Por João Zanocelo, cofundador e Head de produto da BossaBox*
A Freelancer Economy já é uma tendência relativamente antiga. Para se ter uma ideia, em 2020, ainda antes da pandemia, um estudo feito pela Freelancers Union, mostrou que os Estados Unidos contam com 59 milhões de profissionais nesta modalidade, o que representava 36% de toda força de trabalho americana. Esse número cresceu muito em comparação aos 53 milhões em 2014. O mesmo crescimento pode ser acompanhado na maioria das economias do mundo.
Com isso em mente, neste artigo vamos falar sobre os fatores externos e mudanças nas preferências de trabalho que levaram a popularização desse modelo, quais os problemas enfrentados por esses profissionais e qual é, na minha opinião, o futuro do mercado.
Fatores que impulsionaram o cenário
O surgimento e a democratização da internet impulsionaram a ascensão de plataformas que conectam oferta e demanda e que permitem a realização de serviços em larga escala. Hoje, por exemplo, mais de 80% dos profissionais encontram seus clientes por meio de plataformas digitais e contam com elas como fonte de renda primária.
Além disso, as mudanças nas necessidades dos consumidores também impactaram. Com a conveniência proporcionada pelas plataformas online, as pessoas passaram a buscar e se acostumar com marketplaces de serviços.
As mudanças nas preferências de trabalho
Segundo o relatório Freelancing in America de 2020, 59% dos entrevistados afirmaram que começaram a trabalhar dessa forma por escolha própria, buscando a liberdade de definir seus próprios horários e projetos. Além disso, o mesmo estudo de 2023 aponta que mais 75% dos entrevistados estão altamente satisfeitos com esse formato de trabalho, apontando o fator “anywhere office” como um dos principais motivos. A consequência disso é a “Grande Resignação”, tendência identificada nas maiores economias do mundo, dos profissionais ao modelo tradicional e em prol de uma vida mais flexível.
A busca por mais equilíbrio entre o corporativo e a vida pessoal também tem sido prioridade para muitos profissionais hoje em dia. De acordo com a Gallup, 53% dos trabalhadores entrevistados citaram isso como uma das principais razões para buscar oportunidades independentes. Essas são mudanças muito bruscas ao que víamos na década de 80, por exemplo. Naquela época, as prioridades eram ter estabilidade financeira e possibilidade de ascensão na carreira dentro de uma mesma empresa.
Desafios dos freelancers neste modelo atual
A instabilidade financeira é o principal desafio desses profissionais. A variação na demanda do mercado e a falta de projetos contínuos podem resultar em períodos de seca financeira. Como se não bastasse, 71% afirmam já terem passado por calotes.
Encontrar bons clientes é outro desafio constante. A concorrência acirrada em várias áreas (muitas vezes tendo que aceitar projetos a preço de custo) pode dificultar a conquista de projetos.
Para superar esses obstáculos, é preciso desempenhar funções que estão fora do seu escopo de trabalho, como marketing, vendas e networking. Embora eles busquem ter uma boa renda fazendo o que gostam, muitas vezes precisam gastar seu tempo em atividades burocráticas e desmotivadoras.
A ascensão dos Prolancers
Uma vez que existe mais demanda por trabalhar com este modelo, se manter como um é muito desafiador. Por isso, tudo indica que o futuro desse mercado é a ascensão de prolancers, que são os freelancers profissionais, ou pessoas que escolhem esse modelo como carreira e se especializar nisso.
Enquanto os ‘freelas’ precisam atrair clientes, planejar projetos e gerir relacionamento com cliente, os prolancers preferem delegar essas atividades para uma empresa parceira, que toca a atração, negociação, e gestão do cliente, além de oferecer apoio com as melhores ferramentas e metodologias, permitindo que foquem nas suas atividades e otimizem o seu tempo, evitando muito estresse e insegurança.
O modelo prolancer une os benefícios do freelancing aos do emprego tradicional, oferecendo autonomia e flexibilidade, mantendo uma certa estabilidade financeira, com um fluxo constante de tarefas e projetos mais longos. Esse ganho de tempo não só se traduz em uma maior produtividade, mas também em um balanço mais saudável entre a vida pessoal e profissão.
E é aí que está a oportunidade. Só assim teremos um espaço para que os profissionais dessa nova era possam completar a transição para um estilo mais compatível com o que buscam. Tudo indica que o futuro do trabalho é ser prolancer.
*João Zanocelo é cofundador e Head de produto da BossaBox, startup que aloca e gerencia squads sob demanda. É responsável pela criação de produtos digitais que transformarão a forma como as empresas implementam suas iniciativas de inovação. Formado em marketing pela ESPM, possui certificados de digital product leadership, pela Tera, e UX research pela Mego User Experience.