Por Jimmy Lui, head de Inovação e Open Finance do banco BV*
Na semana passada tive o privilégio de participar da edição norte-americana do Money 20/20, um evento especializado em inovação na indústria financeira que acontece anualmente em três continentes (América do Norte, Europa e Ásia). Segundo os organizadores, o Money 20/20 é “onde o dinheiro faz negócio”. Lá se reúnem fintechs, incumbentes, fornecedores e reguladores para discutir tendências e fechar novas parcerias.
Nesse tipo de evento, mais do que algum tema em específico, eu gosto de buscar sinais das grandes tendências da indústria. Por muitos anos, a pauta foi dominada pela transformação digital, depois evoluiu para a emergente criptoeconomia. Já na edição 2023 eu notei bastante ênfase em assuntos que apontam para uma visão de indústria cada vez mais aberta e conectada. A agenda incluiu muitos painéis sobre Open Finance, plataformas de APIs, Bank as a Service e Embedded Finance.
Entendo que essa seja uma transição natural para a indústria como um todo. O que acontecerá depois que quase todos os sistemas, transações e canais das instituições financeiras forem digitalizados? Acredito que a melhor resposta, em uma frase, seja: daqui pra frente, tudo estará cada vez mais conectado.
As novas gerações de clientes entendem cada vez menos de “produtos” financeiros. A tecnologia chegou em um ponto que permite que as ofertas migrem dos canais proprietários das instituições como agências físicas e internet banking para jornadas fora desses espaços. Hoje é possível inserir serviços financeiros nas jornadas em que os clientes consomem de fato. Pense em como você, leitor, já migrou para o digital quando compara preços de eletrodomésticos, reserva hotéis, consome música, escolhe um automóvel novo ou pede comida para entregar na sua casa. A incorporação desses serviços é o que chamamos de embedded finance ou “finanças incorporadas”, em tradução livre. Grande parte dessas jornadas já é on-line, disponível 24×7, integrando de maneira fluída todos os participantes.
Toda essa evolução só tem sido possível devido a uma série de avanços tecnológicos que, ao mesmo tempo que habilitam novos serviços, desafiam os modelos operacionais e de negócios já existentes. Para quem não é da indústria financeira, posso citar como exemplos de importantes avanços:
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As plataformas de API hoje permitem que parceiros troquem informações de maneira muito mais simples e segura;
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As operações de Bank as a Service que viabilizam que várias empresas ofereçam serviços financeiros nos seus canais, ainda que estas não sejam bancos;
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A nova infraestrutura do Open Finance que integra as funcionalidades de pagamento de diversas instituições e habilita clientes a enviarem seu histórico para diferentes bancos.
A consequência imediata do Embedded Finance é que os profissionais da área devem pensar mais em “experiências de consumo” do que em “produtos financeiros”. Várias palestras no Money 20/20 abordaram os impactos dessa nova realidade trazendo importantes questionamentos para os líderes do mercado financeiro, entre eles:
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Em um mundo predominantemente digital e com um ecossistema diverso e integrado, as wallets serão mais importantes que as contas correntes?
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No futuro totalmente “aberto e integrado”, qual será o papel dos canais dos bancos? (O próprio Banco Central brasileiro tem comentado sobre a possibilidade de existirem “super apps” integradores em breve).
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Nesse novo contexto, o papel primordial dos inovadores será conectar a nova infraestrutura digital com experiências de consumo?
Essas e outras perguntas são parte do nosso desafio diário de entender as possibilidades abertas pelas novas tecnologias e conectar com as expectativas e mudanças de comportamento dos consumidores. Minha conclusão depois de quatro dias de imersão no Money 20/20 é que da “porta para dentro” os bancos até poderão manter a sua essência, mas da “porta para fora” todos terão que se adaptar e falar melhor a linguagem de cada um dos seus clientes, no contexto em que eles estiverem.
*Jimmy Lui é Head de Inovação e Open Finance no banco BV, uma das maiores instituições financeiras do país. Atualmente lidera as equipes que fomentam a inovação aberta e desenvolvem as estratégias de aplicação do Open Finance nos processos e negócios do banco. Com mais de 20 anos de experiência na indústria financeira, Jimmy já atuou em empresas como Accenture e Itaú Unibanco. O executivo é formado em Engenharia Eletrônica pela Escola de Engenharia Mauá, possui MBA em Gerenciamento de Projetos pela Universidade de São Paulo e é certificado pelo MIT em Inovação Corporativa.