Índice de 0,15% em junho levou boa parte do mercado financeiro a prever que IPCA levará dois anos para voltar ao centro da meta
O IPCA de junho ficou em "apenas" 0,15%, mas foi o suficiente para levar boa parte do mercado financeiro a consolidar a avaliação de que a inflação oficial do Brasil só voltará para o centro da meta em 2013. É uma visão contrária à do Banco Central (BC), que garante que o IPCA recuará para os 4,5% já em 2012, como afirmou o presidente da instituição, Alexandre Tombini, em recente entrevista ao Grupo Estado.
A percepção desses analistas fundamenta-se no fato de que o IPCA de junho, embora baixo, veio acima do esperado. Isso, segundo os especialistas, indica que o melhor momento do ano para a inflação não será assim tão bom.
Como explica a economista Tatiana Pinheiro, do Banco Santander, os índices de preços no Brasil costumam ter o formato de um sorriso na medição anual: começam e terminam o ano em alta, e apresentam um vale nos meses de junho, julho e agosto por fatores sazonais, como a safra de grãos e cana-de-açúcar.
"O IPCA de junho já levou muitas casas a reverem para cima suas estimativas para julho e agosto", afirmou. "O número deixou claro que, em 2011, a inflação mensal está, em média, 0,13 ponto porcentual mais alta do que a de 2010. Como o IPCA tem forte componente de indexação, isso implicará em índices maiores no ano que vem." Tatiana mantém sua projeção de um IPCA de 6% em 2012, perto do topo da meta, que é de 6,5%.
A Tendências Consultoria é outra casa que tem uma previsão salgada para a inflação no ano que vem: 5,2%. "O número de junho não trouxe o alívio que muitos esperavam", observou a economista Alessandra Ribeiro.
Não é de agora que, na média, o mercado expressa desconfiança quanto ao cumprimento da meta no ano que vem. O boletim Focus, síntese de uma pesquisa do BC com instituições financeiras, consultorias, corretoras de valores, etc, mostrou, em sua edição de 21 de janeiro, uma expectativa de IPCA de 4,54% no ano que vem. Na semana passada, a projeção já estava em 5,10%. Com o número de junho e as revisões para cima em julho e agosto, a estimativa tende a se afastar cada vez mais do centro da meta.
"Trabalhamos com o IPCA fechando acima da meta no governo Dilma inteiro", afirmou o economista-chefe da consultoria MB Associados, Sergio Vale. Para ele, o que poderia evitar que o prognóstico se confirme seria um ajuste muito forte na economia internacional ou uma mudança na política monetária do BC, que até agora tem elevado a taxa básica de juros (Selic) gradualmente.
Nas últimas duas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom), a taxa foi subiu 0,25 ponto porcentual. Vale avalia que a autoridade monetária já deveria ter aumentado o ritmo para 0,50 ponto porcentual por reunião desde o fim do ano passado.
Tatiana, do Santander, também acredita que a inflação só retornaria para o centro da meta em 2012 se o BC alterasse o ritmo de elevações da taxa Selic. Ela explica que a economia brasileira tem um potencial de crescimento estimado, hoje, entre 4% e 4,5% ao ano. Como a expectativa tanto do governo quanto do mercado é de uma alta do Produto Interno Bruto (PIB) de 4% neste e no próximo ano, não há praticamente nenhuma desaceleração na comparação com o potencial. Com isso, a inflação permanece pressionada.
"Seria preciso trazer a economia para uma expansão entre 2% e 2,5% para conseguir reduzir a inflação mais rapidamente", afirmou. "Isso exigiria uma taxa básica de juros mais alta do que se projeta hoje (algo entre 14% e 15% no fim deste ano, ante a expectativa atual de 12,50% a 13%)." Tatiana frisa, no entanto, que grande parte do mercado, embora preveja a inflação acima do centro da meta em 2012, parece confortável com a estratégia gradualista escolhida pelo BC.
Contraponto. O economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, faz um contraponto. Para ele, a inflação em 2012 ficará, sim, na meta de 4,5%. "Apostar com 18 meses de antecedência que o BC vai fracassar na meta de 2012 revela, na minha modesta opinião, um inequívoco prejulgamento. Vejo o BC fazendo um trabalho sério e determinado com apoio do esforço fiscal do Executivo." / COLABOROU FRANCISCO CARLOS DE ASSIS