Mercado de ensino superior passa por grande expansão

por Raquel Rezende (raquel@empreendedor.com.br) em série de reportagens especiais sobre o crescimento da educação superior no Brasil*

O ensino superior no Brasil está viven­do uma fase de grande expansão. Cada vez mais, o acesso de brasileiros à universidade está facilitado, seja pelos programas do go­verno federal que incentivam o financia­mento educacional, seja pela oferta atrativa de instituições privadas que disponibilizam ensino a distância cobrando mensalidades acessíveis. No ambiente corporativo, fusões e aquisições realizadas por grandes grupos, como a Kroton Educacional, que começou como um curso pré-vestibular em Belo Horizonte (MG) e hoje é o maior grupo de educação do mundo com ações na BM&F Bovespa, demonstram que esse mercado oferece valiosas oportunidades.

De acordo com dados do Censo da Educação Superior, divulgados pelo Mi­nistério da Educação, no final de 2013, o total de alunos matriculados na educação superior brasileira ultrapassou a marca de 7 milhões em 2012, crescimento de 4,4% em relação ao ano anterior. Mais precisa­mente, os 7.037.688 alunos matriculados em cursos de graduação no Brasil estão dis­tribuídos em 31.866 cursos, oferecidos por 2.416 instituições — 304 públicas e 2.112 particulares. Apesar de apresentar um cres­cimento menor no período, de 3,5%, a rede particular é responsável por quase 3/4 das matrículas. Para Rodrigo Galindo, presi­dente da Kroton Educacional, considerado o maior grupo de educação do mundo, o mercado de educação superior é fragmen­tado e a taxa de penetração de pessoas entre 18 e 24 anos neste nível, de cerca de 17%, é considerada a segunda mais baixa da América Latina, indicando que existe uma enorme demanda reprimida de alunos que não ingressaram num curso superior na idade adequada, mas que estão aptos a re­tornar à universidade.

Ainda segundo dados do Ministério da Educação, no segmento de ensino a distân­cia, no qual a Kroton é líder no Brasil, o índi­ce de matrículas chegou a 12,2% entre 2011 e 2012. Com esse crescimento, a modalidade a distância já representa mais de 15% do total de matrículas em graduação. Dos estudantes que optaram pela modalidade a distância, 72% estão matriculados em universidades.

Os centros universitários detêm 23%. A maioria dos matriculados no ensino superior a distância, com índice de 40,4% cursa licen­ciatura. Os que optaram por bacharelados são 32,3% e os tecnólogos totalizam, 27,3%. Na visão de Galindo, o mercado de educação no País ainda é pulverizado e possui grandes oportunidades de crescimento, com a maior presença do ensino a distância – modelo que oferece flexibilidade de horários, estrei­ta distâncias e leva educação de qualidade a lugares que não disponibilizam os cursos presenciais, atingindo um grande número de pessoas que gostariam de estudar. “O en­sino a distância é outra solução interessante e de enorme importância social para a edu­cação no País, permitindo a inclusão de cada vez mais alunos no ensino superior, já que não impõe barreiras físicas e oferece custos menores”, avalia.

Galindo complementa que os custos do modelo a distância são diluídos entre alunos de todo o País, tornando ainda mais viável a presença de professores qualifica­dos, com um padrão alto de ensino que se mantém em todas as localidades. “Temos muito orgulho de levar o modelo para todo o País, uma vez que estamos auxiliando na democratização da educação, que está em nossa missão como companhia e é essen­cial para o melhor futuro do Brasil”, afirma. Hoje, a Kroton conta com 487 polos de ensino a distância e, segundo Galindo, em várias cidades, é a única opção de acesso ao ensino superior de qualidade. “Sem o ensi­no a distância, muita gente estaria privada de acessar a universidade. E inclusão é dar oportunidades a todos”, opina.

Os programas governamentais tam­bém são citados por Galindo como gran­des facilitadores do acesso do estudante à universidade. “Especialmente o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) – progra­ma do Ministério da Educação destinado a financiar a graduação na educação superior de estudantes matriculados em instituições não gratuitas – está permitindo a uma gran­de parte da população de classes menos favorecidas o acesso ao ensino superior”, afirma. No longo prazo, analisa Galindo, esse efeito será transformador para o País. Outra iniciativa do poder público é apoiar o ensino técnico profissionalizante. Segundo Galindo, o Pronatec – Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego, criado pelo Governo Federal, em 2011, com o objetivo de ampliar a oferta de cur­sos de educação profissional e tecnológica, é interessante, pois permite que o aluno se recoloque no mercado de trabalho de ma­neira efetiva, já que os cursos são rápidos e focados na empregabilidade.

Juventude e experiência

Ainda adolescente, aos 13 anos, Galindo começou a trabalhar na instituição de ensino criada pelos seus pais e desenvolveu toda sua carreira no segmento de educação. Ele atua na gestão de instituições há mais de 20 anos, já foi pró-reitor administrativo da Uni­versidade de Cuiabá (UNIC) e responsável pelo credenciamento e implantação de ins­tituições de ensino superior na Bahia, Mato Grosso, Amapá, Acre e Rondônia. Também já foi CEO do grupo educacional IUNI, com mais de 50 mil alunos no ensino superior e atuação em seis estados brasileiros. Na Kro­ton Educacional, passou pelos cargos de diretor de operações e de ensino superior. Galindo, que acredita na educação como a chave para a transformação do País, se for­mou em Direito, mas fez mestrado em Edu­cação na PUC de São Paulo e afirma que o currículo foi fundamental para sua formação.

Mesmo muito jovem, Galindo acompa­nhou de perto o desenvolvimento da Kro­ton Educacional, que começou com cinco amigos que colocaram em prática o sonho de montar um curso pré-vestibular em Belo Horizonte (MG) no ano de 1966. Na época, o curso pré-vestibular Pitágoras começou com 35 alunos. Dois anos depois, 600 estudan­tes frequentavam o curso distribuídos em 13 turmas e três turnos. Na década de 90, a instituição buscava um modelo diferenciado para expandir, culminando com a criação da Rede Pitágoras que, em menos de um ano, contava com 106 escolas associadas.

No início dos anos 2000, com a mudança do marco regulatório do setor de educação, surge a primeira Faculdade Pitágoras, com novo sistema de ensino e uma metodologia exclusiva criada em parceria com uma das maiores companhias de educação do mundo – a Apollo International, com sede no estado do Arizona, nos Estados Unidos. A parceria durou até 2005 quando a Apollo Internatio­nal decidiu vender sua participação para os fundadores. Em 2007, o grupo decidiu abrir capital do Pitágoras na BM&FBovespa, com o nome Kroton Educacional (KROT11), per­mitindo a expansão da companhia. Em 2009, a Kroton recebeu um novo aporte financeiro de um dos maiores fundos de private equi­ty do mundo, a Advent International, que a partir de então compartilharia o controle da empresa com os sócios-fundadores. Em 2010, a Kroton realizou a maior aquisição do mercado de ensino superior no País, adqui­rindo o grupo IUNI Educacional, instituição que atua por meio das marcas Unic, Unime e Fama. Em 2011, compra a Unopar e torna-se líder no setor de educação a distância no Brasil. Hoje, a Kroton Educacional é conside­rada o maior grupo de educação do mundo com cerca de 15 mil funcionários.

Integração desafiadora

O grande desafio da educação em geral e da Kroton, comenta Galindo, é entregar aos alunos um ensino eficaz, de qualidade e que propicie a empregabilidade. Para al­cançar esse objetivo, Galindo conta que a instituição construiu um modelo acadêmico inteligente e investiu fortemente em tecno­logias aplicadas à educação. Do ponto de vis­ta de gestão da empresa, Galindo conta que a maior dificuldade enfrentada pelo grupo até o momento foi a integração entre a Kro­ton e IUNI, em 2010. “Foi um dos maiores desafios da companhia. Cerca de 12 meses de intenso trabalho que culminaram com a construção de uma nova Kroton, com uma cultura organizacional única. Os resultados acadêmicos e financeiros demonstram que tomamos as decisões corretas”, avalia.

Além disso, Galindo atribui o sucesso da Kroton ao grupo formado por educadores apaixonados por educar. “Não é à toa que nosso primeiro valor é ‘paixão por educar’”, enfatiza. Segundo ele, essa paixão é demons­trada de várias maneiras na instituição: na dedicação ao trabalho, na busca incessante pela qualidade e eficiência, na preocupação com o aluno como centro do processo edu­cativo. E não somente isso, Galindo explica que o time de colaboradores precisa encon­trar na companhia alguns outros elementos para que o trabalho gere resultados. Por isso, direcionaram o trabalho para construir na Kroton um modelo de gestão robusto, que vai desde o planejamento da estratégia até o controle da operação. Conforme ele enume­ra, a empresa tem ferramentas robustas de gestão, uma cultura organizacional clara, um processo orçamentário bastante sedimenta­do, um escritório de gestão de projetos que gerencia a mudança com metodologias ade­quadas e modelos de gestão da rotina que garantem a eficiência e eficácia. “Some, a tudo isso, um elevado nível de governança corporativa e estão criadas as condições para o sucesso de uma organização”, destaca.

Os resultados positivos apresentados pelo grupo são consequência da incessante busca para atender plenamente os alunos. Galindo conta que a empresa trabalha para oferecer aos estudantes excelência em novas metodologias de ensino e tecnologias educa­cionais inovadoras para a sala de aula. “Inves­timos cada vez mais em pesquisa acadêmica, corpo docente qualificado e infraestrutura de ponta para atender às necessidades de cada curso”, diz. O esforço em levar qualida­de aparece nas notas dos acadêmicos, como comprovou o último Enade, que posicionou a Kroton na melhor colocação dentre todas as companhias de capital aberto do Brasil e no mesmo patamar das instituições públicas.

A Kroton Educacional também é re­conhecida como uma empresa com a res­ponsabilidade de promover informação de forma consistente e verdadeira aos seus in­vestidores, fazendo parte do Novo Mercado da BMF&Bovespa, que comprova alto nível de governança corporativa. Para o futuro, Galindo conta que o grupo planeja realizar investimentos, visando a um resultado du­radouro e sustentável para a companhia e todos seus stakeholders. “Acreditamos que a qualidade e a inovação de nosso sistema de ensino continuam sendo os melhores atrativos para nossos alunos. A tecnologia educacional deve ser tratada como uma grande aliada no processo de aprendiza­gem e percebo que esse é o caminho do futuro da educação.”

* Mais matérias especiais sobre o tema serão divulgadas no site Empreendedor durante a semana.

Facebook
Twitter
LinkedIn