Gastos fixos elevados como aluguel, pensão alimentícia e financiamento de carro integram a lista das mais propensas dívidas que podem tornar consumidores inadimplentes. Na contramão deste cenário, ser mais velho, ter estabilidade no emprego e fazer planejamento financeiro são características de quem mantêm as contas em dia. Esses dados foram apurados por um estudo, encomendado pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), que buscou traçar o perfil do consumidor com e sem dívidas no país. Para isso, foram entrevistadas 1.277 pessoas de todas as capitais brasileiras.
A pesquisa mostra ainda que 12% dos entrevistados com as contas em dia também pagam aluguel. Quando analisada a amostra de quem está com as contas em atraso, o número daqueles que moram em casas alugadas é quase três vezes maior: 33%. “Esse tipo de despesa alta consome um percentual considerável do orçamento familiar e colabora para que haja menos dinheiro disponível para o pagamento das outras contas”, analisa o presidente da CNDL, Roque Pellizzaro Jr.
Gastos com pagamento de pensão alimentícia de filhos e com financiamento de carros também se mostraram significativamente impactantes no orçamento de quem está endividado. Somente 4% dos adimplentes entrevistados pagam pensão. Este mesmo número sobe para 10%, quando observada a parcela dos consumidores endividados. No caso de parcelamento de automóveis, novamente, há um desvio significativo: 3% dos consumidores adimplentes possuem este tipo de financiamento, independentemente das contas estarem em dia ou não, enquanto o percentual entre inadimplentes, apenas considerando quem está com o pagamento em atraso, é de 9%.
Perfil dos adimplentes e inadimplentes
Características pessoais e o comportamento dos entrevistados com relação à administração das próprias finanças também foram facetas observadas na pesquisa. O estudo mostrou que o percentual de adimplentes é maior entre consumidores mais velhos, empregados há mais de cinco anos e que adotam planejamento financeiro na hora de adquirir um bem.
A maioria, cerca de 70% dos endividados, está na faixa entre 25 e 49 anos, enquanto somente 12% deles têm entre 50 e 64 anos. “Os mais velhos se mostram mais cautelosos e capazes de controlar suas contas do que os mais jovens, que muitas vezes acabam por consumir sem muito planejamento”, pondera a economista do SPC Brasil, Ana Paula Bastos. Outro fator de diferenciação diagnosticado é a estabilidade no emprego. Se por um lado, 55% dos adimplentes estão empregados há mais de cinco anos, por outro, a análise dos inadimplentes mostra que esse número se reduz praticamente à metade, sendo apenas 28% dos endividados empregados há mais de cinco anos. “Essa característica sinaliza que a estabilidade no mercado de trabalho resulta em estabilidade de renda e, consequentemente, leva a maior segurança financeira”, explica o economista Nelson Barrizzelli.
Os entrevistados que estão com as contas em dia, cerca de 89%, afirmaram que também fazem planejamento financeiro para ver se o custo da compra se encaixa no próprio orçamento. Já para aqueles que estão com as contas em atraso, 69% afirmam que, quando têm a intenção de adquirir um bem, verificam se a compra cabe no bolso. “É importante destacar que o inadimplente se declara preparado e planejador. No entanto, é possível que ele não respeite o orçamento feito por ele no ato da compra. Outra possibilidade é a de que o endividado seja forçado a destinar parte de sua renda ao consumo e outra parcela para honrar compromissos já adquiridos”, analisa Ana Paula Bastos.
A pesquisa
Para traçar o perfil do consumidor adimplente foram ouvidas 668 pessoas, em todo o País, sem contas em atraso há mais de 90 dias, com alocação proporcional à distribuição do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) por estado da Federação. Já para o perfil do consumidor inadimplente, foram ouvidos 609 casos, todos eles de pessoas com alguma conta em atraso há mais de 90 dias. A pesquisa foi realizada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A margem de erro amostral é de 4% e a confiança é de 95%.
Baixe a pesquisa completa e os infográficos em: http://ow.ly/eV7jO