Por Antonio Wrobleski*
Depois de alguns anos bastante desafiadores para o setor de transporte logístico, sinais de virada positiva na economia começam a aparecer no horizonte do segundo semestre, como a queda dos juros e certa flexibilização da oferta de crédito. Uma economia mais dinâmica representa a volta das compras e, com elas, o transporte de cargas. Naturalmente, antes de sair por aí investindo em ampliação de serviços e operações, é uma ótima decisão as empresas arrumarem a casa primeiro e a palavra-chave para isso é eficiência.
O ganho em produtividade e geração de valor pode ser feito de várias formas: aquisição de tecnologias ou equipamentos de última geração, mas também pela mudança da cultura organizacional. Todos os exemplos dão resultados, mas há diferenças entre eles: os dois primeiros casos dependem inteiramente de investimentos. O último até necessita de recursos financeiros, mas tem muito mais a ver com encontrar uma forma permanente de se fazer mais com, basicamente, os mesmos recursos.
Metodologias de produtividade, como o Lean Manufacturing (produção enxuta), se encaixam perfeitamente no propósito de mudança cultural. Criada pela montadora Toyota depois da Segunda Guerra, o sistema Lean rapidamente substituiu o Fordismo como modelo de produção e passou a ser adotado por empresas de todos os países do mundo, em todos os segmentos empresariais.
A filosofia Lean de trabalho consiste em acabar com os desperdícios em todos os setores da empresa, o que se reflete em aumento da produtividade e geração de valor ao produto ou serviço. Tudo é feito para encontrar a melhor forma de atender ao cliente, que é visto como engrenagem fundamental do programa de melhorias.
Por meio do Lean, fluxos organizacionais administrativos e operacionais são redesenhados para melhorar a qualidade dos processos e redução de desperdícios – pois eles geram custos. O envolvimento que começa na alta gestão permeia os demais níveis organizacionais e o primeiro resultado, invisível, é a mudança da cultura organizacional: todos compreendem que são responsáveis pela eliminação de erros e geração de resultados. E os ganhos materializados de eficiência acabam por motivar e reforçar o novo mindset.
No setor logístico, o Lean é um velho conhecido. Um estudo acadêmico da Fundação Dom Cabral revela que, de 145 empresas do setor de transportes logísticos em território nacional, pelo menos 95% delas pretendem adotar o método nos próximos 5 ou 10 anos.
Um dos cases de Lean no setor é o da BBM, que iniciou em junho o seu Programa de Excelência Operacional ancorado nessa filosofia. A Companhia está otimizando processos e operações e promovendo a integração operacional por meio de estratégias de cross-selling e iniciativas de integração das operações de carga fracionada e e-commerce. Atualmente, existem 11 processos operacionais na BBM que vêm sendo redesenhados para ganhar mais eficiência. Mas os resultados já estão aparecendo.
Na área operacional, o Lean foi utilizado em uma unidade de manutenção veicular, junto com os mecânicos. Os 100 pontos de checagem da manutenção consumiam uma hora e 45 minutos em cada veículo. Após três dias de mapeamento, treinamento, adequações e redefinições de fluxo, foi possível reduzir o tempo do checklist para 40 minutos por veículo. Isso representa uma redução de 60% do tempo, além da satisfação dos colaboradores e disponibilidade dos veículos em tempo recorde.
Outro processo redesenhado com sucesso foi na área administrativa. Antes do Lean, o fluxo de envio e recebimento de correspondências era feito por uma empresa terceirizada e tinha um custo anual de R$ 170 mil. Mapeando, analisando e reformulando processos, a BBM decidiu internalizar a operação. Com isso, reduziu o custo em 80%, aumentou a rastreabilidade e zerou os desvios de documentos.
O foco na mudança organizacional está em andamento na Companhia. Recentemente, 250 executivos de alto e médio escalão receberam treinamento da filosofia para aplicar e replicar os conceitos na organização junto aos demais colaboradores.
Independente da estratégia de investimento de cada empresa para ser mais eficiente, a mudança de mentalidade corporativa por meio de ferramentas de produtividade é a que mais está ao alcance de empresas de todos os portes, capitalizadas ou não. Esse conceito vai de encontro a uma conhecida máxima do mundo dos negócios: você pode até não ser o maior, mas pode ser o melhor.
Antonio Wrobleski é presidente da BBM Logística, sócio e conselheiro da Pathfind. Engenheiro com MBA na NYU (New York University) e sócio da Awro Logística e Participações. Ele foi presidente da Ryder no Brasil de 1996 até 2008.