O mito do ranking de rentabilidade

02|01|2012

A cada fechamento de mês, trimestre, semestre ou ano, as associações e instituições que trabalham essencialmente com investimento disponibilizam o ranking das melhores aplicações financeiras do período em questão.

No bloco da renda fixa, formado pela caderneta de poupança, pelos diversos títulos do tesouro, fundos DI, CDB’s etc, há pouca ou quase nenhuma novidade. Salvo mudanças muito significativas nas variáveis macroeconômicas, incluo aqui a legislação em vigor, os vagões são dispostos em certa ordem no trilho econômico, que deverá permanecer o mesmo de 01 de janeiro a 31 de dezembro. Note que no bloco da renda fixa, sistematicamente são esquecidas as debêntures. Afinal, sabem o que é uma debênture e têm acesso a elas aqueles que já possuem um certo conhecimento de investimento e também já têm o hábito de investir.

Já no bloco da renda variável, mais sujeito a emoções diárias determinadas pelos humores de investidores e mercados internacionais, vemos que em um período a bolsa é melhor, em outro pior. Em outra fase, o ouro ganha e o dólar perde. Ou então, a forte valorização dos imóveis se sobrepõe a outros investimentos em determinada época. E como em um campeonato, o líder do ranking é muito bajulado e assediado por inúmeros fãs de ocasião.

A regulamentação vigente obriga que os prospectos de produtos financeiros mostrem, além de sua rentabilidade, a seguinte frase: “Rentabilidade Passada Não é Garantia de Rentabilidade Futura”. Isto serve para proteger, ou melhor, alertar o consumidor daquele produto financeiro sobre seu primeiro grande erro na percepção de qualidade do que está adquirindo.

A percepção de qualidade do consumidor financeiro se refere somente, e repito o somente, à rentabilidade passada. Tal percepção foi forjada por anos de altas taxas de inflação, quando se faziam aplicações financeiras escolhendo a melhor rentabilidade diária. Lembro que as alternativas de produto eram poucas àquela época, quando comparamos com os dias atuais. Para corrigir o problema, deve o poupador desenvolver uma perspectiva de rentabilidade futura, ainda que mais qualitativa que quantitativa, ou mesmo a instituição financeira oferecer seus panoramas de curto, médio e longo prazo, para que a tomada de decisão final tenha olhos no futuro e não no passado.

Também não faz parte da percepção de qualidade outros dois importantes ingredientes de uma aplicação financeira: a liquidez e a segurança. Muitos investem em caderneta de poupança e aumentam seus investimentos nela quando ela passa a liderar o ranking de rentabilidade, mas desconhecem os riscos que correm. Muitos se dizem investidores de longo prazo, mas salientam ao gerente do banco que querem poder retirar seu dinheiro a qualquer momento que precisarem.

Rentabilidade que muda muito e liquidez e segurança que oscilam, em conjunto, pouco ou nada devem ajudar a formar a decisão final de investimento. Desta forma, os investimentos passam a ser mais consistentes e a produzirem melhores resultados a despeito das oscilações, rumores e humores.

Mauro Calil é palestrante, educador financeiro e autor do livro “A Receita do Bolo” – www.calilecalil.com.br

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