Piora da situação na Europa reduz crédito disponível para o Brasil e encarece financiamentos; Fiesp já teme demissões no início de 2012
As pequenas e médias empresas brasileiras já começam a sentir no dia a dia os efeitos da crise europeia. Relatos de empresários e banqueiros colhidos pelo ‘Estado’ mostram que o custo dos financiamentos para companhias desse porte subiu nas últimas semanas. É um cenário semelhante ao de 2008, mas, por ora, com intensidade muito menor.
Mesmo com essa ressalva, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) está preocupada. "Corremos sério risco de que, como em 2008, muitas empresas demitam na volta das férias coletivas, no início do ano que vem", afirmou o diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia da entidade, José Ricardo Roriz Coelho.
Um banqueiro que pediu para não ser identificado mostra alguns números para ilustrar o tamanho do problema. Segundo ele, há cerca de um mês, uma empresa de pequeno porte pagava, em média, 28% ao ano por uma linha de crédito. Hoje, esse mesmo produto custa 32% ao ano. No caso de uma companhia de porte médio, o custo subiu de uma média de 20% para 23% ao ano, também de acordo com o banqueiro.
Há cinco dias, a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) divulgou um levantamento que confirma a tendência. Segundo a pesquisa, a taxa média de juros no segmento empresarial saiu de 58,08% ao ano em outubro para 59,92% ao ano em novembro.
"Apesar da redução da taxa básica de juros (Selic), os financiamentos estão ficando mais caros no Brasil", disse o presidente da entidade, Miguel de Oliveira.
Explicação. A explicação para o cenário está na crise da Europa. Em primeiro lugar, o risco de que países da região deem calote elevou o juro que é referência no mercado global. A taxa Libor para um empréstimo de seis meses subiu de 0,67% para 0,77% ao ano no intervalo de um mês – comparando-se meados de novembro com a taxa de ontem.
Além disso, os bancos europeus têm grande exposição aos títulos da dívida pública da região. Em outras palavras: o risco de levar um calote os leva a ficar mais cautelosos na concessão de empréstimos, um movimento que inclui a destinação de recursos para bancos no Brasil.
Por fim, o mercado externo ficou mais restrito para captações. Levantamento da Agência Estado mostra que as emissões de empresas brasileiras caíram 70% no segundo semestre, na comparação com igual período de 2010 – de US$ 20 bilhões para apenas US$ 5,55 bilhões.
Com isso, lembra outro banqueiro, empresas de maior porte acostumadas a levantar dinheiro lá fora acabaram se voltando para o mercado doméstico. Ou seja, deixaram o mercado de capitais global para disputar recursos nos bancos nacionais.
"A diferença entre o momento atual e o de 2008 é que, lá, o dinheiro desapareceu", disse o banqueiro. "Hoje, há recursos, mas, como a disputa ficou mais acirrada por causa da entrada das grandes empresas, o custo dos empréstimos subiu."
Para piorar, Oliveira, da Anefac, observa que a desaceleração da economia no terceiro trimestre (e provavelmente no quarto) deixou os bancos mais cautelosos para dar crédito, com medo de um possível aumento da inadimplência à frente.