11|10|2011
O Brasil foi o retrato do desbravador, do aventureiro, em sua candidatura para sediar os jogos Olímpicos em 2016, provando que esse negócio de que não poderia ganhar o direito de abrigar tamanho evento era uma lenda. Através de um presidente pop, de uma comitiva exageradamente emocionada e com apresentações louváveis, com um filme do cineasta Fernando Meirelles, esteticamente perfeito, o País implodiu o mito. Entretanto, esse feito não pode ofuscar o nosso senso crítico e que o entusiasmo não entorpeça a realidade do país.
Devo informá-los que sou carioca e desde já insisto que a Olimpíada não pertence ao Rio, mas a todo o Brasil. A vitória é de todos, tal qual as derrotas possíveis. Minha crítica não é destinada só ao Rio, mas ao País, pois, diante das mazelas que permeiam esta nação, sinto-me muito à vontade em adotar postura opositora à celebração do evento. Minhas opiniões são de um cidadãoindignado com as falcatruas relacionadas ao fato.
Hoje, contrariando a Profecia Maia, afirmo que o mundo não vai acabar em 2012, porque viveremos para ver a Copa da Fifa em 2014 e a Olimpíada em 2016, acontecimentos que colocam o Brasil no centro do Planeta. Não é o fim do mundo que se apresenta, mas sim o “fim da picada”. A celebração dos jogos fica por conta dos abusos do governo, que mostra disposição demasiada para realizar os jogos. Quantias estratosféricas que são aprovadas ao bel prazer da CBF e doCOB, entidades que são investigadas por corrupção, coordenadas nada mais nada menos por Ricardo Teixeira e Carlos Arthur Nuzman, respectivamente.
O que eles têm em comum? Não largam o osso de jeito nenhum e são alvo de denúncias constantemente de corrupção. Misture a tudo isso um órgão como a FIFA, que impõe suas ordens e regras ao país, passando por cima da constituição e exigindo adequações do governo e do povo para receber os jogos. Ora bolas, quem é a FIFA para mandar e desmandar aqui, como se fôssemos um bando de trogloditas que necessitamos da caridade da entidade?
Atribuir à Olimpíada a salvação deste país é o que considero sumariamente leviano e, ao mesmo tempo, ingênuo. Defende-se muito o legado do que este mega evento esportivo deixará para o país, o que, infelizmente, baseando-se na história deste país, permanecemos incrédulos, haja vista o que nos proporcionou o Pan-americano de 2007. Dívidas colossais, orçamentos superfaturados e complexos esportivos inutilizáveis.
O complexo Maria Lenk ficou fechado por muito tempo, pouco aproveitado para a realização de competições aquáticas. O estádio João Havelange, apelidado de “Engenhão”, possui pista de corrida que raríssimas vezes é utilizada. O estádio que foi construído com pompas de Olímpico, hoje é usado meramente para sediar jogos do time do Botafogo.
Não podemos falar em Olimpíadas sem um espírito olímpico, algo que opaís não possui, uma vez que falta incentivo emocional e estímulo financeiro aos nossos sofridos atletas. Reflitam, um país sem alicerces educacionais adequados, em que as escolas estão caindo aos pedaços, professores desmotivados e mal pagos, crianças fora das salas de aula, o setor da saúde decadente com inúmeras denúncias de hospitais não equipados e falidos, médicos impossibilitados de prestar seus serviços e pacientes morrendo nos corredores, um estado de sítio em que a violência, a impunidade e a insegurança prevalecem nas cidades, bairros e ruas. Esta é a cruel realidade desta nação.
Antes de sermos campeões olímpicos, deveríamos ser campeões na educação. Como aceitar gastos de aproximadamente R$ 25 a 30 bilhões com uma Olimpíada? Só porque o governo, o COB, o Nuzman, o Paulo Coelho ou o Cielo afirmam taxativamente que o legado que os jogos deixarão mudará a situação do país? A pergunta que não quer e não vai se calar é: legado pra quem, cara-pálida? Pálido somente o povo brasileiro.
Eu, movido pela fé patriótica e que ama este país, sinto-me na obrigação de monitorar, fiscalizar estes gastos e verificar se o dinheiro está sendo devidamente aplicado para construir boas instalações, qualificar nossos atletas e melhorar a qualidade de vida deste povo. Não gostaria que a emergência de ocupar um lugar no mundo fizesse do Brasil um país imediatista e inconsequente. Torço muito pelo sucesso dos jogos, mas dispenso o lisonjeio. Que esta não seja uma Olim-PIADA (de mau gosto).
Breno Rosostolato é psicólogo e professor da FaculdadeSanta Marcelina.