Por Itali Collini, economista, Investidora Anjo e diretora da Potencia Ventures
O mundo continua enfrentando a crise pós COVID e, de acordo com levantamento do Fórum Econômico Mundial, 63% dos economistas chefes esperam uma recessão global em 2023, puxada principalmente pela Europa, Estados Unidos e América Latina. O Banco Mundial previu um crescimento médio do PIB de 1,7 %, o ritmo mais lento fora das recessões de 2009 e 2020 desde 1993.
No geral, as tendências macroeconômicas podem ter um impacto significativo no investimento de capital de risco, influenciando tanto o nível de atividade quanto os tipos de startups que recebem financiamento. Quando a economia está crescendo e há ampla liquidez no mercado, a atividade de capital de risco tende a aumentar. Isso ocorre porque os investidores estão mais dispostos a assumir riscos e investir em startups de alto potencial e alto crescimento em setores mais relacionados ao consumo, como bens de consumo.
Por outro lado, durante uma recessão, a atividade de capital de risco tende a diminuir, pois os investidores se tornam mais avessos ao risco e procuram investimentos mais seguros e com característica anticíclica, como saúde e educação. Esses setores mais essenciais são também foco de atenção para os investidores de impacto social, pois concentram hiatos de desigualdade que tendem a aumentar, como foi o caso da educação básica no Brasil durante a pandemia. Por exemplo, o IBGE constatou a presença de internet e computador na casa dos estudantes de 15 a 17 anos em 54% dos lares, mas a divisão é extremamente desigual: 91% dos alunos das escolas privadas possuem essa infraestrutura mínima, enquanto apenas 49% dos alunos da rede pública possuem.
Situações de desaceleração econômica tendem a aumentar as desigualdades de renda e emprego, porém podem ser exatamente a oportunidade de repensar a composição do portfólio de investimento para atender necessidades urgentes da base da pirâmide social ao mesmo tempo em que contribuem fortemente para a retomada do crescimento econômico. De quebra, a diversificação através do investimento de impacto pode trazer maior retorno combinado à carteira de ativos. Um estudo de 2020 da Global Impact Investing Network (GIIN) descobriu que 88% dos investidores de impacto relatou retornos financeiros que atenderam ou excederam suas expectativas.
Embora alguns possam ver o investimento de impacto como uma abordagem de nicho, os dados sugerem que, em tempos de incerteza econômica, ele tem o potencial de ser um importante impulsionador do retorno financeiro de longo prazo, juntamente com crescimento econômico e progresso social.