Thiago Araújo se tornou referência na comunidade e tem 70% de sua equipe inclusa na diversidade
Segundo o STJ (Superior Tribunal de Justiça), a comunidade LGBTQIA+ é formada por 18 milhões de brasileiros. Thiago Araújo é um deles. Aos 34 anos, o jornalista carioca entendeu que poderia aliar a representatividade de sua comunidade à indústria do entretenimento.
Em 2010, Thiago lançou o site ‘Pheeno’, com conteúdo focado na cultura LGBTQIA+. Foi assim que nasceu uma marca que hoje é consolidada e atua em diversos segmentos de lazer e cultura. E ao contrário da grande maioria das empresas que hoje focam no virtual para crescer e se aproximar dos seus clientes, Thiago foi do virtual para o real.
Com mais de 1 milhão de páginas visitadas por mês, o ‘Pheeno’ começou numa época em que falar da comunidade LGBTQIA+ não era algo legal, Thiago conta que já recebeu muito ódio online, mas que aprendeu a lidar com isso, mesmo porque, por outro lado, ele recebe diversas mensagens de apoio ao trabalho que faz. No momento, o site trabalha para prospectar anunciantes. O app de relacionamento gay ‘Blued’ é um dos grandes patrocinadores e, este ano, a Beats divulgou uma ação de Dia dos Namorados no ‘Pheeno’.
Aliado ao digital, Thiago também investiu na carreira de DJ, profissão que deu muito certo e mantém até hoje. Como DJ, o jornalista começou a promover festas e, das festas, vieram os bares. Com o público da comunidade estabelecido e fiel ao site, o empresário viu a oportunidade de investir em uma outra ramificação de entretenimento para a comunidade: os bares gays no estilo bar-balada, com cardápio de drinks e comidas, música e espaço para dançar, formato que já era bastante comum nos Estados Unidos, mas que não existia no Rio de Janeiro.
“Se já estão fazendo, eu penso em outro caminho”, afirma o empresário que está sempre em busca de inovação.
Em 2019 foi inaugurado o ‘Pink Flamingo’, o espaço foi sucesso imediato, casa cheia todas as noites e com um retorno financeiro que logo cobriu o investimento e começou a dar lucro. Então, em outubro de 2020, Thiago inaugurou o segundo estabelecimento, o ‘Black Cat’, no mesmo formato, mas com alguns serviços a mais. O segundo empreendimento ultrapassou todas as expectativas apresentando ótimos resultados de público e faturamento, o que levou à inauguração de um terceiro espaço, em maio deste ano, o ‘QG’. Nessa nova opção da noite gay carioca acontecem festas temáticas, além disso, o cardápio de comidas do ‘QG’ é mais robusto, lá o cliente pode chegar mais cedo, jantar e depois estender a noite na pista de dança.
“O faturamento anual supera os 3 milhões de reais”, afirma Thiago sobre os dois primeiros bares, ‘Pink Flamingo’ e ‘Black Cat”. Sobre o retorno financeiro do bar mais recente, o ‘QG’, o empresário traz boas notícias e é otimista: “Desde o primeiro mês o custo de operação é pago só com o faturamento, mas a expectativa é de que o lucro chegue ainda em 2021!”.
Mesmo com os bares funcionando em capacidade reduzida devido à pandemia, Thiago teve “casa cheia” em todas as noites que abriram nos 3 espaços.
Em paralelo aos bares, a produção de conteúdo online para o site e redes sociais continuou e o empresário observou a necessidade de um espaço com infraestrutura capaz de gerar mais conteúdo LGBTQIA+, e de forma ainda mais profissional. Assim, foi inaugurado o ‘Estúdio Pheenos’. Aberto com o intuito de servir como uma extensão do portal, o estúdio, localizado em Copacabana, também começou a ser procurado por empresas que querem alugar o espaço e sua estrutura de equipamentos e cenários para produzir os próprios conteúdos. No mês, o estúdio é locado de 5 a 6 vezes, o que possibilitou uma nova forma de monetização.
“O estúdio é uma incubadora de projetos, produzimos e desenvolvemos vários programas. Tudo é exclusivo e focado na comunidade LGBTQIA+”, conta Thiago, que tem um plano ambicioso para o local: “O objetivo é se tornar a maior produtora de conteúdo LGBTQIA+ da América Latina. Queremos produzir para outros meios e veículos de comunicação, para o streaming, TV a cabo, ou mesmo ter o próprio canal por assinatura. Estamos prontos como sociedade para isso e estamos prontos para entregar isso.”
Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a taxa de desemprego entre a população LGBTQIA+ é de 21,6%, número bem acima da média nacional, de 14,7%. Diante desse cenário, Thiago passou a empregar 35 colaboradores como ‘CLT’ e outros vários pontuais. Ao todo são por volta de 100 pessoas atualmente trabalhando para as diversas frentes de negócios: online, bares, estúdio e produtora. O empresário fala com orgulho que 70% da equipe é formada por pessoas LGBTQIA+ e que 100% do elenco artístico, DJs, Drags e outros, são também parte da comunidade.
“Vamos continuar celebrando a diversidade, ser LGBTQIA+ já coloca a pessoa um passo à frente para fazer parte da equipe de colaboradores da empresa. De uma maneira geral, as dificuldades da comunidade continuam as mesmas, mas temos de mostrar que existimos e fazemos parte da sociedade como todo mundo, e que agora as pessoas estão mais conscientes de que o diferente é legal”.
Foto: fotógrafa Gabi Netto