Entrevista: Especialista em vendas conta os desafios e alerta sobre alguns estigmas

carol manciola

Carol Manciola é a primeira mulher no Brasil a lançar um livro sobre vendas, a estreia foi com o best-seller Bora Bater Meta (2019). Além dele, Carol é autora de Os Cês da Vida (2017) e do mais novo lançamento, Coragem e mais alguns Cês da Vida (2022).

Manciola é também especialista em vendas e CSO na Crescimentum, empresa de educação corporativa e especializada em liderança, e parte do Cegos Group, líder mundial em T&D e referência em educação corporativa digital. Seu portfólio acumula mais de 15 mil horas de treinamentos e palestras, para mais de 300 mil pessoas impactadas em todo o país.

1 – Quais os desafios de empreender?
São inúmeros e não dá pra em uma resposta colocar todos eles, até porque não há uma
cronologia, ordem alfabética. Ele vai depender muito do ritmo e da jornada de cada
empreendedor. Eu, por exemplo, tenho 20 anos empreendendo e certamente não passei
por todos os desafios ainda. Mas têm os clássicos.
O primeiro deles é: o empreendedor costuma ser uma pessoa muito apaixonada e é
desafiador. O empreendedor conhece do negócios, do cliente e é muito difícil você construir
um time que coloque toda a intensidade para o negócio tracionar. Então, no começo, esse é
o grande desafio, encontrar uma equipe que caminhe junto.
Tem a questão da carga tributária, pessoal fala muito, principalmente pela falta de retorno,é
imposto sobre imposto, imposto sobre o trabalhador, sobre o serviço. É muita dificuldade de
negociar, então você precisa ter margem, porque você troca seis por meia dúzia e precisa
saber se de fato funciona. Então, os impostos exigem uma construção muito rápida de
valor, pra compensar essa perda do governo, nosso maior sócio, sempre.
A concorrência é assimétrica e transversal, você concorre o tempo inteiro, precisa ver o
quanto você ocupa da vida dos seus clientes. Você não concorre somente com produtos,
mas também similares e o bolso, além da atenção ao seu consumidor. Essa questão de
posicionamento é desafiadora, porque a gente corre o risco de querer fazer muitas coisas,
atirar para vários lados, mas o segredo é encontrar um nicho de mercado e se especializar
nele. São muitos desafios, mas esses são os que pelo menos na minha jornada mais doeram.

2 – Mesmo alcançando um patamar de mais estabilidade, o que ainda é obstáculo para
empreender?
De uma maneira geral, eu acho que os empreendimentos passam por 3 grandes momentos.
Sobrevivência, posicionamento e legado. A fase de sobrevivência é de fato sobreviver e
passar dos seus dois anos, afinal, de acordo com estatística do Sebrae, muitos morrem
antes de dois anos de sobrevivência.
Segundo o seu posicionamento, quando você começa a reforçar na mente do consumidor,
do cliente, quem eu sou. Passa a demonstrar mais confiança e me devolver isso,
devolvendo mais mercado, dinheiro. Quando você alcança estabilidade, depois precisa
crescer, com mais top of mind, pra que as pessoas te tenham na cabeça e te tragam
rentabilidade, para que seja um reinvestimento de crescimento.
E o terceiro ponto, o legado, afinal de contas, você precisa deixar nas pessoas, como sua
marca se encaixa na vida daquela comunidade da qual você faz parte.
Então, depois que você alcança a sua estabilidade, o desafio é manter o maior desafio
ainda é crescer de uma forma que seja sustentável e consciente.

3 – E o fato de ser mulher, atrapalhou o desenvolvimento dos negócios? Por que?

Apesar de uns dos principais caminhos para a volta ou entrada no mercado de trabalho
para as mulheres ser a partir do empreendedorismo, isso ainda é um tabu muito grande.
Existe um preconceito de que não é para a mulher. A mulher não é da informática, da
tecnologia. Mas mais me chama a atenção a questão do assédio. Você liga pra marcar uma
reunião e acham que você está dando em cima, ou você se arruma um pouco mais e acham que você quer seduzir. Enfim, é muita coisa muito real e que até hoje ainda persiste.
Outro dia mesmo eu entrei em contato com um antigo cliente, porque vi o nome dele na
parede de um prédio comercial. Mandei mensagem e ele falou que era difícil ficar perto de
mim, porque eu sou bonita. O machismo, masculinizado, o assédio ainda existe. Mulheres
vistas como sexo frágil fazem com que tenhamos que fazer o dobro para chegar ao mesmo
patamar do que um homem faria com muito mais facilidade.

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