CVCs crescem no Brasil e se mantêm atentos a movimentos disruptivos, em busca de negócios inovadores

Por Gabriela Toribio, Managing Diretor da Wayra Brasil e Vivo Ventures e integrante do Comitê Executivo de CVCs da ABVCAP

Em 2022, o mercado de VC (Venture Capital) viveu uma série de ajustes. Atentos ao cenário macroeconômico, os investidores diminuíram o ritmo dos seus aportes, aumentaram o ciclo de avaliação de startups, além de terem readequado os valores e as rodadas de investimentos. Contudo, na contramão do ritmo adotado pelos VCs tradicionais, os CVCs (Corporate Venture Capitals) do Brasil apresentaram franco crescimento. Somente no ano passado, 13 empresas listadas na bolsa de valores lançaram suas iniciativas para financiar empresas em estágios iniciais, número que representa quase o dobro do apresentado em 2021, quando oito fizeram este movimento. Somados, estes fundos de investimento representam mais de R$ 3 bilhões em capital comprometido com o cenário empreendedor nacional.

Esta mudança é reflexo de um mercado em expansão e que busca cada vez mais diversificar as fontes de investimentos e os parceiros de negócios. Levantamento recente da ABVCAP, realizado com o apoio da Wayra e Vivo Ventures, revela que cerca de 88% das empresas brasileiras consultadas tinham iniciativas em CVCs. Neste percentual, todas declararam realizar investimentos pensando em se preparar para disrupções futuras e buscar oportunidades. Trata-se de uma taxa significativamente maior do que a média global (61,5%), demonstrando maior interesse dos executivos dos CVCs do Brasil em apostar no investimento em startups como uma ferramenta para lidar com momentos e ambientes de incerteza. Essa métrica reflete bem o sentimento de quem está na linha de frente dos investimentos corporativos aqui no Brasil. Ao invés de retrair, o CVC é uma oportunidade perfeita para experimentação de novidades que agregam aos negócios das corporações ou que até mesmo possam levar a criação e desenvolvimento de novos serviços e produtos.

Uma das grandes diferenças entre CVCs e fundos tradicionais de VC tem a ver com os interesses para o estabelecimento de uma parceria. De um lado, as empresas veem nas startups o benefício de se preparar para um mercado cada vez mais ágil e disruptivo,além da possibilidade em gerar novas receitas; do outro as startups encontram nos CVCs um investidor comprometido com o sucesso das iniciativas. E isso se reflete nos números do levantamento da ABVCAP: a larga maioria (97,1%) dos CVCs do país alegam se dedicar a apoiar as startups investidas ao oferecer acesso a redes de fornecedores, de consumidores ou até por meio de acordos comerciais especiais. Outras vantagens incluem o acesso a informações de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) e conhecimento técnico das companhias (oferecido por 88,2% dos CVCs do Brasil), além de ganhos relacionados a melhorias de marketing e relações públicas (64,7%).

Setor ruma para maior maturidade ao longo dos próximos anos

Como reflexo do crescente interesse das companhias de capital aberto em encontrar uma maneira de investir em negócios inovadores, uma parte significativa (73%) dos CVCs brasileiros estão hoje em uma fase considerada inicial. Segundo a ABVCAP, esse volume de novos CVCs está bem distribuído entre diferentes indústrias, sendo que metade das empresas listadas em bolsa têm unidades de CVC em ação a partir de 2023.

Isso significa que os principais desafios que deverão ser superados pelos CVCs brasileiros ao longo dos próximos anos têm a ver com essa busca por maior maturidade. Apesar do ecossistema brasileiro de CVC ter, em sua maioria, iniciativas ainda recentes, a ABVCAP aponta para um aspecto muito relevante dos investimentos corporativos feitos no Brasil, que diferente da média global, tendem a usar veículos de investimentos como o FIP, que é formalmente regulado pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários).

A percepção é que essa escolha aponta para uma maturidade das empresas brasileiras (mesmo as iniciantes em CVC) para a aplicação de boas práticas, que oferecem maior segurança jurídica e tributária. Com um mercado em efervescência, vale a todos os agentes do ecossistema acompanhar as tendências e as experiências bem sucedidas como benchmarking para melhoria dos processos.

*Com ampla experiência nas áreas de inovação e empreendedorismo, Gabriela Toribio, é Managing Director da Wayra Brasil e Vivo Ventures, com foco em aproximar startups e a Vivo, para gerar oportunidades de negócio em conjunto, impulsionando o ecossistema empreendedor com contratos e aportes financeiros. A executiva também é Coordenadora do Comitê de Corporate Venture Capital (CVC) da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (Abvcap), instituição que tem o objetivo de fomentar o ecossistema de CVCs no Brasil.

Entre suas experiências anteriores, a executiva foi Head de Venture Capital da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e também é fundadora da Alimentos da Vila, empresa baiana cuja missão é expandir o acesso à alimentação saudável, natural e orgânica, e professora da FIAP, onde dá aulas de empreendedorismo na disciplina Startup One. 

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