Cerca de 110 milhões de brasileiros têm acesso a um computador e nada menos que 25% da população brasileira já comprou pela internet. Mas se as vendas on-line para o consumidor poderão atingir um faturamento de até R$ 39 bilhões em 2015, com um tíquete médio de R$ 350; as vendas da indústria para seus parceiros se mostram como um mercado ainda mais promissor, com uma previsão de até R$ 1,6 trilhão em movimentação financeira, e um tíquete médio acima de R$ 10 mil, de acordo com dados do instituto E-bit.
Contudo, por incrível que possa parecer, a parte menos visível desse iceberg, e também a mais lucrativa, ainda carece de empresas especializadas na formatação do negócio. Algo que a catarinense Flexy Negócios Digitais vem realizando com sucesso há mais de três anos, com a criação de soluções em B2B (business to business), que proporciona a indústrias, atacadistas, importadores e distribuidores um canal atrativo, centralizando pedidos e vendas para seus clientes e representantes, através do site ou dispositivos móveis.
A emergente empresa do e-commerce nacional, sediada em Florianópolis, Santa Catarina, também atua na implementação de canais B2C (business to consumer), que é a venda direta de produtos e serviços ao consumidor final, automatizando todas as etapas do processo de vendas on-line. Por sua vez, outro atrativo nesse mercado são os shoppings on-line – tanto para atacadistas quanto varejistas – que utilizam os estoques e ofertas de industriais e lojistas, possibilitando ao cliente a compra de produtos de várias procedências ao mesmo tempo, separando pagamentos, pedidos e faturas para cada lojista. “A indústria é um mercado ainda mais qualificado que o varejo para a venda on-line. Por isso a Flexy desenvolve soluções focadas em vendas da indústria para qualquer um de sua cadeia, seja indústria de transformação, o varejista e mesmo o consumidor final. Hoje nosso foco de evolução e estudos é a indústria, vendendo para qualquer um que seja”, explica Cristiano Chaussard, que comanda a empresa junto aos sócios Marlon Hemkemaier e Juarez Beltrão. De acordo com ele, dentro do segmento de atacado e representação on-line em que a empresa atua, a formatação prevê a ação do tradicional representante comercial, que não é prejudicado com a transação direta entre atacadista e varejista, mas participa e otimiza o processo através de um acompanhamento dos pedidos realizados virtualmente.
Na área específica de shopping center atacadista, destaca-se a página industriasc.com.br, que surgiu de uma encomenda da Federação das Indústrias de Santa Catarina e hoje é a vitrine da indústria catarinense para o país e o mundo. “O projeto é da Fiesc, que nos contratou, onde qualquer indústria pode se cadastrar e disponibilizar produtos para vendas on-line. Por outro lado, desenvolvemos um projeto varejista, que é o Fecomércio Shopping, onde qualquer lojista pode se associar e contar com uma loja com endereço próprio”, destaca.
Quando os computadores entraram definitivamente na vida corporativa brasileira, no início dos anos 1990, Cristiano Chaussard – que viria a ser um dos pioneiros no comércio eletrônico no país – vivia as primeiras experiências em computação gráfica. Naquele momento, aproveitava a infraestrutura proporcionada pelos negócios de seu pai, dono de uma imobiliária e um dos mais conhecidos hotéis da capital catarinense, para aprimorar um conhecimento que ainda não se aprendia em universidade.
Foi assim que começou a desvendar o que viria a ser a internet, mas ainda de maneira embrionária. “Por volta de 1993, eu acabei caindo em uma atividade que era parecida com a internet, mas ainda não era como a conhecemos hoje. Eram redes municipais onde havia comunicação, pois a internet existia lá fora, mas ainda não no Brasil. Então eu e um grupo de amigos descobrimos que havia uma possibilidade de ligar para Miami e nos conectarmos, por um preço relativamente barato. E fazíamos um callback, onde a empresa de Miami nos ligava de volta com preço menor, e assim ficávamos conectados”, conta.
A paixão pela conectividade e pela busca de informação acabou levando o jovem nerd para uma carreira que iria dar frutos no emergente mercado de comércio eletrônico que se consolidaria anos mais tarde. “O fato de termos contato com a web antes dos outros fez com que conhecêssemos as primeiras linguagens de internet no país, como html. E assim passamos a ser os primeiros fornecedores em tecnologia de website em Florianópolis”, relembra.
O passo seguinte seria buscar uma especialização universitária na área, que naquele momento era muito precária. A solução foi migrar para São Paulo, onde passou a trabalhar no site Submarino. com, que na época ainda era apenas um projeto de e-commerce. Por outro lado, passou a frequentar o primeiro curso universitário com formação para internet no país, em meio a uma bolha econômica que possibilitava financiamentos acessíveis, sob grandes expectativas de um mercado novo. “Foi uma caça muito grande aos primeiros profissionais da internet, e eu fui trabalhar em uma agência multinacional de desenvolvimento de websites. Depois encampei alguns projetos internacionais, como os da Intel e IBM, que me projetaram fora do país”, conta Chaussard.
A carreira do catarinense em São Paulo ainda teria o impulso de um megasucesso de vendas, com a criação pioneira de um site para a comercialização de automóveis para uma grande montadora, algo inédito no país até então. Assim, quando decidiu aportar novamente em sua cidade natal e criar a Flexy, junto aos dois sócios, os mistérios do e-commerce já estavam desvendados para Cristiano Chaussard. Segundo ele, o que é necessário, a partir de agora, é uma melhor compreensão do lojista e do industrial brasileiro, sobre a necessidade de investimentos no setor. “Existe uma cultura malfadada no Brasil que diz que fazer e-commerce é tão barato que é quase de graça. E isso não é verdade, porque quem faz um negócio sem profissionais qualificados e um bom planejamento, não consegue estruturar um negócio que se sustente nem um mês. O e-commerce funciona com a cartilha correta, não com fórmulas mágicas”, ensina.
Um bom projeto de e-commerce necessita de três camadas: planejamento, tecnologia e comunicação. E essas etapas podem custar de R$ 5 mil até R$ 2 milhões, dependendo da ambição de retorno para cada projeto. E o campo para o desenvolvimento do comércio eletrônico no Brasil pede ousadia.
Desde 1999, o faturamento de todas as lojas brasileiras na internet vem crescendo de 25% a 45% ao ano. “É um crescimento estupendo, onde a cada três anos o tamanho do faturamento na internet dobra. Crescemos 29% só no ano passado, contra um faturamento estagnado de lojas físicas”, avalia Chaussard.
É um ótimo dado, mas ainda há muito a ser feito para que o crescimento do comércio eletrônico no Brasil possa avançar muito além das previsões mais otimistas. Antes de mais nada, é preciso que o lojista ou atacadista que pretenda dar início a um canal de vendas pela internet tenha clareza de que a plataforma de e-commerce é muito mais do que uma simples ferramenta. Port trás da loja virtual existem uma série de serviços que devem ser prestados continuamente, sob o suporte de bancos de dados, sistemas e servidores específicos. Investimento certo e muita dedicação já é um bom começo.