Em 2011, País volta para ritmo ‘normal’

Para maioria dos especialistas, alta do juro e desaceleração do gasto público devem fazer economia crescer entre 4% e 5% no ano que vem

Depois de crescer em 2010 no ritmo mais forte desde a época do Plano Cruzado, a economia brasileira terá em 2011 uma expansão mais próxima daquilo que a maioria dos economistas de mercado considera sustentável. Para eles, o Produto Interno Bruto (PIB) deve avançar entre 4% e 5%. A desaceleração ocorrerá por causa de uma provável redução dos gastos do governo e de um novo ciclo de alta da taxa básica de juros (Selic).

"Mantemos a previsão de expansão de 4,5%, mas com risco de ser teto", disse o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale. "As chances de crescimento menor advêm dos efeitos de política monetária (taxa de juros) e da base de comparação muito alta deste ano."

O especialista observa que, no início do ano que vem, os dados do PIB provavelmente serão muito ruins. "Por que isso? É um efeito puramente estatístico, por causa da comparação com os números muito fortes que tivemos no início de 2010", explicou.

Ontem, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revisou uma série de dados de PIB dos últimos trimestres. Em todo o ano passado, houve uma retração da economia de 0,6%, em vez dos 0,2% inicialmente estimados.

O economista e sócio da JGP Investimentos, Fernando Rocha, estima um crescimento do PIB de 5,2% no ano que vem. "O Brasil só deixaria de crescer se houvesse restrição interna ou externa", observa. Do lado interno, o principal obstáculo seria a inflação. "Mas acho que vai haver tolerância maior com inflação e o juro não vai subir tanto."

Os riscos. No caso externo, ele acredita que só haveria problemas em caso de uma secura nos financiamentos ao Brasil, o que não está no radar hoje. Tal cenário, observa, só se concretizaria no caso de uma piora expressiva da situação na Europa.

"Se houver alguma quebra na região, com aumento de aversão ao risco, e o câmbio desvalorizar, pode acontecer um cenário como o de 2008/2009, com a crise externa causando desvalorização do real", pondera.

O economista da Opus Gestão de Recursos e professor da PUC do Rio, José Márcio Camargo, projeta expansão de 4,5% para 2011. "Na margem, a economia crescerá no seu potencial", observa. Ele chama a atenção para a importância das ações do Banco Central ao longo do ano.

"O BC tem de aumentar juros no começo do ano para evitar perder controle sobre as expectativas (do mercado) e perder a meta (cujo centro é de 4,5%)." A expectativa de Camargo é de que o IPCA, o índice oficial de inflação, encerre 2011 em 5,2%.

O economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn, também espera uma economia em ritmo mais fraco em 2011. O banco estima uma alta de 4,6% para o PIB, ante 7,6% neste ano.

A economista Monica de Bolle, sócia da Galanto Consultoria, está um pouco mais pessimista do que seus colegas. Para ela, o PIB do ano que vem crescerá perto de 3,5%, em parte para compensar a expansão muito superior ao potencial do País em 2010.
 

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