O Brasil sofreu no ano passado uma das derrotas esportivas mais marcantes de sua história. Os 7×1 da Alemanha na Copa Fifa do Brasil vão ficar marcados na memória dos esportistas e dos torcedores por muitos e muitos anos. E, como era de se prever, discutiu-se muito sobre quais foram as razões que fizeram o Brasil sofrer tamanha humilhação esportiva e, por conseguinte, quais foram os motivos do sucesso dos alemães.
Ao ouvir as milhares de explicações apresentadas, me ocorreu o quanto elas poderiam ser úteis também para gestores de empresas, a fim de entender por que ocorrem grandes fracassos quando o ambiente e as expectativas são de um sucesso retumbante.
O que ouvimos?
Os alemães fizeram um planejamento muito bem feito, que começou por volta do ano 2000 e que trabalhou técnicos, jogadores e dirigentes com objetivo de obter sucesso 10 ou 15 anos depois. Os jogadores são trabalhados desde os primeiros momentos, com 12 ou 13 anos, para que ao iniciarem como profissionais não venham cheios de vícios que atrapalharão o desempenho. Existe uma preocupação em organizar os times e os campeonatos para que eles tenham as melhores condições de executar o seu trabalho. Os campos de futebol são muito bem cuidados e a estrutura é ótima.
Além disso, no momento da Copa eles determinaram um local e criaram as condições adequadas para que a concentração e o foco estivessem no resultado. E treinaram…treinaram muito, nas condições em que ocorreriam os jogos para estarem realmente preparados para a batalha. Eles tinham planejamento, tática, estratégia de jogo, talento aplicado e determinação. E ganharam…
Nós tínhamos o talento e… a torcida a nosso favor e… é só. Paixão e talento são importantes, mas sozinhos eles não garantem o sucesso. É preciso muito mais.
Se fizermos um paralelo com a nossa indústria, vamos chegar a conclusões semelhantes. Sucesso não é sorte! Sucesso é consequência de um trabalho intenso e focado.
As empresas precisam se planejar. Onde quero estar daqui a cinco anos. Quem serão os meus clientes? Quais as suas necessidades atuais e futuras? Quais serão os meus produtos? Com estas indicações é possível começar a identificar quais problemas do meu cliente pretendo resolver para decidir quais processos vou desenvolver e quais os equipamentos e recursos é preciso ter para chegar ao sucesso.
Veja: devemos ir do problema potencial para a solução.
A partir daí, devemos trabalhar os recursos e o ambiente. Quais os equipamentos preciso ter? O que posso terceirizar? Existem parcerias possíveis? Quais os serviços é preciso desenvolver ou comprar para melhorar a experiência do meu cliente com a minha empresa?
E, o mais importante, que competências técnicas e gerenciais eu e minha equipe precisamos ter para fazer com que esses recursos trabalhem de acordo com a estratégia desenvolvida?
A questão dos recursos humanos é, no meu entender, a mais crucial para garantir o sucesso de um empreendimento. De nada adianta termos estratégia, recursos e ambiente adequados se, sob o seu comando, não existirem pessoas confiáveis, capacitadas e motivadas para executar o trabalho.
O talento é, e continuará sendo, o principal ativo que uma empresa (ou um time de futebol) precisa e será o principal diferencial competitivo das empresas (e dos times de futebol) no século XXI. Porém, as empresas de sucesso e a seleção da Alemanha nos mostraram que estes talentos vão conseguir obter seu máximo desempenho se houver um bom planejamento, uma excelente capacitação, um ambiente propício para um desempenho superior, uma liderança capacitada, moderna e atuante e muito…muito treino.
Só assim vamos nos orgulhar de trabalhar numa empresa de classe mundial e de sermos novamente campeões do mundo no futebol.
Flávio Botana é engenheiro mecânico com especialização em Gestão da Qualidade e Mestrando em Engenharia de Produção. Professor nos cursos de Graduação e Pós Graduação da Faculdade Senai de Tecnologia Gráfica, atua ainda como consultor especializado em gestão da produção e gestão de custos. Possui 34 anos de experiência na Indústria Gráfica e é autor do livro “Manual do Gestor da Indústria Gráfica”.