Empresária desafiou a família para manter o legado do século XX

Lucia Murad Neffa, mais conhecida como Xuxu, é filha de Antônio Neffa, empreendedor de família libanesa que herdou do pai um armazém de secos e molhados criado em 1918, logo após chegarem ao Brasil. A partir desse pequeno negócio, gradativamente, foi surgindo o Grupo Empresarial Neffa.

Formada em Contabilidade, Xuxu passou pela empresa de autoria Price Waterhouse, mas não nega que sua escola corporativa foi o dia a dia no Grupo Neffa, em especial a área de gestão de pessoas, a seu ver a maior habilidade que se deve ter, seja qual for sua área de atuação. Ela deixou uma promissora carreira na multinacional pelo amor ao legado familiar, opção de que nunca se arrependeu apesar do desconhecimento dos entraves que iria enfrentar.

Ao chegar ao Grupo, percebeu que sugestões de melhoria eram ofensivas e os obstáculos para o crescimento do negócio partiam do corpo diretor – foi quando descobriu o ambiente corporativo descomprometido, além de machista, em que estava inserida. Sua mãe e aliada, Maria Helena Murad, foi sua companheira de sala por muitos anos e ambas trabalhavam visando ao crescimento e prosperidade dos negócios e a perpetuação do nome da família. Eram carne e unha.

Em momento oportuno, quando Xuxu se sentiu tecnicamente preparada, deu início a um movimento para a retirada da empresa de pessoas pródigas no gastar. Apoiada pela mãe, com a participação acionária de que dispunha e alguns aliados, promoveu uma faxina étnica na corporação, que durou cerca de 10 anos.

Em meio a tudo isso, a empresa chegou a um grau preocupante de endividamento, mas o trabalho e a união de alguns membros da terceira geração foram determinantes para a mudança do cenário. A fórmula infalível, na visão de Xuxu é: segregação de funções, justiça, trabalho e respeito mútuo.

Com a morte da mãe, vítima de câncer, em 2010, Xuxu e seus dois irmãos adotaram uma gestão profissional e formaram um novo corpo diretor. Com muita garra, determinação e com uma personalidade inabalável, ela conseguiu a exclusão de todos os que faziam da empresa o quintal de sua casa.

Após 30 anos de trabalho, foi finalizada a drástica passagem de comando do Grupo da segunda para a terceira geração e a empresa começou a olhar para o mesmo lado – o do crescimento sustentável. O novo corpo societário – Xuxu e os dois irmãos -, conseguiu desenvolver em cinco anos o que não havia sido feito em 25. A nova diretoria ajustou as contas, investiu em novas frentes e colocou a companhia no rumo certo novamente.

Hoje, o Grupo Empresarial Neffa tem grandes parceiros comerciais como a Petrobrás e está conquistando, cada vez mais, mercados interestaduais como o paulista e o carioca.  O foco é expandir os negócios para todos os estados do Brasil.

Sete Pecados Empresariais

Xuxu sempre foi forte e determinada. Enfrentou toda uma tradição familiar machista e pródiga para dar continuidade ao legado iniciado pelo avô e desenvolvido pelo pai e pela mãe. Sua história se mistura com a trajetória da própria empresa e é descrita por ela no livro ‘Sete Pecados Empresariais – Relatos próprios e impróprios de uma herdeira”, que está sendo lançado pela Editora Gente, em novembro.

Com leitura envolvente, o livro retrata a realidade nua e crua de uma empresa familiar. É o relato particular de quem viveu toda a história. As páginas do livro contam episódios de luxúria, com diretores assediando funcionárias; ira e inveja, com acionistas expressando ciúmes diante do desenvolvimento profissional do outro; preguiça, com diretores que não queriam trabalhar; gula, com a retirada exagerada de dinheiro e muitos outros “pecados”.

Um verdadeiro guia não técnico, o livro mescla sentimentos de amor e ódio, vida pessoal e profissional, além de histórias que só existem em cenários familiares. Para quebrar o ciclo de degradação do patrimônio do clã, a autora – e herdeira caçula da terceira geração – penetrou em um mundo completamente machista e enfrentou toda a tradição libanesa para retirar – por expulsão, quando necessário – acionistas considerados “entulho institucional”. Lealdade, desprendimento e generosidade também ganharam espaço na publicação.

O livro é resultado de muita pesquisa, experiências pessoais e embasamento técnico e serve de consultoria para quem está disposto a trabalhar para o crescimento – ou socorro do patrimônio familiar. E mais ainda, ela escreveu de próprio punho, expressando todo o seu sentimento guardado ao longo de todo este período.

 

 

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