Com a crise na zona do euro, empresas europeias se voltaram para o Brasil e investiram US$ 23,4 bilhões no País de janeiro a julho
Diante da crise fiscal da zona do euro, empresas europeias quase triplicaram os investimentos produtivos na economia brasileira neste ano. Dados do Banco Central indicam que o Investimento Externo Direto (IED) oriundo dos países que adotam a moeda única subiu para US$ 23,4 bilhões nos primeiros sete meses deste ano, contra US$ 7,9 bilhões no mesmo período de 2010.
Além da perspectiva, para os próximos anos, de crescimento econômico nos trópicos e estagnação nos países desenvolvidos, as empresas europeias tentam participar de programas do governo brasileiro como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e aproveitar o boom imobiliário vitaminado pelo programa Minha Casa Minha Vida.
A estabilidade democrática do Brasil gera vantagens comparativas em relação a outros países dos Brics, composto ainda por Rússia, China e Índia, segundo Paulo Vicente, professor de estratégia da Fundação Dom Cabral. "Muitos têm medo de estar superinvestidos na China, devido à instabilidade do país; em algum momento eles vão parar de crescer e podem se dividir em outros países devido a movimentos separatistas", avaliou. "Comparativamente, a corrupção é menor aqui." O IED da Europa nos primeiros sete meses deste ano, com desconto dos recursos enviados via Luxemburgo, um centro financeiro, já superam o volume de todo o ano passado, segundo dados do Banco Central. A instituição não realiza o cruzamento de dados por país de origem e setor de destino no Brasil, porque isso poderia comprometer o sigilo comercial de algumas empresas com grande volume de investimentos.
Segundo fontes do Banco Central ouvidas pelo Estado, os europeus investem na economia de forma diversificada, sem concentração num ou noutro segmento. Neste ano, 13 setores receberam mais de US$ 1 bilhão em investimentos europeus: energia elétrica, comércio varejista, produtos alimentícios, extração mineral, metalurgia, petróleo e gás, minerais não metálicos, seguros, metalurgia, farmacêutico, equipamentos de informática, educação e infraestrutura. Empresas como Orange, Louis Vuitton, Cassino, Publicis, Citröen, Shell integram a lista de novos investimentos neste ano.
Equipes do Itamaraty monitoram o interesse dos europeus desde a eclosão da crise financeira internacional, em setembro de 2008.
O que chama atenção dos diplomatas brasileiros nos últimos meses, período em que cresceram as dúvidas sobre a solvência de países como França e Itália, são os alvos dos empresários do Velho Continente. Os gargalos brasileiros agora são vistos como oportunidade. Energia e aeroportos lideram a lista de interesse.
Mas há dificuldades até mesmo para isso. Segundo Paulo Vicente, o País precisa modificar alguns marcos regulatórios para ampliar a participação de estrangeiros em alguns setores e atrair mais investimentos.
O IED é cada vez mais importante para o País, que acumula déficits no setor externo em torno de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) nos últimos cinco anos. O Brasil financia este déficit com investimentos produtivos, os dólares que ingressam para construção de fábricas, por exemplo. O dólar barato ajuda a aprofundar o buraco nas contas externas via aumento das importações, gastos de brasileiros no exterior e remessa de lucro de multinacionais para matrizes lá fora. O BC espera déficit externo de US$ 60 bilhões neste ano e IED de US$ 55 bilhões. A Europa deve contribuir com um terço destes investimentos.
Preço alto. "Está preparado para pagar a um diretor de filial no Brasil um salário maior do que o presidente da empresa na matriz?" A pergunta sintetiza o alto custo de fazer negócios no País, num momento de inflação alta e moeda valorizada. "Os espanhóis caem da cadeira, mas mesmo assim decidem investir", relata Nuria Pont, diretora executiva da Câmara Oficial Espanhola de Comércio.
O Brasil ocupa a 127º posição no ranking de ambiente de negócios do Banco Mundial, atrás da China, que ocupa o 79.º lugar, e da Rússia, na 123.ª posição. A Índia vem atrás, como a 134.ª economia da lista. A instituição elogiou o País neste ano pela maior sincronização de dados entre a Receita Federal e os fiscos estaduais.