15Empresários contam as dificuldades e os benefícios de ter uma marca sustentável
Empreender no Brasil não é uma tarefa fácil, mas quando se trata de um “negócio verde”, com responsabilidade socioambiental, os desafios são ainda maiores. Além do custo elevado para conseguir uma matéria-prima pura e de qualidade, manter o trabalho justo e sustentável em todas as etapas de produção também não é para qualquer um. Mas segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), ter um negócio verde pode ser o caminho para a redução de custos e desperdícios na produção, para aumentar a eficiência da gestão e fortalecer a marca.
E é essa a aposta dos cariocas Roberto e Maruska Maciel ao investirem todas as suas fichas na Maré Chocolate. Fundada em agosto do ano passado, em meio a pandemia, a marca carioca é especializada em tabletes 100% naturais e plant-based, sem glúten, leite, soja ou açúcar branco refinado. Além de oferecer um produto inclusivo e que oferece saúde e bem-estar aos clientes, o negócio ainda conta com uma forte responsabilidade socioambiental em toda a sua cadeia produtiva, do cultivo até as prateleiras. “A Maré Chocolate nasceu para fazer o bem, promover o bem-estar para quem consome, para quem planta e para o meio-ambiente. Compramos cacau proveniente de agricultura familiar e orgânica, remunerando o produtor de forma justa, garantindo parceria positiva para ambos e qualidade de vida na roça. Os custos de se trabalhar com excelência e consciência são altos, o que requer alguma escala para atingir o break-even, mas é muito gratificante ver o impacto positivo no mundo, as florestas preservadas, as famílias na roça felizes e as pessoas se alimentando com qualidade. Estamos fazendo a nossa parte.”, conta o sócio Roberto Maciel.
De acordo com Rafael Zarvos, certificado em ESG pela PUC-Rio e pela Exame Academy & Trevisan Escola de Negócios, ter um pequeno empreendimento em crescimento se torna mais vantajoso, por ter a possibilidade de adequar todas as questões socioambientais e de governança desde cedo. “A grande vantagem de uma empresa familiar como a Maré Chocolate é que, nesta primeira fase, é possível um maior controle sobre seus steakholders, acompanhando todos os processos de produção e garantindo, assim, que o produto final adote as práticas sociais e sustentáveis”, analisa o especialista.
Além de serem feitos com apenas três ingredientes – cacau orgânico, manteiga de cacau orgânico e algum adoçante natural – os chocolates da Maré Chocolate ainda contam com produção slow food – onde as amêndoas são processadas por dias à baixa temperatura no moinho de granito rosa, para manter as propriedades benéficas do cacau, que fazem bem para o corpo e para a mente. Outro ponto importante é o cacau utilizado como matéria-prima pela Maré Chocolate, que ainda é cultivado pelo método cabruca – um sistema agroflorestal que preserva a Mata Atlântica nativa do Sul da Bahia. Porém, para conseguir manter esse padrão de qualidade na sua produção e garantir cacau o ano todo, os sócios precisaram aprender sobre as safras do cacau e ter um planejamento afiado para garantir a matéria-prima o ano todo.
“O cacaueiro se adapta perfeitamente ao sistema cabruca, à sombra da floresta. É uma árvore que gosta de sol, sombreamento e muita água. A agrofloresta gera, também, abundância de recursos hídricos. Portanto, não faz sentido cultivar o cacau em sistema de monocultura, muito menos com defensivos agrícolas. Ambos empobrecem e desertificam o solo. Aprendemos sobre a sazonalidade do cacau e aproveitamos esse momento para estocar. Trabalhar com a mãe-natureza requer
São muitos os desafios do empreendedorismo verde no Brasil. E para o carioca Roberto Maciel é preciso viver essa realidade para se ter êxito. “Eu deixei de comer carnes, ovos e leite aos 13 anos de idade, em 1997. As barreiras, preconceitos e julgamentos foram enormes. As pessoas estão se conscientizando e, com isso, o mercado plant based tem crescido significativamente. Ainda é um mercado de nicho, com diversas barreiras, o que tem prós e contras. É um mercado relativamente pequeno, mas em franco crescimento.”, finaliza o sócio.