Lugar de mulher é onde ela quiser, inclusive na tecnologia

Miriam Koga empreendedora

 Miriam Koga, CEO da startup DUPLA

Pode parecer contraintuitivo, mas a quantidade de mulheres na área de tecnologia era alta no passado e foi caindo com os anos até se estabilizar. Na década de 1970, cerca de 70% dos alunos do curso de Ciências da Computação da USP eram mulheres; hoje, apenas 15%. Diz-se que a causa desse desaparecimento está relacionada à popularização de jogos em computadores, que ficaram marcados como sendo ‘coisa de menino’ na época.

Com a crescente quantidade de debates e iniciativas acerca do problema, a tendência é que a proporção de mulheres volte a aumentar. Em 2019, por exemplo, tivemos a primeira garota representando o Brasil na Olimpíada Internacional de Informática, competição cuja primeira participação do Brasil se deu em 1999. Startups e empresas também estão criando iniciativas internas de formação de programadoras e de vagas afirmativas para mulheres para minimizar a disparidade.

A demanda em alta por mão de obra feminina gera dificuldades às empresas para preencher vagas, principalmente aquelas de nível pleno e sênior. Posições de Data Science Sênior afirmativas para mulheres estão levando mais de sete meses para serem preenchidas, mesmo com salários altos com relação a outras áreas não tecnológicas. Em meio a esse cenário, estão se tornando comuns os apelos em redes sociais para que empresas abram vagas para desenvolvedoras nível júnior. Somente assim, criando portas às mulheres desde a base, é que daqui a alguns anos poderemos esperar mais mulheres ocupando mais cargos de liderança em tecnologia.

Outro fator interessante é o de que estudos apontam que mulheres tendem a aplicar para vagas somente quando cumprem com todos os requisitos enquanto homens arriscam mais. Essa característica acentua a menor quantidade de candidaturas femininas. Uma iniciativa que surgiu recentemente, focada especificamente nesse problema, é a “Se Candidate, Mulher!”, que impulsiona mulheres a se candidatarem e passarem em processos seletivos. Existem outras também voltadas à formação de mulheres em tecnologia, como a PrograMaria e a ONG {Reprograma}. O serviço da DUPLA, fundada em 2021, também visa auxiliar a entrada de mulheres em empresas, fazendo a ponte entre programadoras e empresas com cultura saudável.

Minha experiência lidando com processos seletivos diz que vieses inconscientes atrapalham as chances de mulheres passarem para as próximas fases, principalmente no que tange à etapa de fit cultural. Sem um jeito puramente racional de conduzir essa etapa, empresas ficam à mercê do julgamento do(a) recrutador(a) sobre se a pessoa se encaixa na empresa. E como já existem poucas mulheres na área, pode ficar difícil de visualizar como encaixá-las na equipe, tão majoritariamente masculina. Assim, apesar de terem a bagagem técnica suficiente, algumas candidatas são barradas desnecessariamente. Empresas precisam ser cautelosas sobre o que querem estabelecer como fit cultural e estarem alinhadas com quem faz as entrevistas.

Esperamos que a diversidade volte a ser como era no passado e que haja incentivo igualitário para entrar na área. Até lá, iniciativas que apoiam minorias são bem-vindas.

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