Os números de setembro divulgados ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) exibiram um quadro realista do setor: o único indicador dessazonalizado que apresentou crescimento foi o do faturamento real.
Sem dúvida, a indústria deu prioridade à redução dos seus estoques e obteve 1% a mais de faturamento real, o quarto crescimento mensal consecutivo.
As horas trabalhadas na produção apresentaram recuo de 1,3%, ante o mês anterior, e de 0,4%, em relação ao mesmo mês de 2010, o que mostra claramente uma estagnação. A Utilização da Capacidade Instalada ficou em 81,6%, com ajuste sazonal, ou 0,6 ponto porcentual sobre agosto e sobre o mesmo mês do ano passado.
Houve queda de 0,3% do nível do emprego em setembro – a mais acentuada desde abril de 2009 -, embora tenha aumentado 1% em relação a setembro de 2010. A massa salarial real, que havia acusado queda de 3,1% em agosto, cresceu 3,5% em setembro e 7,3% em relação ao mesmo mês do ano passado.
Com estoques elevados, a indústria preferiu reduzi-los, diante da incerteza da evolução da demanda no final do ano, em vez de aumentar sua produção. Tem-se a impressão de que a indústria nacional aceitou conter sua produção – contando com os bens importados a um preço menor – e que somente vai aumentá-la se não puder mesmo importar, até correndo o risco de se haver com a falta de alguns produtos nas festas do fim do ano.
Quando se olha a evolução da capacidade instalada, em relação ao mesmo mês de 2010, verifica-se que os setores em que ela aumentou foram os que não dependem tanto da importação: produtos químicos, madeira e metalúrgica básica. Naqueles em que há grande concorrência da importação (calçados, têxteis), registra-se forte queda, como também naqueles em que havia estoques de produtos importados para responder a possível aumento da demanda – máquinas e aparelhos elétricos, alimentos, vestuário.
O aumento da massa salarial real permite prever demanda robusta no final do ano. É provável que, uma vez reduzidos os seus estoques, a indústria tenderá a reagir. Seria interessante conhecer os pedidos de importação. Eles devem ser volumosos e, em parte, substituirão os produtos nacionais – especialmente quando se verifica que a taxa cambial não apresenta a desvalorização esperada e que em parte foi contrabalançada pela valorização do dólar.
O quadro todo não permite falar de um Natal comercialmente fraco.