e respeitá-los mais por essa posição “que lhes pertence”?

Para te ajudar em sua reflexão sobre como o meio contribui para que as mulheres tenham menor participação no alto escalão das empresas, acho importante destacar a disputa quase que desleal que é travada, absolutamente sem propósito racional algum, entre eles e elas. Digo desleal porque, além de terem que desenvolver mais habilidades técnicas que os homens para serem consideradas competentes, ainda é cobrado das líderes que elas sejam calorosas e agradáveis, afinal, desde os primórdios, essas características erroneamente ficaram associadas às mulheres. E é aí que mora um grande problema. Em uma sociedade estruturalmente machista, esse comportamento terno automaticamente distancia a mulher da imagem forte que um cargo de gestão exige, logo, elas se veem mais distantes também da possibilidade de liderar equipes.

Acredito que a sociedade tem repetido discursos e, consequentemente, erros do passado, o que acaba por tornar falha a valorização das muitas atribuições que naturalmente encontramos no modelo de gestão das mulheres, como a inteligência emocional, capacidade de criar estratégias e gerenciar crises – ainda mais em tempos de pandemia -, dentre tantos outros pontos técnicos ou de relações interpessoais, que só agregam ao ambiente corporativo. Apesar do peso que apenas pelo fato de serem mulheres as gestoras já carregam, é nelas que deposito minha esperança quanto à quebra de paradigmas, quanto a mudanças significativas a curto e médio prazo para que, a longo prazo, a força feminina seja disseminada e todos se conscientizem sobre a importância – e os impactos positivos – que a igualdade no mercado de trabalho pode gerar às mulheres, a famílias inteiras, empresas, e ao país.

As batalhas são diárias, por isso, chamo homens e mulheres a uma reflexão, e à ação. Para que haja uma evolução significativa do debate sobre a importância de uma sociedade mais igualitária, transpondo a teoria e passando à prática, é fundamental inserir mais mulheres no mundo dos negócios. Que tal dar o primeiro passo e contratar/respeitar mulheres? Ou, melhor ainda, que tal incentivar e promover a presença delas em áreas majoritariamente masculinas, ou dar suporte às que se dedicam ao trabalho e também à criação dos filhos?

O debate já foi aberto, e acredito que as corporações compreenderam que têm papel fundamental para que o mercado seja mais democrático, assim como elas já entenderam que podem estar onde quiserem. Só cabe a todos dar a oportunidade para elas estarem.

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